ESTAMOS NAS “TRÊS SEMANAS” – RABINO KALMAN PACKOUZ

294_história_5_1Estamos num período do calendário Judaico conhecido como ‘As Três Semanas’ – o período entre o dia 17 do mês hebraico de Tamuz (11 de julho) e o dia 9 do mês de Av (que se inicia segunda-feira à noite, 31 de julho).


A história é contada que, certa vez, o imperador francês Napoleão Bonaparte (1769-1821) ouviu lamentos e gritos vindos de uma sinagoga. Querendo saber o motivo, vieram lhe informar que aquele era o dia de Tishá BeAv e que os Judeus estavam chorando pela destruição de seu Templo em Jerusalém. “Como eu não ouvi sobre isto? Por que não me informaram? Quando aconteceu?”, perguntou Napoleão. Quando descobriu que o fato ocorrera quase 1.700 anos antes, Napoleão falou: “Uma nação que recorda seu Templo destruído e lamenta tão profundamente e por tanto tempo sua perda, certamente sobreviverá e terá o mérito de tê-lo reconstruído novamente!” Por que os Judeus relembram o Templo de Jerusalém e lamentam a sua perda até os dias de hoje?

Ao conhecermos e entendermos a nossa história, poderemos colocar nossas vidas na devida perspectiva: poderemos entender a nós mesmos, ao nosso povo, nossas metas e nossos valores. Saberemos a direção de nossas vidas, o que queremos conseguir e o que estamos prontos a suportar para atingir o nosso destino. Há uma frase famosa de um filósofo do século XIX que resume bem este conceito: “Se você tem um ‘porquê’ pelo que viver, conseguirá suportar qualquer ‘como’!”

Estamos num período do calendário Judaico conhecido como ‘As Três Semanas’ – o período entre o dia 17 do mês hebraico de Tamuz (terça-feira, 11 de julho) e o dia 9 do mês de Av (que se inicia segunda-feira à noite, 31 de julho). É um período tão desfavorável em toda nossa história, que o Shulchan Aruch, o Código das Leis Judaicas, nos aconselha a adiar processos judiciais e proíbe até a realização de casamentos. Também não cortamos o cabelo, não compramos ou vestimos roupas novas, não ouvimos música nem fazemos viagens por recreação. É um período de introspecção, com pensamentos voltados a corrigir nossos erros ou maus comportamentos na vida. Durante este período, ambos os Templos, em Jerusalém, foram destruídos.

Mas por que lamentamos a perda destes Templos depois de tantos anos? O que eles significaram e significam para nós, habitantes do século 21?

O Templo Sagrado de Jerusalém era o centro focal do Povo Judeu. Três vezes ao ano – em Pessach, Shavuót e Sucót – os Judeus que moravam em Israel e nas vizinhanças vinham orar e celebrar no Templo. Ele nos oferecia uma tremenda oportunidade de nos aproximarmos do Criador, de nos elevarmos espiritualmente. Ele representava o propósito do Povo Judeu na Terra de Israel: ser um Povo sagrado, unido com o Todo-Poderoso em nossa terra, um estado Judaico. Isto é o que ansiamos por recuperar e é por isto que lamentamos e relembramos a perda do que uma vez tivemos.

Cinco calamidades ocorreram no dia 17 de Tamuz:

1) Moshe quebrou as primeiras pedras (não eram ‘Tabuas da Lei’, mas ‘Pedras da Lei’) contendo os 10 Mandamentos, quando desceu do Monte Sinai e viu o povo idolatrando o Bezerro de Ouro; 2) A Oferenda Diária (Corban Tamid) parou de ser realizada no Primeiro Templo; 3) Romperam-se as muralhas de Jerusalém, durante o cerco à cidade, na época do 2º. Templo; 4) Apóstomo, o Perverso, um oficial romano, queimou um Sefer Torá (Rolos da Torá); 5) Um ídolo foi colocado no Santuário do Segundo Templo.

17 de Tamuz é um dia de jejum, e este ano cai na terça-feira, 11 de julho. O jejum começa cerca de 1 hora antes do nascer do sol e se estende até cerca de 1 hora após o por do sol (às 5:32 h da manhã e se encerra às 18:05 h – horários da cidade de S. Paulo). O propósito do jejum é despertarmos nossos corações para o arrependimento, ao relembrarmos os erros de nossos antepassados, que acarretaram tantas tragédias, e nossa repetição dos mesmos erros. O jejum é a preparação para o arrependimento – para quebrar a dominação do corpo sobre o nosso lado espiritual. A pessoa deve se engajar num autoexame e tomar a resolução de corrigir seus erros em suas relações com D’us, com as pessoas que convive e consigo mesma.

O que podemos ler para ganhar mais conhecimento, entendimento e perspectiva sobre quem é o Povo Judeu e sua importância? O primeiro passo com certeza é ler ‘A Lei de Moisés’, a Bíblia. O livro Nineteen Letters, escrito pelo Rabino alemão Samson Raphael Hirsh (http://www.feldheim.com/the-nineteen-letters.html) dará um tremendo entendimento sobre o ‘projeto’ judaico. Para


The Nineteen Letters – Jewish Books – Feldheim Publishers
www.feldheim.com
Writing under the pen name “ben Uziel,” Hirsch presents his original view of Judaism in the form of a fictional correspondence between a young rabbi and philosopher …


mais história, leia The Book of Our Heritage (o Livro de Nossa Herança – www.eichlers.com/book-of-our-heritage-3-volume-gift-boxed-set-hardcover.html), de Eliyahu Kitóv. Também recomendo que visitem o nosso site (


Book of Our Heritage – 3 Volume Gift Boxed Set [Hardcover]
www.eichlers.com
Translator: Bulman, R’ Nachman. This beloved classic, completely revised and annotated for the contemporary reader, explores the holidays, Festivals and fast days of the Jewish calendar and explains their laws and customs. Midrashic commentaries and insig


www.aish.com/holidays). Existem lá muitos artigos (em inglês) bons sobre estes e outros temas de interesse.

Porção Semanal da Torá: Balak – Bamidbár (Números) 22:2 – 25:9

A porção desta semana, Balak, é uma das mais fascinantes e psicologicamente reveladoras porções de toda a Torá! Bilaam, um profeta gentio, tinha um nível de profecia próximo ao de Moshe. O Todo-Poderoso deu a Bilaam todo este poder para que, em algum ponto do futuro, as nações do mundo não pudessem dizer: “Se tivéssemos um profeta como Moshe, nós também teríamos aceitado a Torá e vivido de acordo com ela”. Bilaam é um personagem singular e intrigante – fanático por honras, arrogante e egoísta (infelizmente algo não tão singular na raça humana).

Balak, o rei de Moab, desejou contratar Bilaam para amaldiçoar o Povo Judeu, pagando-lhe uma fortuna em dinheiro. É interessante notar que Balak acreditava em D’us e no poder de amaldiçoar dado por Ele, mas mesmo assim achava que o Todo-Poderoso mudaria sua escolha sobre o Seu Povo Escolhido. Bilaam aceitou com muito grado a tarefa de amaldiçoar os Judeus.

O Todo-Poderoso permitiu que Bilaam viajasse ao reino de Balak, advertindo-o a dizer somente o que Ele lhe ordenasse. O Todo-Poderoso dá a cada um de nós o livre-arbítrio e nos permite irmos na direção que bem quisermos. Três vezes Bilaam tentou nos amaldiçoar e três vezes D’us colocou bênçãos em sua boca. Balak ficou furioso! Bilaam, na esperança de conseguir seu pagamento, dá-lhe então um conselho: “Se V. Alteza deseja destruir o Povo Judeu, seduza seus homens com as mulheres de Moab e diga a elas para não se entregarem até que os Judeus se prostrem a um ídolo”. E assim foi. Balak seguiu o conselho, os homens se deixaram cair no plano de Bilaam e, como consequência, o Todo-Poderoso enviou uma praga sobre o Povo Judeu (onde morreram 24.000 pessoas). Vemos daqui que o Todo-Poderoso odeia a libertinagem e a idolatria.

Dvar Torá: baseado no livro Twerski on Chumash, do Rabino Abraham J. Twerski, M.D.

A Torá declara: “E o Todo-Poderoso disse a Bilaam: ‘Não vá com eles. Não amaldiçoe esta nação porque eles são abençoados’ (Bamidbár (Números) 22:12)”.

Bilaam disse aos mensageiros de Balak: “D’us Se recusa a me deixar ir com vocês”, implicando que ele poderia acompanhar apenas representantes de um nível social mais alto. Como é possível que Bilaam entendeu distorcidamente a mensagem do Todo-Poderoso como se referindo à honra que deveria receber alguém de seu ‘ilustre e distinto status’ ao invés do significado simples das palavras?

Daqui vemos o poder do preconceito de cegar uma pessoa. A própria arrogância de Bilaam o levou a enganar a si próprio sobre o que ele achava ser a intenção do Todo-Poderoso. Estava claro – para qualquer pessoa não tendenciosa – que o Todo-Poderoso não queria que Bilaam amaldiçoasse o Povo Judeu. Todavia, há pessoas que ouvem apenas o que querem ouvir.

Todos precisamos perceber que também temos preconceitos e ouvidos seletivos. Ao ficarmos conscientes de nossas propensões, esperançosamente evitaremos erros custosos e embaraçosos. Uma boa sugestão: ao conversarmos sobre o assunto com um amigo, podemos nos proteger ainda mais de nossas parcialidades!


Pensamento:“O correto a se fazer não é amaldiçoar o inimigo,mas sim rezar para que ele se torne seu amigo”. – Rabino Eliezer Gordon Z”TL (Lituânia, 1841-1910), Diretor da Yeshivá de Telshe


RABINO KALMAN PACKOUZ – Do Aish Hatorá, é o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.

NOTA:- Desejando contribuir para o Meor Hashabat acesse o www.aishdonate.com – Email – meor18@hotmail.com

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