LIVROS: DE LEÃO ZAGURY, LUIZ KIGNEL E PAULO ROSENBAUM
“É ASSIM QUE EU CONTO” DE LEÃO ZAGURY
“A MORTE NÃO TOCA VIOLINO” DE LUIZ KIGNEL
“A PELE QUE NOS DIVIDE: DIÁFORAS CONTINENTAIS” DE PAULO ROSENBAUM
“É ASSIM QUE EU CONTO” DE LEÃO ZAGURY
É assim que eu conto é um livro sobre crescer e não esquecer. Um compilado de histórias que tecemos ao longo da vida em meio às diferenças. As lembranças de um Zagury que é ora inventor, ora protagonista. É como uma saudade bucólica, um final de tarde perto do rio Amazonas que banha Macapá, cidade de muitas personagens, repleta de memórias e nomes, pluralidade esta que pulsa na escrita do autor. As reminiscências de um garoto judeu mapeiam gente de vários tipos, crenças e diferenças em um norte do país repleto de singularidades, fala mansa, premonições, medos, casos de família. A obra é um recorte sobre a infância e seus deleites, as pessoas que perdemos, o preço da amizade, as invenções gastronômicas do Amapá, o crescer em meio às diferenças, a importância que o médico deve dar à relação com seu paciente. O leitor é transportado entre as lembranças do tio, contador de histórias, e a vida médica de Zagury com a mesma intensidade que o autor descreve a perda do pai. Leão Zagury vai da época de empinar pipas e tomar a cidade como um ato de rebelião sem causa à delicadeza de um grande inventor de histórias. Cada história é uma pausa num tempo que parece dobrar a esquina, tão presente e ainda tão vivo, com uma narrativa imagética tão próxima que parece que estamos a espiar pela fechadura.
“Minha trajetória foi marcada por uma sucessão de histórias que contei para amigos. Provoquei risos e lágrimas. Resolvi fazer parecer mentiras as verdades que vivi”, diz Leão Zagury.
Sobre o autor
Leão Zagury é judeu e médico endocrinologista. Presidiu a Academia de Medicina do Rio de Janeiro e foi fundador e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. Cidadão carioca e amapaense, é autor de “Diabetes sem medo”, “O menino e o macaco Caco” e “O jacaré que comeu a noite”. Conquistou o 1º lugar no concurso de poesias e 2º no de contos da Academia Brasileira de Médicos Escritores em 2016.
“A MORTE NÃO TOCA VIOLINO” DE LUIZ KIGNEL
Mistério com doses de realidade no novo romance policial de Luiz KigneL
Thomas Lengik é um advogado mediano, recém-casado e pai de dois filhos, que luta para pagar as contas no final do mês e que terá que desvendar uma série de mortes em um projeto cultural chamado Música Clássica Também é Para você. Nesse segundo livro, tudo começa com um conflito aparentemente irrelevante: música clássica – uma apresentação na Sala São Paulo – ou música popular – um show de João Gilberto? Lengik convence sua mulher de que devem ir à orquestra, afinal, trata-se do lançamento de um projeto de difusão cultural comandado por uma grande amiga, que trabalha no gabinete do governador do Estado.
Nada, no entanto, ocorre de acordo com o planejado.
Em A morte tudo resolve, romance de estreia de Luiz Kignel, acompanhamos Thomas Lengik em seu primeiro grande caso. Nesse segundo livro da série policial passeamos por uma São Paulo sofisticada, culta e elegante, mas pouco sincera, onde as mortes sempre envolvem um enigma que precisa ser decifrado rapidamente e sem chamar a atenção da mídia.
“A Morte Não Toca Violino” conta novas desventuras de Thomas Lengik (o sobrenome do autor ao contrário). Política, música, detalhes: tudo precisa entrar na conta de Lengik. Mas ele não vai fugir desse novo desafio. A dose de realidade fica por conta de Nathan Schwartzman, 88 anos, violinista renomado e sogro do autor que inspira um dos personagens da história como forma de homenagem.
E tem mais, o terceiro livro da trilogia já está sendo escrito e ganhará o nome “A Morte Nasceu Para Todos.” E assim como os dois primeiros, Kignel avisa: “não conterá cenas de violência, apenas mistério.”
Sobre o autor:
Luiz Kignel é advogado, especializado em sucessão familiar. É sócio do escritório Pompeu, Longo e Kignel Advogados e autor dos livros jurídicos Os negócios e o Direito: sobrevivência legal no Brasil, Patrimônio e sucessão: defendendo os herdeiros e os negócios e Planejamento sucessório: aspectos familiares, societários e tributários. Este é seu segundo romance policial, série que começou com A morte tudo resolve (Alameda, 2012).
“A PELE QUE NOS DIVIDE: DIÁFORAS CONTINENTAIS” DE PAULO ROSENBAUM
“Ser poeta significa presidir como juiz a si mesmo” – Henrik Ibsen
A Quixote+Do Editoras Associadas, editora mineira em atividade desde Março de 2017, lança “A pele que nos divide: diáforas continentais”, novo livro do poeta e romancista Paulo Rosenbaum. O livro reúne poemas que para Lyslei Nascimento, professora de Literatura Comparada e Teoria da Literatura na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, ecoam a célebre lição de Carlos Drummond de Andrade: “penetre surdamente no reino das palavras, elide sujeito e objeto, chegue mais perto e contemple as palavras: ei-las impregnadas de múltiplos sentidos, em estado de dicionário”.
Para Nascimento, esse estado de dicionário da poesia de Paulo Rosenbaum traduz-se em “impensáveis palavras”, “levas de assombros”, “papéis pisados”, numa lírica tensão entre o que é exato e múltiplo simultaneamente. Para Wander Melo Miranda, que apresenta o livro, “este livro se afasta da orientação dominante na poesia brasileira contemporânea, apegada em geral ao que se poderia chamar de “trivial e corriqueiro” e “por isso o livro é uma espécie de Muro das Lamentações – “descontínua diáspora/livro de bilhetes” (“Ode ao Muro”) – que se ergue como testamento e presságio, conforto e desolação, linguagem e silêncio: palavra tornada coisa em si mesma”.
O conjunto de poemas aqui reunidos surge no momento apropriado, depois de Rosenbaum se firmar como romancista. “Diáforas continentais convida o leitor a experimentar o poder redentor das palavras, capazes de se perguntar sobre a realidade e, ao mesmo tempo, de promover um salto para o maravilhoso e o onírico – ou mesmo para o trágico” escreveu Fernando Paixão no prefácio. E para Nelson Archer, que assina o posfácio do livro, os poemas reunidos em “A Pele que nos divide” configuram-se como metapoesia crítica é , moderna e arcaica ao mesmo tempo, pois diz de sua própria condição judaica. O que Rosenbaum nos oferece neste livro é o proverbial sétimo dia da criação, aquele dia no qual nos dedicamos ao repouso dos músculos, mas não da mente: o shabbat perpétuo da poesia”.
Em mais um momento crítico da história, no qual surtos xenofóbicos e espasmos de truculência disfarçados de solução aparecem ao redor do mundo, um livro de poesias parece deslocado e rigorosamente desnecessário. Pois esta costuma ser a marca da resistência. Todo poema é um instantâneo que não se deixa abater pelo útil nem submeter-se ao necessário. Contra o vendaval de coisas passageiras, a poesia permanece. Afinal, ela é o registro de toda nossa invisibilidade.
Sobre o autor
Paulo Rosenbaum é poeta e romancista e escreve para o Estadão (blog Conto de Notícia). Médico, pós-doutor em Ciências, é autor de A verdade lançada ao solo (Record, 2010) e Céu Subterrâneo (Perspectiva,2016).