A CONSCIÊNCIA E O HOLOCAUSTO – POR MARCELO CRIVELLA, PREFEITO DO RIO DE JANEIRO

315_ESPECIAL_2_1Ao construirmos o memorial às vítimas do Holocausto, reafirmamos nossa fé no ressurgir dos injustiçados e perseguidos, na permanente vitória do bem contra o mal, no florescer do deserto.


315_ESPECIAL_2_2“O memorial se tornará ponto de reflexão para todos os cidadãos que defendem a vida e amam a paz”

Deus, ao criar o homem, deu-lhe a responsabilidade de construir a paz. Jesus ensinou: “bem-aventurados os pacificadores”. Construir no coração dos homens a paz é relembrar constantemente que devemos denunciar e superar a intolerância, a truculência, a violência e o ódio, para prevalecer no mundo a justiça, a liberdade e os direitos sagrados da pessoa humana. Com o memorial às vítimas do Holocausto, a cidade do Rio fará isso prestando reverente e solene homenagem a um povo escolhido para o extermínio e que estava na primeira fila do ódio do “Führer”.

O memorial se tornará um ponto de reflexão para todos os cidadãos que defendem a vida e amam a paz. Será uma eloquente denúncia de que a cruz ariana foi o sinal oposto ao da cruz dos cristãos e da estrela de Davi. Todos se lembram de quando o maior demagogo da História capitalizou as angústias de uma crise econômica para envenenar o povo alemão com as quimeras da vingança, levando-o à mais brutal marcha da insanidade.

É preciso relembrar, por mais doloroso que seja, a ação daqueles que, se considerando raça superior, perverteram e enlouqueceram as massas, para cometer o mais odioso dos crimes: o genocídio da guerra e do racismo.

No Memorial, vamos relembrar a bravura dos inocentes na revolta no gueto de Varsóvia. Eram famílias inteiras, inocentes, que como Davi diante do Golias, só tinham uma funda para se defender. É preciso compreender que hoje há no mundo outros guetos e outras “Varsóvias”, e não faltam os que ostentam as suas armas contra os indefesos, tal como naquela inesquecível imagem fotográfica, produzida na oprobriosa “Praça do Embarque”, de onde partiam os judeus para o extermínio.

Refiro-me à foto daquele menino de cinco anos com as mãos levantadas e sob a mira do fuzil de um soldado nazista. Seu olhar. Sua roupa maltrapilha. Terá ele sobrevivido à loucura do mundo em que viveu? Qualquer que tenha sido o seu destino, o seu gesto nunca morrerá. Aquela imagem será sempre um grão de remorso na consciência do mundo. Será sempre uma lágrima sentida, a correr dos olhos dos que, ao menos por um átimo de tempo, sentirem o que sentiram os irmãos, os pais, a família daquele pequenino.

O memorial há de evocar perpetuamente a força da sobrevivência, do ressurgir das cinzas, a vitória sobre as piras ensanguentadas do Holocausto, em Terezim, Treblinka, Auschwitz-Birkenau, Lodz e Sachsenhausen.

Quando leio declarações contra a construção do memorial, lembro-me daquele menino, da sua perplexidade, impotente diante daquela agressão estúpida e covarde. Um emblema da incompreensão dos inocentes diante do ódio das mentes possessas pelo preconceito e prepotência.

Ao construirmos o memorial às vítimas do Holocausto, reafirmamos nossa fé no ressurgir dos injustiçados e perseguidos, na permanente vitória do bem contra o mal, no florescer do deserto. O memorial será como uma torre de vigia na consciência dos que o visitarem e deixará consignado esse permanente alerta: não se pode descuidar do passado, ele sempre volta quando nos falta vigilância.

Nota – Matéria publicada no O Globo/Opinião


Saiba mais

O termo autorizando o uso da área no Morro do Pasmado em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, para a construção do Memorial do Holocausto, foi assinado pelo prefeito Marcelo Crivella dia 22 de abril, no Clube Israelita Adolph Bloch, na Barra da Tijuca, durante as comemorações do “Yom Haatzmaut”.

A área foi cedida à Associação Cultural Memorial do Holocausto, responsável pela captação de recursos da iniciativa privada para execução do projeto, que é de autoria do arquiteto André Orioli, vencedor do concurso promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) em parceria com a Prefeitura.

“A cessão do terreno é um passo fundamental para tornarmos esse sonho uma realidade. Há 25 anos, desde a ideia do Memorial, aguardamos para tirar do papel esse projeto que resgata uma história e serve de alerta e reflexão paras as próximas gerações”, disse na ocasião Arnon Velmovitsky, presidente da Associação Cultural Memorial do Holocausto.

O local contará com rampas de acesso, área para solenidades, galeria circular com três divisões, espaço de mídias digitais, auditório para 130 pessoas, copa, administração e sala de reuniões.

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