0 PODER DE UMA PALAVRA – RABINA FERNANDA TOMCHINSKY-GALANTERNIK

319_história_3_1Nossas palavras têm força, força também de ajudar, de consolar e de alegrar. Nós temos que saber medi-las, inclusive quando a mensagem é de crítica. Que seja feita de forma amorosa e construtiva.


319_história_3_2Estamos nos preparando para entrar finalmente na Terra Prometida. Depois de um pequeno percurso e o recebimento da Torá, o povo está pronto para entrar na terra e viver uma vida nova, em liberdade. Porém, sabemos que não é isso que acontece. O povo precisará passar 40 anos no deserto até finalmente poder concretizar a entrada em Eretz Israel. Essa sentença acontece nesta parashá.

Deus diz a Moshé que ele pode enviar homens para verem a terra, os famosos “espiões”. O texto diz shlach lechá – envie para você – o que o midrash entende como uma concessão particular a Moshé para apaziguar seu próprio animo e o do povo, e não como algo que deveria acontecer a priori, já que a promessa já envolvia a descrição de uma terra boa. Um de cada tribo vai até a terra de Israel e todos voltam confirmando que realmente a terra era boa e tudo aquilo que Deus havia prometido era certo.

Havia um porém: a terra estava repleta de gigantes, e dez dos 12 enviados afirmam veementemente que não conseguirão vencê-los. O povo entra em desespero.

A punição divina para essa falta de crença é o longo período no deserto, no qual toda a geração de escravos que saiu do Egito deveria morrer e somente uma geração que já nasceu livre, sob as regras da Torá, poderia entrar. Talvez “punição” não seja a melhor palavra, já que possivelmente a geração saída do Egito teria realmente muita dificuldade em administrar uma vida como povo soberano. Podemos inclusive chamar de “sorte” termos descoberto isso antes de entrar, já que as consequências poderiam ter sido muito piores se os eventos tivessem sido diferentes.

O questionamento existente é se talvez a punição de morrer no deserto seja justa, depois de todo o sofrimento no Egito e a coragem de realmente sair quando o momento chegar e de atravessar o mar. Talvez essas pessoas esperavam ao menos ver com os seus próprios olhos a Terra tão ansiada.

“E todos os filhos de Israel queixaram-se contra Moshé e contra Aaron…Tomara tivéssemos morrido na terra do Egito! Tomara tivéssemos morrido neste deserto! Por que razão o Eterno nos traz a esta terra para cairmos à espada… “

O midrash interpreta essa passagem como um pedido real do povo: morrer no deserto. Faz a analogia com um réu que se apresenta no tribunal e diz que prefere receber a punição a ter que passar pelo julgamento. Assim, Deus entende que o povo realmente quer o que diz. Existem outras passagens nas quais o povo reclama ter saído do Egito, que preferiria voltar ou nunca ter saído. Aparentemente Deus decide o que realmente vai acontecer.

Nos leva a pensar nas palavras que dizemos no calor das situações e sem pensar. O quanto não ferimos aos outros e a nós mesmos ao respondermos de maneira impulsiva. Pirkei Avot diz que o herói é aquele que controla seus impulsos. Dizem que as palavras são mais perigosas do que uma espada, porque o alcance delas é muito maior. No dia a dia nos vemos em situações nas quais uma resposta impulsiva poderia destruir anos de relação ou de trabalho. As palavras têm um impulso próprio inigualável: não voltam atrás.

Nossas palavras têm força, força também de ajudar, de consolar e de alegrar. Nós temos que saber medi-las, inclusive quando a mensagem é de crítica. Que seja feita de forma amorosa e construtiva.

Devemos reconhecer que temos um poder incrível. Temos que saber usá-lo e controlá-lo para garantir uma convivência construtiva na sociedade e entrarmos, dia a dia, na nossa Terra Prometida.

Shalom.


Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik – CIP

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