RABINO MICHEL SCHLESINGER PROPÕE DIÁLOGO ENTRE RELIGIÕES EM LIVRO

RABINO MICHEL SCHLESINGERRabino Michel Schlesinger, autor do livro ‘Dialogos de um Rabino’. Foto: Daniel Teixeira/Estadão.

Conflito de ideias sem confronto entre os interlocutores é para o rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista (CIP) e representante da Conib para o Diálogo Inter-religioso, o segredo do bom entendimento na diversidade, diz o texto assinado por José Maria Mayrink no Estado de São Paulo. Judeus podem e devem se dar bem com cristãos, muçulmanos e seguidores de outras crenças, os budistas, por exemplo, sem prejuízo das convicções de cada um. Essa tese, vivida na prática do dia a dia, é a chave de Diálogos de um Rabino, ou Reflexões para um Mundo de Monólogos, como diz o subtítulo do livro, lançado pela Annablume Editora.

São 38 capítulos com a transcrição de prédicas de Schlesinger feitas na sinagoga para sua comunidade. Endereçadas aos judeus, estendem-se a toda a sociedade, pois tratam de temas não só brasileiros, mas universais. Religiosidade, ética, justiça, direitos, filosofia, teologia, psicologia, literatura, história, santidade, tudo sob a óptica judaica, mas abrindo-se em um leque amplo e generoso que abriga outras religiões e ideologias leigas. Deus aparece em cada página, mesmo que sua presença se faça sentir só pelo sopro de uma brisa, como nos livros da Torá, o Pentateuco da Lei de Moisés.

Como é tradição na pedagogia dos rabinos, Schlesinger conta histórias, anedotas e pequenas parábolas para fazer ouvintes e leitores compreenderem bem os seus diálogos ou monólogos. Como o público é primordialmente judeu, ele usa com frequência palavras e sentenças em hebraico, que no livro são traduzidas e explicadas à margem do texto. Identifica também, no tempo e nas correntes ideológicas, alguns sábios do judaísmo citados ao longo dos capítulos.

Diálogo e respeito à diversidade de opiniões são preocupação constante. Como povo eleito, observa o rabino da CIP, os filhos de Israel não são superiores a outras nações. “O não judeu é para nós um ser humano de igual importância com crenças diferentes. Para nós existe um único Deus, mas há diversos caminhos legítimos para se chegar até Ele”, ensina Schlesinger.

“Diálogos de um Rabino parte de uma perspectiva judaica. No entanto, a partir dela, pretende conversar com desafios essencialmente humanos e, portanto, universais”, diz Schlesinger. Ao refletir sobre o diálogo consigo mesmo, ao longo dos capítulos que falam do diálogo com Deus, com o mundo, com nossos pais, com o próximo e do diálogo “com o outro que vive em mim”, o rabino alerta sua comunidade com um conselho surpreendente. “Penso que todo judeu deveria se converter ao judaísmo. Recomendo que judeus se apropriem de sua identidade com responsabilidade”. Ou seja, que o Povo Eleito não se esqueça de seu pacto com Deus, da aliança dos Filhos de Israel que foram escolhidos porque antes aceitaram a Torá. O conselho vale tanto para os religiosos como para os não praticantes.

Os judeus são cerca de 120 mil no Brasil, 50% deles em São Paulo. Mais de 600 pessoas participaram do lançamento do livro na sinagoga. Um debate entre Schlesinger e o professor Mario Sergio Cortella, filósofo e escritor de formação católica, abriu o evento, com uma discussão em torno dos temas abordados pelo rabino em suas prédicas. Autor do prefácio do livro, Cortella salientou os valores que aproximam judeus, cristãos e muçulmanos, apesar das diferenças que marcam as três religiões monoteístas. Ao prefácio do filósofo soma-se um texto do cardeal arcebispo de São Paulo, d. Odilo Pedro Scherer. Não surpreende essa colaboração tão próxima, pois Schlesinger é também o representante da Confederação Israelita do Brasil (Conib) para o Diálogo Inter-Religioso. Sucessor do rabino Henry Sobel na CIP, ele tem 41 anos de idade e 13 de rabinato. Casado com a antropóloga Julliana Portenoy, Schlesinger é pai de duas filhas, Tamar e Naomi.

Fonte: José Maria Mayrink , O Estado de S. Paulo, 28 Julho 2018

20
20