COSTUMES OU OBRIGAÇÕES – RAV EFRAIM BIRBOJM

323_história_3_1“Em todas as noites de Shabat, quando voltamos da sinagoga, temos o costume de, antes mesmo de iniciarmos o jantar, cantarmos duas músicas: “Shalom Aleichem”, para dar boas-vindas e pedir Brachót aos anjos que nos acompanharam da sinagoga até em casa, e “Eshet Chail”, um louvor às mulheres, cujo esforço permite que tenhamos uma casa preparada para honrar a vinda do Shabat. Porém, o grande rabino Israel Meir HaCohen (Bielorrússia, 1838 – Polônia, 1933), mais conhecido com Chafetz Chaim, tinha um belo costume em sua casa. Ele primeiro fazia o Kidush, seguido da Brachá do pão, deixava que os convidados comessem um pouco e somente depois disso cantava as duas músicas. Por que ele fazia desta maneira? Em respeito aos convidados, que provavelmente estavam com muita fome. Por ser uma incrível demonstração de sensibilidade e respeito ao próximo, este costume acabou se espalhando e foi adotado por muitas pessoas.

Muitos anos haviam se passado desde que o Chafet Chaim havia instituído aquele costume. Também em uma noite de Shabat, Yaacov, um aluno muito pobre da Yeshivá, foi convidado pela primeira vez na casa de Moishe, um dos homens mais ricos da cidade. Yaacov estava faminto, pois durante toda a sexta-feira não havia comido nada. Estava sonhando com o jantar de Shabat e as iguarias que iria provar na casa daquele homem rico. Quando finalmente a reza de Arvit terminou na sinagoga, ele mal podia esperar por um prato quente de comida. Porém, antes de começar o jantar, para o seu total desespero, o dono da casa passou 45 minutos conversando sobre coisas sem importância com outros convidados. Enquanto isso, Yaacov sofria, com seu estômago que roncava e doía de fome. Quando finalmente sentaram-se na mesa, Moishe anunciou com alegria:

– Nesta casa nós seguimos o costume do grande rabino Chafetz Chaim e, por isso, nós não cantamos as músicas “Shalom Aleichem” e “Eshet Chail”. Podemos ir direto para o Kidush…”

Esta história, que parece uma piada, infelizmente é real. O dono da casa achou que estava fazendo o correto ao seguir um antigo costume. Porém, ele havia se esquecido do mais importante. O motivo pelo qual o Chafetz Chaim havia instituído aquele costume era em respeito aos convidados, pois ele não queria que pessoas famintas tivessem que aguardar ainda mais alguns minutos antes de começarem a comer. Porém, no caso de Moishe, ao ignorar seu convidado faminto por mais de 45 minutos, enquanto conversava sobre futilidades, ele demonstrou que não havia internalizado o verdadeiro motivo que estava por trás daquele belo costume, que era desenvolver a sensibilidade pelo próximo. Havia restado apenas a parte externa de um costume completamente vazio de conteúdo.


RAV EFRAIM BIRBOJM – Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP, começou seu processo de Teshuvá (retorno ao judaísmo) aos 25 anos, através da Instituição “Binyan Olam”. Saiba mais.

Email: efraimbirbojm@gmail.com

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