OMNISCIÊNCIA, ONIPOTÊNCIA E LIVRE ARBÍTRIO. – POR MENDY TAL

337_especial_3_1Desde há muito, o livre arbítrio em face da onipotência e omnisciência  de Deus intriga o nosso povo.

A Torá nos dá inúmeros exemplos dos dois caminhos.

”Hoje  invoco o Céu e a Terra como testemunhas de que coloquei diante de vocês a vida e a morte, abençoando e amaldiçoando. Escolham a vida – se vocês e a suas descendências viverem amando Adonai, o seu Deus, atendendo aos Seus mandamentos e se apegando a Ele, Ele lhes dará muitos anos na terra que jurou dar aos seus antepassados, Abraham, Itzchak e Iaakov”. (Deuteronômio 30: 19-20).

Esta é uma das máximas de quase todos que advogam o livre arbítrio no judaísmo.

Entretanto, a estrutura bíblica afirma que Adonai endureceu o coração do Faraó, fazendo com que os humanos acabassem representando esse plano em algo como figurantes. Este é um exemplo explícito de Adonai como omnisciente e onipotente.

Esta incongruência já era uma grande questão na Idade Média , quando filósofos medievais lutaram com a forma de reconciliar a providência divina – conhecida como “hashgahah” – com a escolha humana.

Também, à medida que mais e mais de nossas personalidades – e as eventualidades que elas implicam – são descobertas ou consideradas orgânicas, o significado e a possibilidade da escolha humana diminuem.

Tem sido um esforço consistente do pensamento judaico que Deus, em um nível além e separado da escolha humana individual, continue a guiar o destino do povo judeu. É difícil explicar como um povo que se separou de sua pátria por milhares de anos e que foi perseguido nas terras de sua dispersão poderia ter sobrevivido.

Como judeu de hoje e incontáveis judeus de outrora, temos dificuldade para escolher uma ou outra visão desta contradição.

Acredito que nossa mitzvá de estudar profundamente a Torá nos sugere a discussão deste grande paradoxo.

Maimônides e todos os sábios judeus  procuram até hoje esta resposta.

Tudo é profundamente fascinante, principalmente porque o judaísmo tem uma frase lapidar que diz que “Ambos os lados de qualquer divergência geralmente estão certos à sua maneira”.


MENDY TAL – Cientista político e ativista comunitário

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