HISTÓRIAS E RECEITAS DE SULAMITA TABACOF ESTÃO NO LIVRO “BEABÁ DA BESSARÁBIA À BAHIA”
“A obra é uma grande viagem através dos tempos, de mundos tão diversos, de religiões e seus sincretismos, das mestiçagens, das vivências de uma sábia mulher que caminha cheia de juventude para o centenário”.
O que seria inicialmente apenas um caderno de receitas a ser entregue por Sulamita Tabacof às filhas e netas a fim de perpetuar a culinária da sua mãe, originária da antiga Bessarábia, atual Moldávia, ganhou a forma de livro e vem compor as edições comemorativas dos 40 anos da Editora Corrupio.
Lançada em São Paulo na Biblioteca Mario de Andrade, a obra foi apresentada por Yona G. Davidson com leitura de textos feita pela atriz Marisa Orth e Natalia Barros, e tem como linha condutora as lembranças afetivas da autora. É também um caderno de receitas que documenta as tradições percorridas por quatro gerações. É história, é memória, é aroma, é imagem. É uma aula sobre judaísmo, sobre nomadismo, sobre religião e sobre baianidades. Tem influência negra, tem o tempero do candomblé, tem riqueza literária para além do banquete culinário lindamente retratado em suas páginas. Tem confissões de Caetano Veloso, ilustre ex-aluno de Sulamita que, na contracapa do volume, declara:
“Quando me mudei para Salvador, em 1960 (ano em que ia completar 18), encontrei no Colégio Estadual Severino Vieira um grupo de professores que iluminaram muitos dos caminhos que, depois, pude trilhar. Sulamita também me enriqueceu a consciência sobre o projeto comunista, de que eu já tinha conhecimento, dado o interesse de meu pai – assim como de familiares e amigos – e me levou a ler o romance Spartacus. Em pouco tempo eu estava lendo as Reflexões sobre a questão judaica, de Sartre. Agora, quando poderes oficiais ofendem os professores e a Educação, lembrar Sulamita é acender um raio de luz dentro de mim.”
Sulamita Tabacof, hoje presidente de Honra da WIZO São Paulo, é neta de imigrantes que aportaram na Bahia trazendo na mala as tradições culinárias e o forte vínculo familiar que se constrói em torno de uma mesa sempre farta. No cotidiano trivial dessa família cabe bem a gastronomia judaica e a baiana, numa mescla que, como diz Paloma Jorge Amado no texto de apresentação da obra, “é uma grande viagem através dos tempos, de mundos tão diversos, de religiões e seus sincretismos, das mestiçagens, das vivências de uma sábia mulher que caminha cheia de juventude para o centenário”.