O QUE É A VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE? – RABINO KALMAN PACKOUZ

343_história_1_1O mais fascinante é que a maioria das pessoas associa espiritualidade com emoção, bondade, solidão, natureza e serenidade… e o Povo Judeu com intelecto, justiça, comunidade, D’us e desafios.


O que é a verdadeira espiritualidade? Meu querido amigo, o Rabino Avraham Goldhar, que desenvolveu uma abordagem revolucionária para ajudar crianças a irem melhor na escola, propôs o seguinte modelo de atributos para esclarecer nossa definição de espiritualidade. Coloque um “X” em um atributo de cada par que você considerar ser mais espiritual:

Emoção ( ) ………………………..Intelecto ( )

Bondade ( ) …………………………. Justiça ( )

Comunidade ( ) ……………………. Solidão ( )

D’us ( ) ……………………………. Natureza ( )

Serenidade ( ) ……………………. Desafios ( )

Agora, se quiser tentar algo realmente interessante, coloque um “X” em cada atributo que você associa ao Povo Judeu.

O mais fascinante é que a maioria das pessoas associa espiritualidade com emoção, bondade, solidão, natureza e serenidade… e o Povo Judeu com intelecto, justiça, comunidade, D’us e desafios. A razão é que temos uma noção oriental de espiritualidade, a de uma felicidade espiritual conectada ao universo. A abordagem Judaica de espiritualidade é baseada no propósito de aprimorarmos o mundo (tikun olám, em hebraico), algo que exige intelecto, justiça, comunidade, D’us e desafios.

Para o Judaísmo, o intelecto deve ser direcionado em termos emocionais, mas a emoção não deve dominar e controlar a vida da pessoa: precisamos tomar decisões baseadas no intelecto.

A justiça cuida para que o mundo seja um local onde a bondade prevaleça. Uma sociedade deve estar desejosa de identificar o que é certo e errado e opor-se claramente ao mal. Caso contrário, alguém pode tentar fazer um ato de bondade e acabar causando coisas ruins e perversas.

A comunidade nos provê com um entendimento de quem somos – membros de um povo: mesmo ao estarmos sozinhos, ainda somos parte de algo maior.

Compreender que existe um Criador e ter um relacionamento com Ele torna o natural algo muito mais profundo. Este mundo é uma realidade coberta por um véu, e o Criador está por trás dele.

As pessoas só conseguem desfrutar de serenidade quando conquistam um determinado patamar de desafios. Se não, a busca pela serenidade torna as pessoas atormentadas por não conseguirem atingir o seu próprio potencial ou as expectativas que estabeleceram para si.

Há alguns anos uma moça judia fez uma escala em Israel em sua viagem para a Índia, à procura de espiritualidade. Seus amigos lhe sugeriram que fosse até um seminário chamado Nevê Yerushalaim, em Jerusalém, assistir uma aula e dar ao Judaísmo uma última chance antes de procurar outros caminhos. O grupo em que entrou estava estudando as leis da Torá que tratam sobre a devolução de objetos perdidos: a partir de quando um item é considerado perdido, o que ocorre se o dono não tem mais esperanças de recuperar o que perdeu, o que constitui um sinal de identificação legítimo para o dono reivindicar o objeto como sendo seu, quanto esforço e dinheiro devem ser investidos para se devolver um objeto encontrado, etc. A moça ficou furiosa: isto seguramente NÃO era espiritualidade. Saiu indignada e seguiu para a Índia.

Seis meses depois, ela e seu guru estavam caminhando pelo vilarejo, discutindo um assunto filosófico. Encontraram uma carteira cheia de rúpias (o dinheiro indiano). O guru apanhou o dinheiro, colocou-o em seu bolso e continuou a discorrer sobre o ponto em que estavam. A moça o interrompeu e perguntou: “O senhor não vai verificar se há alguma identificação na carteira para devolvê-la?” O guru respondeu: “Não. É o carma da pessoa que a perdeu e é o meu carma que a encontrei. Portanto, é minha”. A moça rogou: “Mas o dono pode ter uma família numerosa e este pode ser o seu salário do mês… eles podem passar fome se o senhor não devolver o dinheiro”. O guru respondeu: “Este é o carma deles”.

A jovem então se lembrou da aula que tivera em Jerusalém – e percebeu que espiritualidade sem justiça, bondade e preocupação pelos demais é apenas uma emoção espiritual falsa e corrupta. Ela voltou para Jerusalém e no final retornou à sua herança espiritual, a Torá.

A Torá nos equipa com uma verdadeira percepção sobre espiritualidade. Em seu início ela relata um episódio em que o Todo-Poderoso apareceu para Avraham no terceiro dia após o seu Brit Milá (circuncisão). Em meio à conversa, Avraham viu três homens se aproximando e quis oferecer sua hospitalidade. Ele falou ao Todo-Poderoso: “D’us, se o Senhor gosta de mim, por favor me aguarde”. Será mesmo que Avraham estava pedindo ao Todo-Poderoso que ‘ficasse na linha’ enquanto cuidava de três simples mortais? Como é possível? O que pode haver de mais espiritual do que falar com D’us?

A resposta está no Talmud (Shevuot 35b e Shabat 127a): “Oferecer hospitalidade aos viajantes é mais grandioso do que receber a Presença Divina” – é melhor ser como D’us do que conversar com D’us! É melhor aceitar responsabilidades pelo mundo e seus habitantes do que conversar com D’us. Isto é a verdadeira espiritualidade: agir de forma similar a D’us.

Por isto é que as pessoas precisam de inteligência, justiça, comunidade, D’us e desafios ao desejarem atingir uma genuína espiritualidade!


Pensamento:“Se deseja felicidade, não procure felicidade. Procure significado!”


RABINO KALMAN PACKOUZ – Do Aish Hatorá, é o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.

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