A HISTÓRIA DOS JUDEUS EM NITERÓI – POR ROSÂNGELA TROLLES

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Escritora e jornalista


 

Prestamistas, comerciantes e doutores – uma história dos judeus em Niterói

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Fruto de uma tese de doutorado elaborada durante quatro anos, o título em questão é o mais recente livro sobre o tema judaísmo, lançado pela editora Garamond, 476p. O levantamento investiga a formação de uma comunidade em Niterói entre 1910 e 1980. Sua autora, Andrea Telo da Corte, uma não judia, definiu o trabalho entre entrevistas, estudo de documentos e publicações como esgotante. O resultado é uma nova referência para a memória da imigração judaica.

Originários da Polônia, Rússia, România, Bessarábia, em sua maioria, os imigrantes judeus iniciaram atividade econômica como clientelchiks ou prestamistas, vendedores ambulantes de mercadorias como joias, relógios, roupas etc. sob prestações . Mais tarde, se estabeleceram no comércio em lojas de móveis, imobiliárias, construtoras etc., e se dedicaram a dar uma educação universitária aos seus filhos para atingir um crescimento social e se integrarem à realidade do país.

A primeira instituição israelita fluminense data de 1917, quando foi fundada a Associação União Israelita de Niterói. Em 1922 foi criada a Biblioteca Popular Israelita Davi Frishman para preservar a cultura iídiche o que se transformou em espaço privilegiado para a corrente progressista. A BDF só ganhou vida jurídica e sede própria em 1940. Antes, guardava seus livros na casa de José Godgaber e fazia suas reuniões na casa de Henka Godnadel. Moisés Kawa e Isaac Jarlicht foram grandes entusiastas deste grupo.

Em 1925 foi fundado o Centro Israelita de Niterói abrigando também uma escola iídiche. Nesse mesmo ano foi inaugurado o cemitério em São Gonçalo. O CIN se organizou sob o empenho de dois grupos “rivais” desde 1922, concorrentes no comércio, o de Isaac Treiger e o de Jacob Tubenchlak, que disputavam a liderança da coletividade. Em 1937, o CIN se transferiu para seu endereço definitivo, reduto sionista da cidade. O professor Alberto Hasson, entre outros, mantiveram a tradição religiosa, hoje conduzida pelo rabino Itiel Stauber.

Dada a ascensão social da comunidade, as associações se mudaram para a zona sul da cidade, e se situaram próximas à praia. Em 1961 foi fundado o clube Sociedade Hebraica de Niterói como um racha do CIN. Em 1967, a BDF sob o nome Associação Davi Frishman de Cultura e Recreação, ADAF, fundou sua sede definitiva reunindo biblioteca e clube.

Conforme aponta a autora, a coletividade conviveu em sua dinâmica divisões constantes entre a direita sionista e a esquerda progressista, os religiosos e os antirreligiosos, hebraístas e idichistas, russos e poloneses, e a rivalidade econômica entre os grupos. Mesmo com estas cisões ideológicas, a coletividade foi capaz de trabalhar em conjunto em momentos específicos.

O maior destaque do grupo, que o diferencia de outros imigrantes, é do ativismo feminino. Mulheres como a alemã Ilse Sipres, hoje com 90 anos, se dedicaram ao desenvolvimento de escolas, colônia de férias e organizações como a Na’amat Pioneiras . Também elas foram prestamistas e tomaram a frente em comércios familiares. Muitas adquiriram cultura universitária. Todas estas imprimiram uma transformação ao se lançarem à participação da sociedade de seus tempos contribuindo para a história dos imigrantes judeus .

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