A VOZ DO SILÊNCIO – POR MENDY TAL

348_Especial_2_1“Primeiro, os nazistas vieram buscar os comunistas, mas, como eu não era comunista, eu me calei. Depois, vieram buscar os judeus, mas, como eu não era judeu, eu não protestei. Então, vieram buscar os sindicalistas, mas, como eu não era sindicalista, eu me calei. Então, eles vieram buscar os católicos e, como eu era protestante, eu me calei. Então, quando vieram me buscar… Já não restava ninguém para se manifestar”. – Martin Niemoller


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Aqui e no mundo, dia 27 de Janeiro é o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Esta data faz parte dos calendários oficiais de dezenas de países. Em São Paulo, por uma iniciativa do então vereador Floriano Pesaro, a data também faz parte do calendário da cidade.

A data foi escolhida em especial porque foi o dia da libertação do Campo de Concentração de Auschwitz.

Sempre foi de suma importância comemorar este dia com cerimônias, com depoimentos dos sobreviventes e com a solenidade que 6 milhões de judeus assassinados merece.

Desta vez, são 75 anos passados depois dessa libertação.

Todos os anos, as cerimônias lembram não só os judeus, mas os ciganos, os deficientes, os homossexuais, os comunistas e outras minorias que foram arrastadas pela lama nazista.

Entretanto, este ano parece extremamente crucial que façamos muito barulho nas cerimônias. Porque parece que o mundo está indiferente ao passado e começa a repetir os mesmos momentos anteriores ao nazismo.

Ataques antissemitas grassam pelo mundo.

Somos atacados ao portar os símbolos de nossa identidade judaica. Somos hostilizados nas universidades dos vários continentes.

Nossos melhores professores e cientistas são impedidos de dar palestras.

Os judeus estão sendo responsabilizados de novo por tudo de mau que acontece no globo.

Exatamente como o discurso social nacionalista, somos culpados pelos solavancos na economia, culpados de sermos gananciosos com nossas propriedades, culpados por mantermos as tradições milenares de nosso povo e ignorarmos outras culturas, culpados pela escalada do terrorismo.

Somos considerados o terrível Lobo Mau israelense contra o rebanho de cordeiros palestinos.

Mesmo que a imprensa nos descreva de modo agressivo e deturpado, somos anunciados como controladores desta mesma imprensa, do divertimento, e de nos metermos sorrateiramente na política mundial.

Ao descrever todas estas coisas, sinto um calafrio porque foi este mesmo discurso que se deu no começo do Holocausto.

Por isso, vamos homenagear nossos mortos mostrando o que o Mal e a indiferença fizeram com eles.

Naquele tempo e, assustadoramente, em nosso tempo, a indiferença é o que permite este momento especialmente perigoso.

Cada vez temos menos depoimentos em primeira pessoa contando sobre o momento mais baixo da humanidade e somos nós, os herdeiros, que devemos mostrar ao mundo a voz dos nossos 6 milhões de pessoas assassinadas.

Do mesmo modo que devemos protestar por cada ato antissemita, devemos gritar contra a indiferença das maiorias.

Numa tentativa de combater as similaridades que nos remetem ao pré-nazismo, nesta semana, pelo menos 47 líderes mundiais, incluindo 26 presidentes, quatro reis (da Espanha, Holanda, Bélgica e Luxemburgo) e quatro primeiros ministros estiveram em Jerusalém para o evento, disseram autoridades.

Infelizmente, parece que os povos fazem ouvidos moucos para esta importante cerimônia de Memória das Vítimas do Holocausto.

Há uma citação de Martin Niemoller, um famoso teólogo alemão que bem descreve o perigo de não homenagear nossos mortos.

“Primeiro, os nazistas vieram buscar os comunistas, mas, como eu não era comunista, eu me calei. Depois, vieram buscar os judeus, mas, como eu não era judeu, eu não protestei. Então, vieram buscar os sindicalistas, mas, como eu não era sindicalista, eu me calei. Então, eles vieram buscar os católicos e, como eu era protestante, eu me calei. Então, quando vieram me buscar… Já não restava ninguém para se manifestar”. – Martin Niemoller


Mendy Tal – Cientista político e ativista comunitário.

 

mendytal@gmail.com 

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