CORONAVÍRUS – UM OLHAR MAIS OTIMISTA – RAV EFRAIM BIRJOIM

353_história_1_1A grande pergunta que fica é: quando tudo isto acabar, o que terá mudado em nossas vidas? Seremos pessoas melhores? Estaremos mais conectados com D’us, com o próximo e com o nosso próprio interior? Aproveite a oportunidade, reflita, mude. Pois este pode ser o início de uma nova era da humanidade.


Às vezes parece que é apenas um sonho. Ou talvez um pesadelo. De repente nossas vidas cotidianas viraram do avesso. Não há mais escolas, não há mais trabalho, não há mais rezas na sinagoga, não há mais Seder de Pessach com as famílias reunidas. Tudo parou. Mas por que assim, tão de repente? Não é por causa de uma guerra. Não são mísseis derrubando prédios e arrasando quarteirões. É apenas um pequeno vírus que, apesar de ser microscópico, em questão de poucas semanas deixou o mundo de joelhos. Os aviões já não decolam mais, os ônibus já não saem mais dos estacionamentos, as pessoas já não saem mais de suas casas. O que podemos e devemos aprender com o que está acontecendo?

O primeiro aprendizado precisa ser, sem sombra de dúvidas, a humildade. No fim dos anos 60, o homem finalmente chegou à lua. Como disse o astronauta Neil Armstrong, foi “um pequeno passo para o homem, mas um enorme salto para a humanidade”. A partir daquele momento, o ser humano achou que poderia assumir o lugar de D’us. Há poucas semanas li uma reportagem que dizia que, com os avanços da ciência, em 20 ou 30 anos nos tornaremos seres imortais. Vem então o Coronavírus e nos coloca no nosso devido lugar. Este ser microscópico nos faz abaixarmos a cabeça e entendermos que não estamos no controle de nada. Nossas vidas estão completamente nas mãos de D’us.

O segundo aprendizado é que deixar nossas vidas nas mãos de D’us não é algo negativo. Ao contrário, significa confiar em um Ser infinito, Todo Poderoso, que controla tudo o que ocorre no universo e, acima de tudo, é um Ser de bondade ilimitada. Não precisamos nos preocupar, muito menos sentir pânico, pois há Alguém no controle da situação. O pânico tira nossa energia e causa confusão mental. É o momento de voltarmos a desenvolver nossa Emuná (fé), a aceitarmos que não temos controle sobre nossas vidas e sobre os acontecimentos do mundo. Devemos sempre fazer a nossa parte, escutando as autoridades sanitárias, evitando as aglomerações e cuidando da nossa higiene, mas sem esquecer que toda doença e todo sofrimento tem um fundo espiritual, toda dificuldade carrega uma importante mensagem.

Por que D’us, este Ser tão bondoso, tem sido tão duro conosco? Pois, como pronunciamos no “Avinu Malkeinu”, além de D’us ser o nosso Rei, Ele também é o nosso Pai, e um pai nunca desiste do seu filho. Quando D’us criou o mundo, Ele nos entregou um “Manual de instruções da vida” chamado Torá. Na Torá há ensinamentos para todas as áreas, isto é, no relacionamento da pessoa com D’us, no relacionamento da pessoa com o próximo e no relacionamento da pessoa consigo mesma. Porém, na nossa correria diária, em nossas vidas tão atarefadas, acabamos nos esquecendo do nosso “manual” e nos perdemos. Nos afastamos de D’us, nos afastamos das pessoas queridas e nos afastamos de nós mesmos. Então D’us, aquele Pai misericordioso e bondoso, nos obriga a pararmos. Ele nos tranca dentro de nossas próprias casas para que possamos nos encontrar de novo. Ele nos dá a chance de aproveitarmos este momento de isolamento para uma profunda reflexão: com tanta liberdade que temos atualmente, para onde nossas vidas estão nos levando? Com toda a fartura que temos, somos uma geração mais feliz do que a geração dos nossos pais e avós? Com a facilidade que temos de comunicação até com as pessoas mais distantes no mundo, como estão os nossos relacionamentos com as pessoas mais próximas?

D’us nos trancou dentro de nossas casas para que possamos entender que há coisas que o dinheiro não compra. D’us nos trancou dentro de nossas casas para percebermos que há pessoas lá dentro de quem estávamos desconectados há muito tempo. D’us nos trancou dentro de nossas casas para entendermos que estávamos trancados dentro de nós mesmos, escravos dos nossos desejos e da nossa honra. Ele está nos dando a chance de mudarmos, de redefinirmos nossas prioridades na vida, de revermos nossas metas. Quando todo o dinheiro do mundo já não pode mais comprar nem mesmo uma passagem de avião, entendemos que nossa escala de valores estava equivocada. Que presente incrível D’us está dando para a humanidade! Um presente que vem acompanhado de muito sofrimento, é verdade. Uma chacoalhada em toda a humanidade. Mas não deixa de ser um presente valioso.

Muitos estão perdendo tempo ao ficar procurando quem são os culpados pelo Coronavírus. Outros estão aproveitando a situação para fazer manobras políticas. As notícias nos causam medo e pânico generalizado. Esta não é esta a forma judaica de lidar com os nossos problemas. O judaísmo nos ensina que, quando surge uma dificuldade, não procuramos as causas naturais, e sim erguemos nossos olhos para o Céu, para Aquele que controla tudo, e rezamos. Quando algo difícil acontece, não apontamos o dedo para os outros, apontamos para nós mesmos e nos perguntamos: onde foi que erramos? Onde podemos melhorar?

Há uma interessante lei judaica que nos ensina que é proibido voltar de um cemitério pelo mesmo caminho que fomos. Na prática, é suficiente mudarmos um pouquinho a nossa rota ao voltarmos para casa. Mas há um incrível ensinamento moral por trás desta lei. Em momentos de muito sofrimento, como na perda de um ente querido, é proibido o ser humano continuar a viver da mesma maneira como fazia até aquele momento, sem nenhum tipo de reflexão. O mundo não pode continuar da mesma maneira depois do Coronavírus. É proibido continuarmos a viver nossas vidas sem uma profunda reflexão, sem mudanças.

A história do povo judeu nos ensina que os momentos de redenção sempre foram precedidos por momentos de muita dificuldade. Dificuldades são oportunidades. Desafios são maneiras de despertar o potencial que estava guardado dentro de nós. Tenho visto muitos atos de bondade e empatia. Os mais jovens finalmente se preocupando de verdade com os idosos. Sem dúvida venceremos o Coronavírus. É questão de tempo até superarmos esta terrível doença. A grande pergunta que fica é: quando tudo isto acabar, o que terá mudado em nossas vidas? Seremos pessoas melhores? Estaremos mais conectados com D’us, com o próximo e com o nosso próprio interior? Aproveite a oportunidade, reflita, mude. Pois este pode ser o início de uma nova era da humanidade.

Que D’us tenha misericórdia de Seus filhos e mande, o mais rápido possível, uma cura espiritual e física para todos nós.


RAV EFRAIM BIRBOJM – Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP, começou seu processo de Teshuvá (retorno ao judaísmo) aos 25 anos, através da Instituição “Binyan Olam”. Saiba mais.

Email: efraimbirbojm@gmail.com

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