A JANELA DA NOSSA ESPERANÇA – POR LIONEL ZÁCLIS

354_especial_1_1Essa destruição é causada por agentes infectantes, tais como o estado pantagruélico, os privilégios, a corrupção, a mentira, a falta de solidariedade social, causadoras, por sua vez, da miséria, do abandono da saúde, de uma educação de quinto mundo, dos embaraços ao desenvolvimento da livre iniciativa e, por consequência, da falta de oportunidades para os jovens.


Nestes dias de isolamento em virtude da pandemia da Covid-19, aproximo-me da janela e vislumbro ao longe dois montes de pedra, um mais próximo do meu ponto de observação, outro mais distante. Percebo uma pessoa com uma grande pedra, sacrificando-se para escalar o primeiro, única no qual pode fazê-lo, pois o outro está interditado. Todavia, quase ao chegar ao cume, escorrega e cai, juntamente com a pedra, no sopé do morro, em decorrência da destruição dos degraus mais altos.

Essa destruição é causada por agentes infectantes, tais como o estado pantagruélico, os privilégios, a corrupção, a mentira, a falta de solidariedade social, causadoras, por sua vez, da miséria, do abandono da saúde, de uma educação de quinto mundo, dos embaraços ao desenvolvimento da livre iniciativa e, por consequência, da falta de oportunidades para os jovens.

Essa tentativa de alcançar o cume repete-se diariamente nesse monte, no qual infalivelmente o cidadão topa com aqueles agentes infectantes a cada vez que tentam chegar ao topo. De lá escorrega, a pedra torna a rolar, num verdadeiro trabalho de Sísifo.

Haverá solução?

Agora, é aguardar que os cientistas descubram vacinas que evitem a propagação do vírus e/ou remédios que curem as pessoas infectadas, algo que se prevê para ocorrer de seis meses a um ano. Em seguida, toda a energia deve ser canalizada para arrasar-se o primeiro monte e passar-se a escalar o segundo, em cujo topo será depositada a pedra, porém, ao contrário do que sucedeu à Sísifo, por uma única e definitiva vez. Mas, para que isso se verifique, haverá que vigiar diuturnamente o monte, a fim de que os agentes infectantes sequer se aproximem dele, haverá que lutar com denodo para que a pedra ali permaneça como sinal de vitória da cidadania, a lembrar que o preço da liberdade é a eterna vigilância, tal como alertou John Philpot Curran.


LIONEL ZÁCLIS – É advogado, Mestre em Direito Processual pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Especialista em Direito Processual Civil pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de São Paulo, conferencista, autor de diversos livros e de artigos publicados. Membro do International Insolvency Institute (III); Membro do American College of Bankruptcy (ACB), Membro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP), Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP) e do Instituto Brasileiro de Recuperação de Empresas (IBRE).

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