PERSONAGEM: DR. SIDNEY KLAJNER, PRESIDENTE DA SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN – POR GLORINHA COHEN

355_first_1_1Executivo mais influente da área da Saúde, na opinião dos jornalistas da revista Healthcare Management do Grupo Mídia, em 2018, o cirurgião do aparelho digestivo e coloproctologista Sidney Klajner comanda desde 2016 o Hospital Israelita Albert Einstein, eleito este ano como um dos melhores hospitais do mundo pela revista americana Newsweek, aliás, o único da América Latina.

E isto ninguém pode negar: a tarefa é das mais árduas, mormente nestes dias cheios de incertezas pelos quais estamos passando. Mas, para quem, como ele, cuja paixão pela Medicina começou aos 11 anos de idade quando acompanhava o pai, que era pediatra, em visitas a pacientes, e em 1986 foi aprovado em primeiro lugar no processo seletivo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), tudo é possível. E é desde então que surgiu a meta de trabalhar para o Hospital Israelita Albert Einstein que estava se tornando uma potência na área da Saúde e por ser um hospital da comunidade judaica, da qual ele faz parte. O sonho se concretizou em 1993, como cirurgião autônomo, sendo o Dr. Sidney contratado pelo Einstein como plantonista do Pronto Atendimento em 1998. A partir de então exerceu lá os mais variados cargos.

Professor do MBA Executivo em Gestão de Saúde do Einstein, ele é Membro de instituições das mais importantes como o Conselho Superior de Gestão em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde de SP, Conselho de Administração do Instituto Coalização Saúde e Conselho Consultivo da Fundação Faculdade de Medicina – FMUSP, dentre outras. Este ano foi convidado a fazer parte de um grupo denominado Todos Pela Saúde, de iniciativa do Itaú-Unibanco e que é composto por lideranças da área de saúde com o objetivo de auxiliar o governo federal e o sistema público de saúde a implementar medidas no combate à Covid-19.

E é sobre esta pandemia que se baseia a entrevista a nós especialmente concedida e na qual o Dr. Sidney traz à tona os principais desafios do distanciamento social e os benefícios do uso da Telemedicina, explica como o Einstein se preparou para atender os doentes com o novo Coronavírus e nos diz quais são suas perspectivas para o futuro.

Crédito da foto: Fabio H.Mendes



355_first_1_2“O distanciamento social é uma medida comportamental importante neste momento, sendo a única forma de diminuir a velocidade da propagação do novo coronavírus”.

GC – Fale-me um pouco de sua trajetória profissional.

SK – Graduei-me em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP) em 1991 e fiz Residência em Cirurgia Geral (2 anos) seguida da Residência em Cirurgia do Aparelho Digestivo e Coloproctologia, ambas no Hospital das Clínicas da FMUSP. Estagiei na Mayo Clinic em 1996, nos Estados Unidos, e, em 1998, conclui o Mestrado em Cirurgia pela USP.

Iniciei minha trajetória no Einstein em 1993 como cirurgião autônomo, sendo contratado como plantonista do Pronto Atendimento em 1998. Em 2007, fui convidado por Claudio Lottenberg a fazer parte da Diretoria, como Diretor Vogal e, em 2010, passei a Vice-presidente da Diretoria Eleita até 2016, ano em que assumi a presidência da organização, cargo que ocupo até hoje.

Atualmente, sou membro do Conselho de Administração do Instituto Coalização Saúde, do Conselho Consultivo da Fundação Faculdade de Medicina, do Conselho Superior de Gestão em Saúde – da Secretaria Estadual de Saúde de SP sob a gestão do Secretário Dr. José Henrique Germann Ferreira, além de Professor do MBA Executivo em Gestão de Saúde do Einstein, na disciplina “O Mercado de Saúde no Brasil e no Mundo: Estrutura e estratégias”. Além disso, ainda atuo na Coordenação do Curso de Pós-graduação em Coloproctologia do Einstein e como Professor convidado da Faculdade de Medicina do Einstein (FICSAE).

Recentemente, fui convidado a fazer parte da iniciativa do Itaú-Unibanco denominado Todos Pela Saúde, grupo composto por lideranças da área de saúde e que tem como objetivo auxiliar o governo federal e o sistema público de saúde a implementar medidas no combate à Covid-19.

Acumulo diariamente minhas funções pelas quais tenho paixão, exercendo minhas atividades como Cirurgião do Aparelho Digestivo, com cirurgias que se iniciam antes das 6h, para ter o tempo hábil à partir das 8h de atuar na presidência da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Retorno ao consultório às 14h30, também no Hospital Israelita Albert Einstein, onde fico até a noite.

GC – Quais os principais desafios do distanciamento social?

SK – Acredito que o principal desafio seja a dificuldade de mudança de hábitos da população e de convencimento sobre a gravidade deste novo vírus. O distanciamento social é uma medida comportamental importante neste momento, sendo a única forma de diminuir a velocidade da propagação do novo coronavírus. As medidas adotadas nas últimas semanas no Estado de São Paulo surtiram efeitos importantes e já é possível ver um achatamento da curva de contaminação desta pandemia.

GC – Quão grave é a COVID-19?

SK – Como estamos observando a evolução em todo o mundo, é uma doença que pode levar a quadros muito graves.

“Um dos principais benefícios da Telemedicina é colocar o paciente certo no lugar correto e evitar idas desnecessárias ao Pronto–Atendimento, melhorando a experiência e saúde da população, além de reduzir o custo do atendimento e destinar os leitos de forma mais adequada a urgências e casos mais complexos”.

GC – Como o Einstein se preparou para atender os doentes com o novo coronavírus?

SK – O Hospital Israelita Albert Einstein começou a se preparar desde o início da epidemia, na China, no final de 2019. Montamos um grupo especial, integrado por representantes de várias áreas da instituição, com o objetivo de implementar todas as medidas necessárias ao atendimento de casos suspeitos e de pacientes infectados com eficácia e segurança, garantindo também que as instalações permaneçam seguras para todos os outros públicos que aqui estão, como nossos colaboradores e prestadores de serviço. Os cuidados são estendidos às unidades públicas geridas pelo hospital, como os hospitais municipais M’Boi Mirim – Dr. Moysés Deutsch e Vila Santa Catarina – Dr. Gilson de Cássia Marques de Carvalho. Esse grupo especial se encontra diariamente para atualizações das informações sobre a evolução da epidemia, repassar os protocolos de atendimento, assim como o andamento da implementação das medidas necessárias.

Em relação aos colaboradores, foi organizada uma série de ações de educação e capacitação, como reuniões com a liderança periodicamente para atualização e alinhamento de recursos, atualização semanal de material sobre manejo dos casos, produção de vídeos curtos de instrução, e-learnings e projetos lembretes para as áreas assistenciais, realização de simulados nos prontos atendimentos e unidades de terapia intensiva, reunião clínica presencial para toda a organização e informativo para pacientes, acompanhantes, familiares e visitantes.

Em questões estruturais, criamos um fluxo especial para o atendimento de casos suspeitos de Covid-19. Nosso objetivo é oferecer o melhor atendimento aos casos de Covid-19, mas garantindo que não exista nenhum tipo de risco em outros atendimentos de qualquer natureza. Afinal, é essencial que os demais cuidados com a saúde da sociedade se mantenham de forma eficiente e segura.

GC – Como surgiu a ideia de o Einstein administrar o Hospital Municipal de Campanha do Pacaembu?

SK – Ao longo dos anos, construímos uma relação muito positiva com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e fomos convidados a pensar juntos sobre possibilidades de ampliar o atendimento à população durante a pandemia do novo coronavírus.

Entendemos que era necessário criar algumas ações para tentar diminuir a pressão por internação de pacientes nos leitos dos hospitais municipais. Uma das saídas foi replicar um modelo já utilizado no exterior, que é a criação de hospitais de campanha. Estes locais recebem pacientes que não devem ficar em casa, mas que também não precisam ficar internados em um leito de hospital tradicional, que deve ser reservado aos pacientes mais graves. A partir disso, assumimos a operação de 200 leitos de baixa complexidade no local.

GC – Além desses hospitais de campanha, quais outros hospitais ou entidades são mantidas pelo Einstein e em que áreas ele atua?

SK – O Einstein acumula mais de 15 anos de atuação na esfera pública e administra atualmente 25 equipamentos do Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade de São Paulo, sendo 23 deles em atenção primária e secundária, com quase 4,3 milhões de atendimentos em 2018. Os outros dois são hospitais municipais da capital paulista, que se tornaram referência em assistência de qualidade: o Hospital Municipal M’Boi Mirim – Dr. Moysés Deutsch e o Hospital Municipal Vila Santa Catarina – Dr. Gilson de Cássia Marques de Carvalho. Além disso, participamos ativamente de importantes projetos em parceria com o Ministério da Saúde por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), somando o investimento de mais de R$ 651 milhões durante o triênio 2018-2020.

GC – O que acha do uso da Telemedicina no serviço de saúde público e privado durante a pandemia? O Projeto de Lei aprovado pela Câmara dos Deputados ainda precisa ter a aprovação do Senado e sanção do Presidente da República.

SK – Um dos principais benefícios da Telemedicina é colocar o paciente certo no lugar correto e evitar idas desnecessárias ao Pronto–Atendimento, melhorando a experiência e saúde da população, além de reduzir o custo do atendimento e destinar os leitos de forma mais adequada a urgências e casos mais complexos.

No início da pandemia, a telemedicina Einstein estava sendo acessada majoritariamente para consultas relacionadas a problemas respiratórios, que representavam cerca de 2/3 dos atendimentos. Com a evolução da situação, que inclui o fechamento de consultórios e também um maior receio de procurar serviços de pronto atendimento, a proporção se inverteu. Hoje, apenas 1/3 vem de queixas de sintomas gripais e todo o restante da necessidade de controle de doenças crônicas, como o ajuste de medicação para hipertensão e dose de insulina para pessoas com diabetes, ou mesmo de tratamento da ansiedade.

Em outra frente, as teleconsultas cumprem um papel importante em situações de emergência, em que pacientes precisam de orientação para a busca de atendimento adequado. Um exemplo recente foi o atendimento de um senhor de 80 anos que tinha sofrido uma queda, mas não quis ir a um hospital. Na avaliação dos sinais vitais, via atendimento eletrônico, constatou-se que ele estava com rebaixamento de consciência e sonolência, o que indicava riscos e a necessidade de ser atendido presencialmente. E de fato, após a realização de exames no hospital, foi identificada uma hemorragia cerebral que exigia intervenção. Em casos como esse, o atendimento virtual cumpre um papel essencial, que é o de evitar atraso na realização de procedimentos de emergência.

Outra frente importante são as ações por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), em parceria com o Ministério da Saúde. Um novo projeto em andamento está promovendo assistência médica especializada para cerca de 120 cidades na região Norte do Brasil via Telemedicina com sete especialidades médicas. Por meio desse programa já existente, vamos poder auxiliar no diagnóstico e no tratamento de casos do novo coronavírus oferecendo médicos pneumologistas a esta população, assim como com o projeto Tele-UTI que, atualmente, atende cerca de 7 hospitais públicos para prover a estas instituições visitas diárias em UTI’s e auxiliar no atendimento local.

GC – O Brasil está preparado para enfrentar os desafios depois da pandemia e quais são suas perspectivas?

SK – É uma situação muito nova para todos. Hoje, ainda é difícil avaliar como sairemos desta pandemia. Na área da saúde, é possível pensar que nascerá um sistema de saúde mais focado na atenção primária, na prevenção e não no modelo hospitalocêntrico. Notamos que os casos que evoluem para a forma mais grave da doença são de pacientes com doenças crônicas e preveníveis se houver foco na promoção da saúde, prevenção de doenças e controle de doenças crônicas. Acredito que focaremos também na contenção de desperdício e alocação correta dos recursos. Há oportunidades, pela maior valorização do profissional de saúde e pelo aumento da interação entre ele e a população de termos uma medicina exercida com maior humanismo.

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