A ESPERANÇA NÃO SE ESCONDE – POR JAYME VITA ROSO

A esperança não se esconde, perde ou escapa: a recuperação pós-COVID 19 pode beneficiar a biodiversidade!

I

1. Ao longo de secular jornada do Povo Eleito, a esperança, muitas vezes, foi esquecida e, até, ofensiva contra quem o conduzia ao caminho da Terra Prometida.

O mundo secularizado e a humanidade decaída, soterrada pela tecnologia, com os verdadeiros valores preteridos, com as comunicações sem cessar em todos os quadrantes, com notícias falsificadas, alinham o perfil macabro da COVID-19, mormente porque a OMS, presidida por um sudanês, serve de farol para os desempenhos e os desencantos!

Em suma, fomos levados à uma crise global, cujas causas, origens e propósitos, estão escondidas, como estarão, enquanto a submissão dos países se curvar ao Mercado, simplesmente.

2. Então, onde foi se esconder a esperança?

Ela está aí, em nossa frente, como nos Profetas, que nunca se enganam. Sim, hoje, com realismo, sabemos (por que queremos?) que houve profundas interrupções no comércio internacional e na cessação de viagens, derrubando economias, em sua maioria ocidentais, e obrigando (direi constrangendo) uma completa reavaliação da economia, saúde, mobilidade urbana e meio ambiente.

Sentem-se, na pele, na família, na sociedade, nos países e nações, que a COVID-19 desencadeou grandes mudanças no comportamento humano e, deste modo, deixando de circular e congestionar as ruas, estradas, avenidas, espaço aéreo e oceanos, houve contundente redução na poluição, como mostram os articulistas M. J. Cohen e D. T. Molinas[i].

Claramente, tudo se mostrou positivo, num universo de confinamento. E, deste, que resultou? Ora, desacostumados à reclusão, muito bem postados em habitações confortáveis, ainda assim, despencaram na solidão e na depressão. Imagine os que vivem em favelas, cortiços e palafitas, chamadas eufemisticamente de “comunidades carentes”, para serem admitidos no bem bom do amplo “matter”.

3. Mudaram-se as oportunidades do consumo: sim; mudaram para o consumo ser sustentável: parece; mudaram-se os padrões, usos e costumes no ambiente familiar e no ambiente de trabalho: obrigados e constrangidos!

O que se está vendo, onde o lockdown foi mitigado ou escalonado (ou mesmo dividido em fases), segundo critérios apriorísticos ocultos nas entrevistas destes gurus da mídia, podem (ou não) levar a uma nova economia, afetando o consumo, cadeias de distribuição e empregos, com fantásticos desempregados à míngua!

A gente, mais ou menos entendida, preparada ou letrada, tem consciência dos efeitos da COVID na biodiversidade e no ambiente em si mesmo. O vírus emergiu do consumo precário (ainda que escondido), por três meses diminuiu, mas não foi o bastante para refrear a poluição dos mares ou a modificação climática da Antártica, que neste inverno chegou a ter 18ºC!

Eventos anteriores, como guerras e pandemias, foram a causa motora de enormes problemas sociais, econômicos e ambientais. Assim, cito um acontecimento que tem reflexos, há três séculos, na Itália: a invasão dos turcos levou as partes meridionais à devastação de florestas, para embarques de madeira rumo ao Oriente Médio e, com isso, o surgimento de repetidas e contínuas epidemias de malária, até – pasmem! – o desemprego e o surgimento da máfia siciliana, Ndrangheta calabresa e outras. Resultado: milhões de italianos meridionais emigraram para vários outros países, inclusive minha família (Brasil, Argentina, Estados Unidos e Austrália).

4. A recuperação ambiental, aliada à necessária implementação de políticas para a biodiversidade, podendo – “only God knows” – a “nós podemos dar reignição na economia enquanto protegemos humanos e natureza, reconfigurando redes de comércio e cadeias de distribuição de bens, para melhor acomodar opções de consumo mais sustentável. Nós podemos fortalecer a proteção ambiental, melhorar o monitoramento ambiental através de um uso melhor de nossa automação e assegurar que financiamentos para conservação se mantenham firmes”[ii].

5. E daí? Será que os orçamentos militares de EUA, China, Rússia, Índia, Paquistão, Arábia Saudita, União Europeia etc., serão diminuídos, ou tudo levará a crer que a COVID-19 foi um simples e trágico hiato para as tensões e conflitos?

Colocamos a esperança em destaque! Ela pode ser, grosso modo, certeza, convicção, quando digo: “vim aqui na esperança de ver você!”, ou: “ponho toda a minha esperança em você!”, ou: “sem esperança, desespero!”, ou: “pessoa em que eu ponho esperança”. Esperança é um sentimento que me leva a esperar. Mas, contrariamente, é também desespero, apreensão e angústia[iii].

Eu me pergunto: ter esperança, hoje em dia, é ser esperançoso?

Eu sei que esperançoso, gramaticalmente, significa “cheio de esperança”. Como dizem autores seiscentistas italianos, esperança é um vocábulo muito cômodo.

II

Conclusão

Nenhum judeu deve perder a esperança, como venho meditando ao longo dos anos. Aliás, ninguém deve perder a esperança.

Ela reside em Deus, cumprindo-se o dever de servi-lo, não na esperança de uma recompensa.

Não obstante, a COVID-19, maquiavelicamente espalhada, trará a necessidade de se enfrentar desafios que, com grandes esforços pela frente, mesmo a redução do desemprego e a reconstrução ecológica será possível! (Gaël Giraud)[iv].


[1] M. J. Cohen. Sustain. Sci. Pract. Pol. 16,1 (2020); D. T. Molinas. Analysis of Coronavirus and carbono emissions, MPRA Paper 98858. Alemanha: Universidade Library of Munich, 2020. In.: Science, vol. 368, n. 6493, 22 de maio de 2020.

[1] Science, idem, Ryan M. Pearson; Michael Sievers; Eva C. McClure; Mischa P. Turschwell; Rod M. Connolly. COVID-19 recovery can benefit biodiversity, p. 838-9.

[1] Verbete “esperança”, em Dicionário da Língua Italiana. Bologna: Zanichelli, 2008.

[1] Gaël Giraud (Paris – 24 de janeiro de 1970), entrevista, A reconstrução ecológica cria emprego e lhe dá sentido, em 4 de julho de 2020. O entrevistado é economista, diretor de pesquisas do Conselho Nacional de Pesquisas e antigo chefe de economia da Agência Francesa de Desenvolvimento.

Ele também é padre jesuíta, o que apenas enriquece esta valiosa conversa que foi levada à publicação. Para tanto, destaco-a, também em 4 de julho de 2020, conversa com Jacques Levy sobre uma possível “convenção cidadã”.

p. 838-9.

[iii] Verbete “esperança”, em Dicionário da Língua Italiana. Bologna: Zanichelli, 2008.

[iv] Gaël Giraud (Paris – 24 de janeiro de 1970), entrevista, A reconstrução ecológica cria emprego e lhe dá sentido, em 4 de julho de 2020. O entrevistado é economista, diretor de pesquisas do Conselho Nacional de Pesquisas e antigo chefe de economia da Agência Francesa de Desenvolvimento.

Ele também é padre jesuíta, o que apenas enriquece esta valiosa conversa que foi levada à publicação. Para tanto, destaco-a, também em 4 de julho de 2020, conversa com Jacques Levy sobre uma possível “convenção cidadã”.

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