ANTISSEMITISMO EM TEMPOS DE PANDEMIA – ONTEM E HOJE – POR MENDY TAL

Escritores famosos sobre o assunto dizem que observaram incontáveis expressões de antissemitismo durante esta crise da saúde.

Não seria de surpreender. Não é a primeira vez que os racistas usam uma pandemia para espalhar o ódio. Durante a Idade Média, os antissemitas culparam os judeus pela peste negra, ou peste bubônica. Também, em 1892, fomos responsabilizados tanto pela epidemia de tifo quanto a de cólera e em 1918 pela gripe espanhola.


Os grupos de extrema direita, círculos cristãos ultraconservadores, islamitas e extrema esquerda tentaram vincular os judeus ao COVID-19.

O mundo já vinha sofrendo um aumento recorde do antissemitismo nos últimos anos. De Paris a Jersey City, de Florianópolis a Bruxelas, os judeus estavam sendo alvejados nos lugares que eles rezavam, viviam, compravam e congregavam.

A mídia social já estava sendo inundada pelo ódio aos judeus.

E, de repente, o mundo é dominado pela pandemia de Coronavírus. Histórias sobre o vírus dominam as manchetes e jorram em nosso feed de notícias.

Mas não devemos nos enganar: o antissemitismo está vivo e bem.

O ódio mais antigo persiste por tanto tempo porque se adapta e se ajusta insidiosamente a situações como essas.

De fato, já começamos a testemunhar essa mutação no mundo real e nos confins da internet.

Escritores famosos sobre o assunto dizem que observaram incontáveis expressões de antissemitismo durante esta crise da saúde.

Não seria de surpreender. Não é a primeira vez que os racistas usam uma pandemia para espalhar o ódio. Durante a Idade Média, os antissemitas culparam os judeus pela peste negra, ou peste bubônica. Também, em 1892, fomos responsabilizados tanto pela epidemia de tifo quanto a de cólera e em 1918 pela gripe espanhola.

Existe uma conexão entre o antissemitismo clássico e algumas das coisas que vemos com a pandemia. As duas coisas não são independentes. O mundo pensa que não tem nada a ver com a pandemia pois é uma doença, mas os antissemitas de plantão costumam associá-las aos judeus. Os nazistas também costumavam e continuam a dizer que os judeus espalham doenças.

A grave crise do COVID-19 começou com um evento desencadeante: uma crise de saúde pública que ninguém poderia explicar ou parar. Isso levou ao jogo da culpa. Para alguns, os chineses eram os culpados; então os asiáticos foram discriminados. Para outros, eram os judeus e o extremismo transbordou.

Muito provavelmente, sem surpresa, os supremacistas brancos rapidamente mobilizaram e promulgaram teorias de conspiração que culparam judeus, asiáticos, muçulmanos e imigrantes pelo Coronavírus. Eles expressaram sua esperança de que o vírus visasse majoritariamente estes grupos minoritários.

É assim, à medida que trocamos on-line nossos eventos familiares e reuniões comunitárias, houve inúmeras tentativas de fanáticos de invadir esses espaços privados.

Os racistas postaram uns cem números de vídeos ofensivos. Em um desses incidentes, um extremista interrompeu a videoconferência de um estudante judeu do ensino médio apenas para abaixar a camisa e revelar uma tatuagem de suástica no seu corpo.

Enquanto isso, as comunidades judaicas haredi e ortodoxas se tornaram bodes expiatórios, e grupos de pessoas e políticos as culpam pela disseminação do vírus.

Embora tenha havido algumas violações claras das normas de distanciamento social, é errado culpar toda a comunidade haredi ou a comunidade ortodoxa pelas ações de alguns.

Como enfrentamos uma pandemia de duração incerta, devemos permanecer vigilantes contra o antigo vírus do ódio.

Continuaremos lavando as mãos, usando máscaras e praticando o distanciamento social. Mas, igualmente importante, devemos nos proteger dos efeitos colaterais do COVID-19, que, infelizmente, incluem o vírus conhecido e em evolução do antissemitismo.

Essa pandemia nos deu uma nova visão – do que pensávamos ser a segurança de nossos lares – sobre como as ideias e atividades antissemitas se espalham e se modificam.

Um dia poderemos sair de nossas casas e nos reunir novamente. Quando o fizermos, todas as indicações sugerem que os supremacistas brancos da extrema direita e outros inimigos da extrema esquerda estarão prontos mais uma vez para atacar judeus e outras comunidades minoritárias.

Mendy Tal

Cientista Político e Ativista Comunitário