PALAVRA DO PRESIDENTE – POR DANIEL BIALSKI
Induvidosamente dias melhores e mais felizes virão, e rapidamente, para todos. Adoro repetir uma frase que é uma constante na minha vida: a felicidade é a habilidade de olhar para trás e dizer: valeu a pena. E repito, está valendo e valeu demais!
Muito obrigado a todos! VALEU A PENA.
No final deste mês, encerro um ciclo maravilhoso da minha vida. Desafiador, empolgante e apaixonante. Ser presidente da Hebraica é algo que foi, é e sempre será, para mim, incomparável e indescritível.
Muitas pessoas em tempos mais recentes me perguntavam: “Está feliz que vai sair? Aliviado?” E minha resposta era única: “Contente, realizado e reconfortado por ter me dedicado de corpo, coração e alma para fazer da Hebraica um lugar muito melhor para mim, meus filhos, todos os nossos sócios e nossa comunidade”. E quando emendavam um “Você conseguiu?”, minha resposta era saudosa e afirmativa, porque não tenho a menor dúvida em dizer que sim. Saio, assim como toda minha incrível Diretoria, com o sentimento pleno de dever cumprido.
Porém nada disso seria possível sem o meu time, parte dele estampado na capa desta edição da revista. Apesar de nossas diferenças, apesar das controvérsias e debates profícuos sobre ideias de presente e futuro, a harmonia sempre imperou e, por isso, me referi que fizemos parte de uma equipe vencedora e vitoriosa.
Ninguém fez e faz nada sozinho e, apesar do natural protagonismo, nossas conquistas foram coletivas. Igualmente, não posso deixar de agradecer a cada uma das pessoas que me ajudou nesta missão de comandar o maior, o melhor e mais vibrante clube judaico do mundo. E o faço novamente, desde os meus guerreiros membros da Diretoria Executiva, dos ex-presidentes, conselheiros, nosso CEO, todos os diretores, voluntários, sócios e funcionários. Agradeço imensamente a cada um de vocês e peço desculpas por ter falhado e, eventualmente, não conseguido alcançar tudo que almejávamos. Não posso esquecer de agradecer aos que me apoiaram de forma incondicional e aos que me criticaram de forma construtiva, fazendo-me refletir e, muitas vezes, mudar, buscando melhorar sempre. Até àqueles que injusta e covardemente me ofenderam, por desconhecimento ou até por idiossincrasia, reafirmo que não guardo qualquer mágoa. Primeiro porque me fizeram perceber o quanto eu era querido e ainda porque agi e atuei, como presidente, de forma transparente, de consciência tranquila, sem interesses próprios, apenas querendo fazer o melhor para a nossa segunda casa.
A gratidão é uma virtude intrínseca ao judaísmo. A palavra gratidão em hebraico, todá, é um substantivo. Ela é o ato ou a ação de ser grato, demonstrar esse reconhecimento. Contudo, se repete poucas vezes na Torá, pouco mais de 30 vezes. Na interpretação bíblica, portanto, traz-nos a ideia de reconhecer e retribuir. E essa relação é feita por meio das ações, declarações, louvores e ofertas. Ser grato é retribuir aquilo que você recebeu. Por essa razão, sou tão grato a todos vocês e o serei eternamente.
Afirmo mais: desde o começo da pandemia, nossa família Hebraica – nossos milhares de sócios – mostrou todo seu amor pelo clube, me levando à constatação do que sempre preguei e continuarei vociferando aos quatro cantos: que nossa Hebraica é imprescindível à nossa comunidade e não podemos e nem devemos viver sem ela. Ela é um centro esportivo, comunitário, social, cultural, de juventude e religioso, de extrema excelência.
Eu quero confessar que, quando fui instado a pensar na ideia de ser presidente, refleti diversas vezes sobre o que eu deveria fazer e como deveria fazer. E nesse ponto, o fato de dividirmos nossos desejos e sonhos fez toda a diferença. Mudamos o curso da história, deixando uma marca indelével não somente nas diversas obras físicas e melhorias espalhadas pelo clube entregues nesta gestão, mas, sobremaneira, na positiva convivência que proliferou por nosso clube nessa época. Parecendo-me que movidos quase por mágica, sempre via o sorriso dos sócios, a alegria, as gargalhadas das crianças, o encontro de familiares e amigos darem brilho extra e iluminarem nossas dependências.
Essa sensação se ampara nas comoventes palavras de Elie Wiesel: “Para mim cada hora é uma graça. E sinto gratidão em meu coração toda vez que posso encontrar alguém e olhar para seu sorriso”. Prossigo e digo que prazeroso é apenas um dos adjetivos que posso usar para descrever esse sentimento. Porém é muito mais que isso. Talvez essa seja a razão pela qual eu me apaixonei ainda mais pelo nosso clube. Conquanto tivéssemos uma vida social-esportiva pré-pandemia e outra agora, mais restrita, nunca vi essa felicidade deixar as pessoas que foram e vão, diariamente, ao nosso clube. Ao contrário, independentemente da idade, todos sempre faziam questão de me lembrar como a Hebraica é importante na vida deles e pediam para que eu lutasse pela abertura e sua manutenção, o que fiz com empenho e muita garra.
Lembro-me, e levarei essas memórias por todos os meus dias, de cada reunião, cada nova realização, cada inauguração, cada sócio que atendi, cada visita, cada evento de que participei ou acompanhei. Emoções não me faltaram e preciso agradecer imensamente ao todo poderoso arquiteto do universo por ter me abençoado e guiado meu caminho diante de tantos desafios e obstáculos.
No judaísmo, preferimos pensar sobre a vida. Cada um de nós é como se fosse uma letra no livro de Ashem. E, como uma letra, não temos um significado por nós mesmos, mas unidos, com os irmãos que o conviver nos trouxe, com outras famílias, comunidades e nações, formamos sentenças e parágrafos e nos tornamos parte da história.
Isaac Bashevis Singer disse certa vez: “Deus é um escritor e nós somos seus coautores”. Essa minha história com vocês, na e com a Hebraica, que poderia ser contada como um livro, teve um enredo e um final mais do que felizes, para mim, inesquecíveis e majestosos. E, diferentemente do que muitos podem pensar, eu não lamento pelo tempo perdido, pelas coisas que eu poderia ter feito e não fiz por causa da pandemia. Apenas lamento pelo sofrimento de muitos, pelas perdas, pela guerra, pelos ataques à nossa Israel e pela tristeza.
Entretanto, estamos aqui, vivos, com saúde, aos poucos nos vacinando e, em breve, sei que iremos celebrar e comemorar a vida. Como lembra o inigualável Rabino Jonathan Sacks ao falar do tempo: “Por sorte, tudo o que perdemos é recuperável. Nós não somos prisioneiros do tempo porque possuímos o banco de dados da memória coletiva por meio da qual o passado fala ao presente e o coloca no caminho. O espírito humano é singular em sua capacidade de corrigir os próprios erros. Aquilo que nós quebramos nós podemos consertar. O que destruímos podemos reconstruir. Com uma condição: a de que não percamos a esperança”.
Induvidosamente dias melhores e mais felizes virão, e rapidamente, para todos. Adoro repetir uma frase que é uma constante na minha vida: a felicidade é a habilidade de olhar para trás e dizer: valeu a pena. E repito, está valendo e valeu demais!
Muito obrigado a todos pela honra e oportunidade de ter sido presidente da nossa Hebraica, realizando o que de melhor me foi possível, assim como os meus antecessores o fizeram.
Encerro desejando boa sorte ao novo presidente, o 18º de nossa história, Fernando Rosenthal, e para toda a sua nova Diretoria, pois sou sabedor que competência e empenho não lhes faltarão jamais.
Shalom e até breve.
Nota -matéria publicada na revista A Hebraica – junho/2021