O QUE É KAPARA? – RABINO ARIEH RAICHMAN

Foi uma tarde de sexta-feira única, pois tive que correr duas vezes ao hospital. Da primeira vez: dois dos meus filhos jogavam futebol no quintal e um decidiu jogar descalço. Tudo estava ótimo e eles estavam se divertindo, até que ouvi um grito alto seguido de choramingos e silêncio. Chaim Dovid Yona havia pisado num prego, e seu irmão mais velho gentilmente o arrancou. Foi aplicada pressão e o sangramento parou, mas corremos para o hospital para verificar o estado da vacina antitetânica.

Quando voltamos para casa, faltando apenas uma hora e meia para o Shabat, minha filha cortou o dedo preparando a comida para o Shabat. Agora ela precisava ser levada às pressas para o hospital e, desta vez, dirigi ainda mais rápido.

A oração

Há uma oração poderosa que fazemos todos os dias. É “והוא רחום יכפר עון ולא ישחית” – Ele, o Misericordioso, perdoa a iniqüidade e não destrói. Em outras palavras, quando Hashem envia uma punição, é para retificar nossa iniqüidade. É chamado de Kapara, pois nos cura de nossas feridas autoinfligidas. Agora, quando D’us envia essas retribuições, Ele o faz de uma maneira gentil. É um pouco de dor aqui ou ali, ou talvez se espalhe por um período de dias. No entanto, não é até o ponto em que nos destrói.

É verdade que tive de correr para o hospital duas vezes em menos de uma hora. A dor dos meus filhos é minha e poderia ser vista como Kapara. No entanto, talvez houvesse algo que eu pudesse ter feito para evitá-la? Talvez houvesse uma ação especial que teria protegido meus filhos ou talvez fosse apenas um teste? Nunca sabemos o quadro completo. No entanto, a história a seguir ensina como, em retrospectiva, a Kapara nos faz ganhar méritos ao longo do caminho.

A história

Rabi Shimon Bar Yochai foi à casa de seu sobrinho no dia seguinte ao Rosh Hashaná e explicou a ele sobre a importância da Tzedaka.

“Dê com a mão aberta e não se preocupe com o amanhã, D’us providenciará. E o mais importante; anote tudo que der”, disse Rabbi Shimon, fazendo-os prometer que assim agiriam e foi embora.

Quase um ano depois, a família de seu sobrinho foi presa e acusada de vender seda sem pagar o imposto. Eles tinham duas opções: pagar a multa de seiscentos dinares ou produzir um material de seda ainda mais caro. Eles não tinham como pagar nem meios para produzir, então foram presos.

Quando Rabi Shimon soube o que havia acontecido, imediatamente correu para a prisão e conseguiu um passe para visitar seus parentes. Pediu ao sobrinho suas anotações de caridade e viu que tinha dado 594 dinares. Rabbi Shimon perguntou se ele tinha mais algum dinheiro com ele. Com certeza, eles haviam costurado secretamente mais algumas moedas, e Rabi Shimon levou as moedas com ele. Ele subornou o oficial com as moedas e a família foi libertada.

Lá fora, lhes explicou o que havia acontecido. “No Rosh HaShanna, sonhei que o governo exigiria de você seiscentos dinares. É por isso que lhe disse para fazer caridade, para negar o decreto.”

“Então por que você não nos contou sobre isso? Teríamos dado o dinheiro imediatamente e nos poupado de muitas angústias.”

“Não”, respondeu ele. “Você não teria dado caridade pelo verdadeiro motivo – você estaria dando para RECEBER. Então não teria ajudado.”

Às vezes a Kapara faz parte da jornada para fortalecer nossa emuna (fé) em Hashem.

Shalom!


Rabino Arieh Raichman – Nasceu em Houston, Texas, e estudou em várias Yeshivot da Argentina, Brasil e Estados Unidos. Recebeu sua Smicha- Certificado de Rabino da Rabbinical College of America, e também é formado em Mohel. Desde 2009, juntamente com sua esposa e quatro filhos, é o emissário de Chabad em Manaus, Amazonas.

Beit Chabad Manaus – www.chabadmanaus.comchabadmanaus@gmail.com