Chagall e o amor que desafia a força da gravidade chegam ao CCBB SP

Vestida de poesia, a exposição “Marc Chagall: sonho de amor” entra em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo e fica até o dia 22 de maio, com 191 obras do artista e entrada gratuita

A programação oferecerá performances cênicas e de dança, ciclo de debates e palestra com a curadora, Lola Durán Úcar

MARC CHAGALL | O sonho, 1980 | Óleo sobre cartão, 38×46 cm | Coleção particular © Chagall, Marc/AUTVIS, Brasil, 2022

A poesia está no ar. O Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (CCBB SP) abriu as portas em 8 de fevereiro para uma exposição carregada de lirismo – Marc Chagall: sonho de amor. Serão 191 obras do artista franco russo de origem judaica que marcou o século XX pelo uso revolucionário das formas e das cores, criando um universo único em suas pinturas – fazendo delas verdadeiras obras poéticas. Não à toa, a mostra apresentará alguns de seus poemas e contará a trajetória de Chagall, pautada pelo amor que devotava à vida e às artes.

Considerada sucesso pela crítica brasileira, Marc Chagall: sonho de amor recebeu mais de 560 mil visitantes em sua temporada nos CCBBs Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte. A exposição contará ainda com a presença de obras do pintor que não haviam sido expostas nas itinerâncias anteriores. Desta vez, serão 12 obras oriundas de instituições brasileiras, cedidas especialmente para a exposição.

Na passagem por São Paulo, Marc Chagall: sonho de amor oferecerá também ao público performances de dança na obra Air Fountain, de Daniel Wurtzel, e a intervenção cênico-musical Bella e o violinista, entre outras novidades. É previsto ainda um ciclo de debates e uma palestra com a curadora da mostra, Lola Durán Úcar. Será uma oportunidade para o público compreender, a partir de diversas linguagens artísticas, a vida de Chagall e seu legado artístico. Os ingressos para a palestra poderão ser retirados gratuitamente em bb.com.br/cultura ou na bilheteria física do CCBB SP.

A imagem poética do amor

Houve um tempo em que eu tinha duas cabeças
Tempo em que esses dois rostos
Se cobriam de um orvalho amoroso,
Entrelaçados como o perfume e a rosa

Marc Chagall

Trecho traduzido do poema “Seul est mien”

Fonte: livro “Poèms“

Assim como o amor, a poesia de Chagall, versada em paixão, espiritualidade e melancolia, orienta a mostra. Em seus escritos, o artista afirma a influência dos versos na sua concepção de mundo: “Assim que aprendi a me expressar em russo, comecei a escrever poesia. De forma tão natural quanto respirar. Que diferença faz se é uma palavra ou um suspiro?”.

Nascido em 7 de julho de 1887, no bairro judaico da cidade de Vitebsk, na antiga Rússia, Marc Chagall viveu uma vida quase centenária, chegando aos 97 anos de idade. Faleceu na França, em 1985, após atravessar a Revolução Russa e a 1a e 2a Guerras Mundiais, assistir à criação e consolidação do Estado de Israel e ser reconhecido como um dos nomes mais importantes da arte moderna, sobretudo pela criação de uma linguagem artística única.

Na entrada do CCBB SP, mais precisamente no átrio central localizada no piso térreo, o “sonho de amor” é anunciado pela instalação contemporânea Air Fountain, gentilmente cedida pelo artista norte-americano Daniel Wurtzel a pedido da organizadora da mostra, Cynthia Taboada. Nas salas expositivas, por sua vez, o percurso apresenta uma seleção de obras produzidas por Chagall ao longo da carreira, de onde emergem os temas: origens e tradições russas; o amor e o exílio na representação do mundo sagrado; o lirismo e a poesia, reencontrados em seu retorno à França; e o amor transcendente, uma ode ao sentimento de estar apaixonado, presente na figura dos enamorados que flutuam nas telas ou estão imersos entre ramos de flores.

Na obra de Chagall, o gosto pelas cores só fez aumentar o amor pela vida. Como declarou: “Na vida, assim como na paleta do artista, há somente uma cor que dá sentido à vida e à arte: é a cor do amor”.

Com biografia marcada pela origem humilde e pelos inúmeros obstáculos à sobrevivência, mudou-se inúmeras vezes: viveu na França, nos Estados Unidos e na própria União Soviética, onde, após a Revolução Russa, ocupou o posto de Comissário de Belas Artes de Vitebsk, sendo responsável pela vida artística da cidade. Após breve atuação no cargo, Chagall mudou-se para Moscou, onde trabalhou, em 1920, nos painéis e no mural do Teatro Judeu, com grande repercussão naquele contexto. Em seguida, mudou-se para Berlim, onde havia sido reconhecido artisticamente desde 1914, partindo em 1922 para a cidade à qual dirigiu inúmeras declarações de amor e onde viveu a maior parte de sua vida: Paris, cidade em que atingiu sua plenitude artística.

Em sua trajetória única, Chagall fundiu diferentes culturas: a judaica, sua cultura de origem familiar; a russa, de nascimento; e a ocidental, por escolha. Em uma combinação especial de domínio técnico, respeito pelas tradições ancestrais e extrema sensibilidade na orquestração de formas e cores, abriu caminhos para o surrealismo, estabeleceu diálogo com o cubismo e fauvismo, criando um universo próprio, vibrante e imaginativo. Não menos importante é sua contribuição para as artes gráficas, em que alcançou pleno domínio das técnicas de água-forte e de litografia, produzindo séries gráficas de excepcional beleza e apuro técnico, à altura das obras literárias que as inspiraram. E para Chagall, a Bíblia ainda era a maior fonte de poesia de todos os tempos.

Segundo a curadora da exposição, Lola Durán Úcar, couberam na seleção obras “que mostram diferentes técnicas e suportes que Chagall utilizou com grande virtuosismo: óleos, têmperas e guaches, litografias e águas-fortes em branco e preto e coloridas à mão”.

Algumas pessoas me recriminaram por colocar poesia nas minhas

pinturas. É verdade que há algo mais a exigir da arte pictórica.

Mas que me mostrem uma única grande obra que não tenha uma

porção de poesia!

Marc Chagall

Trecho traduzido do livro “Minha Vida”

Fonte: livro “Minha Vida”

As palavras de Chagall inspiram o clima onírico que norteia a seleção das obras. Entre os trabalhos do artista presentes na mostra, que contemplam o período de 1922 a 1981, pode-se destacar o raríssimo guache O avarento que perdeu seu tesouro (L’avare qui a perdu son trésor), de 1927, produção que dá início à série gráfica das Fábulas de La Fontaine (Fables, Jean de La Fontaine), encomendada por Ambroise Vollard no final dos anos 1920 e impressa somente em 1952.

Tanto a curadora como a idealizadora da mostra ressaltam a importância das coleções nacionais para a itinerância. “As 12 obras emprestadas pelas instituições brasileiras são parte do empenho da organização em enriquecer a exposição, ampliando o diálogo entre obras do exterior com obras presentes em coleções museológicas brasileiras, o que só foi possível por meio de um intenso processo de pesquisa sobre cada uma delas”, explica Cynthia Taboada, que liderou esse processo. “É uma grande oportunidade contemplar essas obras reunidas, pois são de grande importância no discurso expositivo”, completa Lola Durán Úcar.

Um dos propósitos da mostra é reaproximar o público desse artista ímpar, proporcionando uma imersão em seu universo vibrante e poético. A ideia é embalar o visitante numa atmosfera de conhecimento e encantamento, “na qual possa dialogar e se sentir tocado pelos diversos sentidos do amor que perpassa a obra de Chagall, […] num momento de fragilidades mundiais”, completa a curadora.

Ao realizar essa exposição, o Centro Cultural Banco do Brasil oferece ao público o contato com o trabalho de um dos grandes nome da arte mundial, reafirmando seu compromisso de ampliar a conexão dos brasileiros com a cultura.

A exposição tem patrocínio da BB Seguros e do Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A organização e produção são da empresa Cy Museum, em parceria com a italiana Arthemisia.

SERVIÇO

Exposição: Marc Chagall: sonho de amor

Local: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo

Período: até 22 de maio

Funcionamento: todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças-feiras

Ingressos gratuitos: disponíveis em bb.com.br/cultura e na bilheteria física do CCBB SP.

Entrada acessível: Pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e outras pessoas que necessitem da rampa de acesso podem utilizar a porta lateral localizada à esquerda da entrada principal.

Informações: (11) 4297-0600

Estacionamento: O CCBB possui estacionamento conveniado na Rua da Consolação, 228 (R$ 14 pelo período de 6 horas – necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB). O traslado é gratuito para o trajeto de ida e volta ao estacionamento e funciona das 12h às 21h.

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