Liberdade que aprisiona – por Danieli Santos

Na nossa busca por igualdade, deixamos de lado a nossa real feminilidade. Não precisamos ser o sexo frágil, no entanto, não é preciso trocar a sensibilidade, docilidade, poder de sedução e afabilidade, pelo estresse, irritabilidade e por todas as cargas emocionais que o excesso de tarefas é causador.

Talvez esse artigo não se encaixe para todas as mulheres, mas nesses anos de trabalho terapêutico, tenho observado essa realidade para muitas de nós.

Buscando a conquista da “liberdade”, acabamos por abraçar o mundo, criando padrões e estereótipos que nos adoecem e aprisionam emocionalmente pouco a pouco.

Liberdade, em todos os contextos, vem acompanhada de responsabilidade.

Hoje vejo mulheres excessivamente compromissadas, tornando-se multiuso na vida, sem tempo para si, muitas vezes agindo e fazendo aquilo que não gostam, pela necessidade de serem ou sentirem se livres. Cheias de coisas e vazias de si mesmas, aprisionadas dentro da vida que escolheram viver.

Aprisionadas pela necessidade da liberdade financeira, da autonomia em relação ao homem.

Aprisionadas pela necessidade de ter uma profissão, de ser bem-sucedida.

Aprisionadas pela necessidade de dar conta do trabalho, dos filhos, da casa e ainda ser uma boa esposa, amante e companheira.

Aprisionadas pela necessidade do salto alto, do cabelo penteado, das unhas feitas, da roupa da moda, da opinião das amigas, sociedade.

É inadmissível para muitas mulheres ser somente dona de casa ou mãe, como se esses papéis fossem desimportantes, sem valor.

Criamos essa necessidade de liberdade e nos tornamos “máquinas de fazer coisas”, numa competição inconsciente com o masculino e esquecemos de viver de fato a feminilidade.

Acreditamos que para ter valor é preciso dar conta de tudo, e nos sentimos vitoriosas quando em um só dia acordamos cedo, fomos para academia, fizemos a unha, levamos o cachorro no pet, fizemos compra, deixamos o filho na escola, fomos para o trabalho, pagamos as contas de casa, buscamos o filho na escola, fizemos um jantar gostoso, a tarefa de casa com filho, tiramos a roupa do varal e colocamos a outra, pensamos no almoço do dia seguinte, tomamos aquele banho no capricho e tiramos um tempinho para o marido.

Não existe liberdade real se não vier dos sentimentos.

A liberdade real consiste em estar plena e realizada sem a prisão do salto alto, do batom vermelho, da conta particular cheia de dinheiro, do guarda-roupas com tantas opções.

Liberdade real é decidir cuidar da casa, dos filhos e estar feliz com isso, não se deixando levar pelos padrões sociais. Mas é também, trabalhar fora e estar realizada e em paz.

É não cobrar tanto a condição de ser multifuncional.

É se permitir “curtir” uma gripe ou uma dor de cabeça sem a exigência de fazer todas as tarefas que estavam programadas para o seu dia.

É se permitir ser frágil de vez em quando e ganhar um colo também.

É decidir ter filhos e dedicar atenção exclusiva a eles pelo tempo que quiser.

É decidir não ter filhos ou então ter no seu tempo, sem que os padrões externos sejam influência determinante para isso.

É não exigir perfeição, independência, e autossuficiência a qualquer preço.

Na nossa busca por igualdade, deixamos de lado a nossa real feminilidade. Não precisamos ser o sexo frágil, no entanto, não é preciso trocar a sensibilidade, docilidade, poder de sedução e afabilidade, pelo estresse, irritabilidade e por todas as cargas emocionais que o excesso de tarefas é causador.

Se estamos livres para viver, exercer tudo que quisermos e pagamos um alto preço emocional por isso, significa que ainda estamos presas, aprisionadas na ilusão de liberdade.


Danieli Santos

Terapeuta Transpessoal Consciencial. Autora do livro “A luz em minha vida”, pela Literare Books International.