Laura Feldman, presidente da CIP – Por Glorinha Cohen
“Para mim e para as mil famílias associadas a CIP, o judaísmo da CIP é legítimo. A legitimação do judaísmo da CIP, como de qualquer outra sinagoga conservadora ou liberal precisa estar na fala de qualquer judeu que se considera mais judeu porque ele é de outra linha religiosa, ou porque ele não é filho de uma mãe convertida”.
Ao assumir, em 13 de fevereiro deste ano, a presidência da CIP – Congregação Israelita Paulista, uma das mais importantes instituições da comunidade judaica brasileira, a advogada Laura Feldman tem entre suas prioridades o desenvolvimento do tecido social, ou seja, trazer as pessoas para o presencial, para congregarem, afastadas que foram em razão da Pandemia. E, tão importante quanto, também a missão de legitimar o judaísmo liberal, honrar a memória da CIP e ao mesmo tempo pensar nos desafios atuais e futuros para que continue sendo uma grande e sólida comunidade com sua vocação cultural, educacional e social.
Com extensa vida comunitária e muita dedicação ao voluntariado da CIP onde começou há 12 anos exercendo funções na área da comunicação, Laura Feldman nasceu no dia 17 de fevereiro em Santo André, no ABC paulista, e foi criada numa casa com espírito voluntário.
Nesta entrevista essa aquariana notável nos fala um pouco sobre sua vida, seus projetos e desafios, dando dicas importantes para quem quer ser voluntário.
GC – Como você se definiria?
LF – Uma pessoa objetiva, atenta e empática.
GC – Onde estudou?
LF – Colégio judaico de Santo André, Externato Oswaldo Aranha. Fiz Direito na Faculdade de Direito de São Bernardo, Ciências Econômicas na Fundação ABC e pós-graduação em direito processual civil na PUC-SP
GC – O que a tira do sério?
LF – Falta de escuta, respeito, humanidade e ética.
GC – Conte um pouco da sua vida profissional.
LF – Trabalhei 14 anos em escritório de advocacia e 6 anos no departamento jurídico do Grupo Allianz. Há 12 anos me dedico exclusivamente à família e a trabalhos voluntários.
GC- Quando começou no voluntariado e qual foi seu primeiro trabalho?
LF – Eu nasci numa casa com espírito voluntário. Desde que comecei a andar, me lembro levando uma bandeja de sanduiches para distribuir em algum evento beneficente. Minha mãe participou da Na’amat Pioneiras e tanto o meu pai como minha mãe em diversas organizações da sociedade civil no grande ABC. Eram finais de semanas dedicados a causas diversas. Quando comecei a trabalhar, o meu tempo ficou mais escasso, mas o voluntariado está enraizado e eu sabia que encontraria um espaço na minha agenda.
Nas grandes festas de 2011, a CIP precisava de voluntárias e fui chamada pela amiga Sandy Gross. Ela me apresentou à Tatiana Kulikovsky que era uma liderança da CIP. Começamos, assim, a trabalhar juntas na diretoria.
GC – Teve influência de alguma pessoa?
LF – A minha grande influência para me envolver e me apaixonar pela CIP vem da família do meu marido, Paulo Schonenberg, da família Kulikovsky e da Dora Brenner com quem convivo há muitos anos no meu voluntariado e passaram a mim o seu amor por essa instituição, como também de muitos voluntários que convivi e ainda convivo, congregantes que têm muitas histórias maravilhosas do rabinato, profissionais dedicados e da própria liderança comunitária que em grande parte teve passagem pela CIP, ora pelo ensino, ora pelas nossas tnuot.
GC – Quais cargos já exerceu e onde?
LF – Há 12 anos sou diretora voluntária na CIP, exercendo funções na área da comunicação e voluntariado.
GC – O que significa estar à frente de uma entidade tão importante quanto a CIP?
LF – É motivo de muito orgulho e alegria, porque a CIP é gigante e ao meu ver, essencial. Tem o seu lado religioso inclusivo, tem sua vocação cultural, social e educacional, como também sua responsabilidade com o sionismo e com as novas gerações e os seus novos desafios. Além disso, a CIP sempre teve um papel de interlocutora da comunidade à sociedade maior, mediando assuntos polêmicos e delicados, além de realizar o diálogo interreligioso. Acho que o trânsito entre a CIP, Conib e Fisesp é muito bom e cada vez queremos melhorar o diálogo intra-religioso e a legitimação da nossa linha religiosa.
GC – Até que ponto esse cargo afeta sua vida particular?
LF – O nosso maior luxo é o tempo, sem dúvida. Ele está mais escasso.
GC – Quais são suas prioridades?
LF – Nesse período que considero pós-pandemia, uma das minhas prioridades é desenvolver o tecido social, ou seja, trazer as pessoas para o presencial, para congregarem. Algumas vêm no Cabalat Shabat e comentam que não conhecem ninguém. Vêm sozinhas, não convidam os seus amigos. Não insistem. Depois de dois meses retornam e continuam sem conhecer ninguém, mesmo com a sinagoga cheia. É preciso voltar a ter iniciativas e convencer os amigos a sair do comodismo. Faz bem vir a sinagoga. Vale a pena participar de um serviço, um chag, uma palestra e ver gente!
GC – Um dos seus projetos é legitimar o judaísmo liberal. Como pretende fazer isto?
LF – Para mim e para as mil famílias associadas a CIP, o judaísmo da CIP é legítimo. A legitimação do judaísmo da CIP, como de qualquer outra sinagoga conservadora ou liberal precisa estar na fala de qualquer judeu que se considera mais judeu porque ele é de outra linha religiosa, ou porque ele não é filho de uma mãe convertida. Quantas famílias interreligiosas conhecemos engajadas e na liderança comunitária que praticam tzedacá e tantas outras mitzvot? Quantos judeus não fazem nada? Eu respeito a linha religiosa de todos, mas gostaria muito que a recíproca fosse verdadeira. Como fazer isso acontecer? Praticando o judaísmo: respeitando ao próximo.
GC – Quais são os principais desafios que vem sendo encontrados no atual cargo?
LF – O principal desafio é assumir a gestão da CIP e dar seguimento com excelência em todas suas áreas de atuação: espiritualidade, educação, juventude, social, inclusão, Ticun Olam e cultura.
GC – O que mais a encanta e a frustra no trabalho voluntário?
LF – O que mais me encanta no trabalho voluntário é que ele é realmente uma via de mão dupla. Ele me suga, mas a cada dia ganho 1% a mais de satisfação e alegria. O saldo sempre será positivo.
GC – Teve algum que lhe proporcionou maior alegria?
LF – Um dos que mais me impactou nos últimos anos, foi o acolhimento de moradores em situação de rua, na Casa da Juventude da CIP. As pessoas que estiveram lá durante duas noites, eram na maioria instruídas, limpas e respeitosas. Fico imaginando quantas como aquelas estão na rua e o porquê. Me deixou uma tristeza enorme.
GC – Quais as premissas básicas que devem ter um trabalho comunitário?
LF – Acho que as premissas básicas que devem ter um trabalho comunitário são: a escuta, a cooperação, o pertencimento, o acolhimento e a presença.
GC – Há pessoas que querem fazer algo, mas não sabem por onde começar. O que sugere e qual mensagem daria a quem quer ser voluntário?
LF – Para quem quer ser voluntário ou voluntária, o meu conselho é primeiro definir que área gostaria de atuar, que tem prazer ou que gostaria de se desafiar. Depois, quanto tempo irá se dedicar, definindo os dias e horários da semana (para qualquer instituição é importante o compromisso) e, por último, visitar Organizações da Sociedade Civil que se encaixam com seu propósito.