INCONTINÊNCIA URINÁRIA ACENDE ALERTA SOBRE CASOS DE DEPRESSÃO RELACIONADOS AO DISTÚRBIO

Mulheres são as mais afetadas fisicamente e socialmente. Dados mostram que cerca de 30% dos pacientes desenvolvem depressão e ansiedade. Pesquisadora na área de Urologia, a Dra. Maria Claudia Bicudo esclarece sintomas, tratamentos e ressalta que o problema pode ser um indicativo para diferentes situações, até mesmo para doenças neurológicas.

Dados da Sociedade Brasileira de Urologia mostram que cerca de 30% dos pacientes com incontinência urinária desenvolvem depressão e ansiedade. De acordo com revisão do estudo publicado pelo European Medical Journal, o distúrbio do trato urinário está relacionado a alguns casos de depressão, sendo muito comum nos artigos analisados. Das pessoas que se autodeclararam com incontinência, cerca de 20,5% delas tiveram alta pontuação na escala de avaliação de cuidados primários para pacientes com desordens mentais.

“A incontinência impacta na qualidade de vida em todas as esferas – física, emocional, social – pacientes deixam de sair, mudam de atividade por conta da perda -, na parte sexual, por receio de perda durante a relação. Também afeta a pele, causando dermatite (lesão de pele da urna tem dor a relação), além do impacto econômico com gastos em absorventes e fraldas”, diz a Dra. Maria Claudia Bicudo, urologista, Mestre e Doutora pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), professora da Faculdade de Medicina do ABC e coordenadora do Departamento de Comunicação da Sociedade Brasileira de Urologia de SP.

No calendário de datas comemorativas no Brasil, um dia pouco conhecido é o 14 de março. Instituída como lei pelo Congresso Nacional no ano passado, a data celebra a conscientização da incontinência urinária. À época de sua criação, um dado chamou atenção: 5% dos brasileiros sofrem com problema. No entanto, dados da Sociedade Brasileira de Urologia mostram que o distúrbio atinge cerca de 35% das mulheres, com mais de 40 anos e após a menopausa, e 40% das gestantes, afetando diretamente a qualidade de vida e autoestima.

Dados da Sociedade Brasileira de Urologia mostram que o distúrbio atinge cerca de 35% das mulheres, com mais de 40 anos e após a menopausa, e 40% das gestantes, afetando diretamente a qualidade de vida e autoestima. Outros estudos apontam que a prevalência dos casos de incontinência pode chegar até 70% nas mulheres dependendo da definição de perda adotada. Entre as mulheres idosas, o índice pode chegar a 50%. Ou seja, temos muitas mulheres com incontinência.

Vale lembrar que, a definição de incontinência define a perda de qualquer quantidade de urina como incontinência, o que pode elevar ainda mais esses níveis de prevalência, portanto embora muito frequente não é normal. a mulher por questões anatômicas, somadas a questões genéticas e de exposição a fatores de risco ao longo da vida como obesidade, gestação, partos apresenta mais incontinência que os homens.

O transtorno pode ser também hereditário?
Existem estudos que correlacionam determinados genes tanto a incontinência de esforço, quanto a de urgência e prolapso genital.

Em que casos só cirurgia pode resolver?
Seja na incontinência de esforço ou urgência, a cirurgia ou procedimento invasivo só é proposto em casos e refratariedade a medidas conservadoras, como mudança no estilo de vida, perda de peso, cessão do tabagismo, diminuir consumo de cafeína. também, fisioterapia para o assolho pélvico, e, no caso de bexiga hiperativa, o tratamento com medicação oral.

Poderia detalhar o que é incontinência urinária?
A definição do termo pela Sociedade Internacional de Continência refere-se à perda de urina, independentemente da quantidade. Ou seja, perder urina NÃO é o normal, independentemente da idade.

Quais as principais causas do problema?
A bexiga é um órgão que tem duas funções: armazenar a urina produzida constantemente pelos rins e esvaziar esse conteúdo produzido. A incontinência urinária ocorre na fase que a urina está sendo armazenada. Sendo assim, as causas para que a perda ocorra podem estar na bexiga, na uretra (canal da urina) ou ambos. Ou ainda, em mecanismos que afetem a sincronicidade entre a bexiga contrair e o canal abrir para que saia a urina.

Quais são os sintomas e como as pessoas podem reconhecer o problema?
O principal sintoma é a manifestação da própria perda de urina. O momento em que essa perda se manifesta pode estar associado ao tipo de incontinência urinária e isso é algo muito importante para definir o tratamento. A perda pode acontecer relacionada ao esforço, como uma tosse, espirro, ou seja, quando ocorre um aumento da pressão dentro do abdome. Pode se manifestar por meio da urgência, da vontade imperiosa de urinar, ou até de forma mista por esforço e urgência. A perda também pode ser contínua quando existe uma comunicação da bexiga com a vagina, ou até por transbordamento, quando na verdade a pessoa tem problema no esvaziamento e a bexiga transborda.

A incontinência urinária é mais comum em homens ou em mulheres?
A incontinência urinária é mais frequente nas mulheres do que nos homens, e isso está relacionamento a uma condição anatômica. A mulher tem a uretra (canal da urina) menor, além disso o mecanismo de contenção da urina (esfíncter) que “mantém a torneira fechada”, está exposto a diversos fatores ao longo da vida da mulher que compreendem maior risco de incontinência, como: gravidez, partos e obesidade. Alguns estudos epidemiológicos mostram que a prevalência dos casos de incontinência pode chegar até 70% nas mulheres dependendo da definição de perda adotada. Entre as mulheres idosas, esse índice pode chegar a 50%. Então temos muitas mulheres com incontinência e embora frequente, não é normal!

Existe diferença nos sintomas e no tratamento dado para o problema, na comparação entre homens e mulheres?
Os sintomas estão relacionados mecanismo de perda, seja associado ao esforço ou urgência. No homem, a incontinência geralmente está associada a questões relacionadas à próstata.

Outras doenças podem ocasionalmente provocar incontinência urinária?
A incontinência é a manifestação da perda de urina em diferentes situações que acometem o trato urinário podem levar a isso. Doenças que afetem a próstata, a bexiga, a uretra (canal da urina), além de questões neurológicas que podem impactar a sincronização do mecanismo de armazenar e esvaziar, como AVC, mal de Parkinson, esclerose múltipla e, podem se manifestar da mesma forma.

Quais implicações um(a) paciente pode ter ao não tratar a incontinência urinária?
Na realidade, a incontinência urinária afeta mais a qualidade de vida do que traz um problema mais grave ao paciente, entretanto, estabelecer/identificar o mecanismo de perda é fundamental para definir riscos.

A incontinência urinária pode sinalizar algo mais grave?
Em via de regra são condições que não sinalizam nada mais grave, mas é sempre importante entender o mecanismo de perda. Algumas condições neurológicas, como a esclerose múltipla, por exemplo, a questão urinária pode ser um dos primeiros sintomas, o que mostra que a investigação é muito importante.

Quais são os tratamentos atuais e mais adequados para acabar com o problema?
Definir o tipo de incontinência é fundamental, para definir o melhor tratamento. Os tratamentos podem ser mais ou menos invasivos conforme a gravidade do problema. O tratamento conservador envolve alterações no estilo de vida, orientação com ingestão de líquidos, diminuir o consumo de bebidas e alimentos que sejam irritantes para a bexiga, como por exemplo o café. E, também, a fisioterapia do assoalho pélvico com uma série de exercícios para fortalecer a musculatura dessa região. Pode-se utilizar medicamentos orais com foco de ação na bexiga e tratamento da urgência e, tratamentos mais invasivos que compreendem cirurgias, injeção de toxina botulínica e implantes de dispositivos.

Gostaria de acrescentar outras informações?
Embora seja extremamente frequente que se manifeste, especialmente em indivíduos mais idosos, sintomas da incontinência urinária não são normais. Sendo assim, caso apresente perda de urina procure atendimento médico para entender qual é o mecanismo que está levando para essa perda, qual o impacto que isso pode trazer e buscar a melhor alternativa de tratamento.