O livro dos porquês sem respostas – Por Paulo Rosenbaum

Por que o atual governo do Brasil votou contra a emenda apresentada à Organização Mundial de Saúde que pedia a libertação dos reféns sequestrados? Por que notícias distorcidas adquiriram mais relevância do que as versões próximas à realidade? Por que a noção de verdade tornou-se um tabu? Por que o esperançoso multilateralismo tornou-se um retrógrado multisectarismo?

Por que a importação de eleitores pode corroer as democracias? Por que as Universidades tem abandonado seu papel analítico e têm se tornado bastiões de intolerância e extremismo? Por que os radicais merecem a paciência, a compreensão e o excesso de civilidade às custas de sociedades acuadas? Por que a segurança pública encontra-se em processo de extinção? Por que a interpretação da constituição precisa de hermenêuticas extravagantes e repletas de idiossincrasias? Por que as instituições foram instrumentalizadas e estão perdendo sua função original para obstar regimes tirânicos e o totalitarismo? Por que as minorias violentas sobrepõe#Pagromm-se às maiorias neutras e inertes? Por que é tão difícil compreender que denunciar o ódio reproduzindo a mensagem dos haters só amplia o publico viciado no ressentimento?

Por que os racistas antissemitas/antissionistas obtém a indulgência de comunidades que auto intitulam-se pacíficas e democráticas? Por que aqueles que julgam — como o juiz Khan que deletou posts prévios anti-Israel — não são obrigados a se declarar impedidos pelo conflito de interesse? Por que Israel deve ser a Nação mais inspecionada, questionada, fiscalizada, sancionada e julgada da face da Terra? Por que os judeus tem sido a grande constante histórica nas perseguições étnico-religiosas pelo mundo? Por que um Pogrom como o de 07/10 tem sido lenta, mas progressivamente assimilado, banalizado e naturalizado por grande parte da mídia internacional? Por que os sequestrados pelos inimigos da humanidade não obtém o status que lhes corresponderia enquanto são torturados e desumanizados? Por que a Cruz Vermelha cruza os braços quando se trata de visitar os reféns sequestrados pelos hamazistas? Por que os movimentos feministas tem sido seletivos na demonstração de indignação contra a violência sexual contra as mulheres judias? Por que a presidente da Universidade Columbia e outras autoridades acadêmicas omissas durante os tumultos e perseguição contra judeus, continuam em seus cargos? Por que os intelectuais chapa branca, disfarçam suas objeções antissemitas com slogans antissionistas?

Por que não há pente fino para analisar o financiamento de grupos violentos? Por que o Poder vem se mostrando indulgente e leniente com as organizações criminosas? Por que a humanidade elege déspotas, populistas e ditadores para depois dedicar-se décadas para destitui-los? Por que os candidatos eleitos podem trair livremente o programa que os elegeu? Por que os fanáticos berram? E por que acabam levando no grito? Por que o centro não interessa aos radicais? Por que a emancipação intelectual é uma raridade? Por que as pautas subjetivas estão cada vez mais desvalorizadas? Por que precisamos viver em função da moda?

Por que o materialismo tem sido cada vez mais hegemônico? Por que os sonhos são eclipsados pelo princípio da realidade? Por que na saúde o cuidado e a prevenção não são tão valorizados quanto os procedimentos? Por que as duas grandes seitas escatológicas contemporâneas são o antiamericanismo e o antissionismo? Por que a liberdade pessoal passou a ser uma exceção?

Por que enfrentamos tantos obstáculos para alcançar o status de sujeitos da própria história? Por que a política deixou de ser a formulação consensual do bem comum? Por que a auto transcendência não é um atributo natural das pessoas? Por que, como queria Jonathan Sacks, nossas perspectivas estão limitadas por nossas expectativas? Por que a busca espiritual tornou-se exceção? Por que a Meditação é menos importante do que os afazeres diários? Por que a natureza tem sido subjugada e torturada? Por que as vitimas tem perdido os direitos para os perpetradores? Por que sucumbimos às pressões do consumo? Por que os governos podem amordaçar o direito à livre expressão?

Por que rejeitamos o inusitado, o místico e o inapreensível? Por que boa parte dos auto proclamados bem pensantes costumam estar do lado equivocado da história? Por que nos calamos diante do arbítrio? Por que os abismos nos observam? Por que não estamos fazendo nada, ou quase nada, quando deveríamos estar todos atentos e perplexos? Por que nos limitamos a observar enquanto a anomia se espalha? Por que e quando deixamos de nos importar? Por que não sabemos mais perguntar? Por que escolhemos a resignação quando ainda poderíamos reafirmar nossa discordância? Por que nos dispersamos tanto? Por que temos a sensação de abandono? Por que, apesar de tudo, guardamos esperança?

Por quê?


Paulo Rosenbaum

Paulo Rosenbaum nasceu em São Paulo em 1959. É médico e escritor. Possui Mestrado em Medicina Preventiva, Doutorado em Ciências e Pós-doutorado em Medicina Preventiva pela USP, com mais de uma dezena de livros publicados na área. Escreve, regularmente, para o jornal Estado de São Paulo, no blog “Conto de notícia”. Roteirista e produtor de documentários, atuou como editor de revistas científicas no campo da saúde. É pesquisador na área de clínica médica, semiologia clínica, relação médico-paciente, prevenção e promoção da saúde e pesquisa de medicamentos. Além de ensaísta, é poeta, contista e romancista. Antes de Navalhas pendentes, publicou os romances: A verdade lançada ao solo (Record, 2010) e Céu subterrâneo (Perspectiva, 2016).

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