Da destruição à esperança

Manifestação na Kaplan, em Tel Aviv, principal ponto de protestos em Israel

Cara leitora,
Caro leitor,

É muito difícil, quase impossível, viajar a Israel, visitar a região sul do país, onde tudo aconteceu em 7 de outubro, e não se sentir quebrado. O rastro de destruição nos tira algo essencial: a esperança.

Mas há uma característica dos israelenses que chama mais atenção que a dor. Trata-se da resiliência. E é isso que torna possível ver a luz no fim do túnel.

A verdade é que grande parte da sociedade civil de Israel se sente esquecida, tanto pela comunidade internacional – que demonstra pouco se importar seja com os reféns ainda em Gaza seja com a necessidade de enfraquecer o Hamas -, quanto pelo governo liderado por Benjamin Netanyahu – que, além de não assumir a responsabilidade pelo que ocorreu em 7 de outubro, muitas vezes impede o avanço nas negociações pelo cessar-fogo e retorno dos sequestrados.

Antes dos ataques do Hamas, toda a semana, ao longo de 10 meses, israelenses se reuniam em diversas cidades do país para protestar contra a reforma judicial proposta pelo governo, que enfraquecia a democracia no país. Quando o 7 de outubro aconteceu, o baque foi grande e a sociedade precisou de um tempo para se reerguer e reorganizar.

Mas as manifestações semanais retornaram com todo o vigor e cresceram, agora demandando um acordo pela volta dos reféns e mudanças nos rumos políticos do país.

São centenas de milhares de pessoas. De todos os tipos, de todas as idades, em todos os cantos de Israel. A maior concentração acontece na Kaplan, em Tel Aviv, e estar em meio aos que lutam por um país melhor é como mergulhar em um poço de esperança.

E o tempo é agora. Essa é a palavra repetida incessantemente nas manifestações: “agora, agora, agora”. Estar a cada sábado nas ruas é uma forma de lidar com o luto, de preencher o buraco no peito que foi deixado naquela manhã, às 6h29, quando casas foram invadidas, pessoas assassinadas e sequestradas.

Lital Shochat Tchertov, uma das organizadoras das manifestações, afirma que, na Kaplan, as pessoas se reúnem semanalmente para mostrar que o governo não está servindo aos interesses da população, em especial por não estar trabalhando por um acordo pelos reféns.

Para ela, a presença nas ruas é uma demonstração do que é o sionismo: “Estamos aqui pela sobrevivência do Estado de Israel, porque queremos que este país prospere. Como mãe, venho aqui para que meus filhos tenham um país seguro e democrático”.

Questionada sobre a continuidade da guerra, Lital deixa claro que a prioridade é outra. “Depois de 9 meses, qualquer avanço militar já foi provavelmente concluído. Agora, em Israel, pensamos que o mais importante é trazer os 120 reféns de volta, porque cada dia em Gaza é um novo risco para eles”.

A grande batalha desses israelenses é por um país melhor, mais justo, democrático e seguro. O futuro de Israel, tal como imaginado por seus fundadores, depende desta vitória.

Todos os sábados, eles saem de casa, deixando para trás os traços de destruição, em direção a um lugar onde compartilham o sentimento de esperança.

É do lado destas pessoas que estamos.


Nota:

matéria publicada pelo Instituto Brasil-Israel – IBINews 344 – 13 de julho de 2024

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