Presidente da CONIB critica o duplo padrão utilizado pelo Brasil no tratamento dado a israelenses e palestinos
Guilherme Waltenberg e Claudio Lottenberg
Em entrevista a Guilherme Waltenberg, do Poder 360, o presidente da CONIB, Claudio Lottenberg, falou sobre o impacto da guerra em Gaza para a comunidade judaica brasileira:
“Israel iniciou uma ação de defesa contra uma organização terrorista. E, claro, a primeira análise traz de maneira muito clara a legitimidade desta defesa. Entretanto, atuar num cenário como esse é algo muito mais complexo, porque por detrás dessa organização existe uma ramificação extensa, não só de estabelecimentos físicos, mas de conexões com outras organizações terroristas, inclusive com um país que tem um poder militar, que é o caso do Irã, o grande patrocinador do terrorismo naquela região através de seus aliados Hezbollah, houthis e Hamas.
Isso leva a um período no qual Israel tem que trabalhar no combate a esse terrorismo. E esse período leva a um desgaste de imagem do Estado de Israel. A raiz dessa guerra aos poucos vai se apagando.
As pessoas já quase não falam dos reféns, mas falam dos movimentos que Israel faz. Isso traz um peso na imagem do país e lamentavelmente com a forma como o governo brasileiro tratou o assunto e alguns setores da própria imprensa o conflito acabou sendo importado para o nosso País.
E isso se manifesta com uma onda crescente de antissemitismo. Isso é ruim para a comunidade judaica e para o próprio Brasil, porque dentro desses movimentos diplomáticos o nosso País abraçou países e correntes ideológicas pouco afeitas ao ideário democrático.
Na verdade, todos nós sabemos que o Irã tem uma simpatia pelo relacionamento com a China, com a Coreia do Norte e com a Rússia e, inclusive, com o próprio presidente venezuelano, Nicolas Maduro. Então, esse alinhamento do Brasil com esses países e um alinhamento que se expressa também não como uma crítica só ao governo de Israel, mas também ao Estado de Israel, traz um cenário que, para nós como brasileiros, é muito negativo. Com isso, passamos uma imagem de um país que não respeita o ideário democrático e, pelo contrário, estamos alinhados àquilo que há, na minha leitura, de pior em termos de comportamento ideológico”.
Disse ainda que “o Brasil tomou um lado e esse lado, na minha interpretação, é um lado complexo. Isso porque o Brasil assumiu uma bandeira, em que coloca uma visão que se aproxima das raízes do Partido dos trabalhadores (PT), e impõe um contraponto ao incorporar isso dentro de uma diplomacia que sempre se pautou na cultura do multilateralismo, da aproximação e do diálogo. Ou seja, criou-se uma ideologia dentro da própria politica externa brasileira. E isso traz um prejuízo enorme. Mas a gente vê que isso não tem respaldo dentro da população brasileira.
“Um dos pontos em que o presidente Lula tem sido criticado é justamente com relação à condução da política externa. E estamos pagando o preço dessa opção na linha diplomática”, destacou.
Lottenberg criticou o alinhamento ‘conveniente’ do governo brasileiro em relação à ONU, especialmente no que diz respeito a não declarar o Hamas como grupo terrorista. Também citou o silencio do governo brasileiro com relação ao próprio reconhecimento da ONU sobre o envolvimento de seus funcionários da UNRWA com o Hamas.
Criticou também o duplo padrão utilizado nas notas oficiais do governo com relação ao tratamento dado a israelenses e palestinos e disse que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa agir contra a onda de antissemitismo no País. “O Poder Executivo pode ter críticas ao governo de Israel, mas não pode se posicionar da forma como tem se posicionado e negado acesso à comunidade para um diálogo. Isso beira o extremismo. Acho que ainda está em tempo de conversarmos”, pontuou.
Assista a entrevista completa acessando o link: https://www.youtube.com/watch?v=CTxQdw-aGCc