ELABORANDO O LUTO PELOS BIBAS, POR ODED E TODOS OS CORPOS SEQUESTRADOS – POR MENDY TAL

No rescaldo dos devastadores ataques terroristas às comunidades em 7 de Outubro de 2023, equipes de resposta de emergência foram imediatamente mobilizadas para atender à situação calamitosa.

Os soldados, policiais e especialistas forenses trabalharam, e ainda trabalham, diligentemente em uma tarefa que é quase impossível de imaginar: a maciça identificação das vítimas do ataque assassino do Hamas.

No massacre e no retorno dos corpos assassinados em Gaza, mesmo estes dedicados especialistas viram atrocidades nunca imaginadas.

A volta dos restos dos Bibas e de Oded Lifshitz para serem sepultados Israel é um ato considerado altamente significativo, pois representa uma profunda conexão com a pátria ancestral, a crença na ressurreição na Terra de Israel quando da vinda do Messias, e uma forma de fazer parte fisicamente da história e herança judaicas.

Também poderemos seguir outras peculiaridades da lei religiosa judaica: importância de tratar os mortos com respeito, seguindo os preceitos de nosso luto.

Honrar os mortos é considerado um ato de Chesed Shel Emet (verdadeira virtude). No judaísmo, esta é considerada uma das maiores mitzvá que pode ser realizada, porque o recipiente não tem como retribuir a gentileza.

Entretanto, a sabedoria do judaísmo ao acompanhar por todo o processo de agonia só vem ressaltar a crueldade dos carniceiros do Hamas ao sequestrar também corpos de nossos inocentes cidadãos.

Nossa tradição define vários estágios no processo de luto, que correspondem muito bem à compreensão moderna deste processo emocional e que foram negados aos familiares desses civis inocentes.

A consideração e o respeito que são dispensados aos vivos devem ser dados aos mortos à medida que são atendidos, dispostos e escoltados até sua morada final na terra.

Em Israel, onde o terror e a guerra se tornaram uma parte infeliz da vida cotidiana, a Chevra Kadisha é especializada em recuperar, resgatar qualquer ínfima parte dos corpos e cuidar dos restos mortais das vítimas de ataques suicidas e outros atos violentos.

Embora nossa religião saliente que o enterro deve acontecer o mais rápido possível após a morte, há várias circunstâncias em que isso não pode ocorrer, como no chocante desfecho para a família Bibas, para os corpos retidos em Gaza e todos os nossos mortos que necessitaram de identificação.

Os funerais judaicos tradicionais são muito simples e geralmente relativamente breves. Antes de começarem, os parentes imediatos do falecido realizam a kriá. É uma palavra hebraica que significa “dilacerar”. Refere-se ao ato de rasgar um pedaço da roupa. Essa dilaceração é uma expressão impressionante de pesar e raiva pela perda de um ente querido.

O funeral tem um pequeno número de elementos litúrgicos fixos, incluindo a oração curta El Maleh Rachamim (“Deus cheio de compaixão) e a recitação de uma versão especial da oração do Kadish, considerada a “oração do enlutado”.

No local da sepultura, todas as pessoas presentes participam cobrindo o caixão com terra. O som da terra caindo sobre o túmulo é um som retumbante e chocante, lembrando realmente que a pessoa se foi. Porém é um dos atos mais determinantes da perda eterna de nossos queridos.

Nestes dias, a já incomensurável dor das famílias e do povo de Israel será potencializada ao vermos colocar na terra estes heróis, estes bebês hoje já sem futuro.

Nosso pequeno alívio é saber que eles serão enterrados em nossa Terra Sagrada.

Certamente, no decorrer de décadas, incontáveis pessoas do mundo todo visitarão estes túmulos e, ao colocarmos pequenas pedras sobre a lápide, mostramos que estivemos lá e que a memória desses entes sacrificados continua viva em nós e através de nós.


MENDY TAL

Cientista Político e ativista comunitário