MAIS DE 40 MIL BRASILEIROS ESTÃO EM TRATAMENTO DO CÂNCER DE BEXIGA NO BRASIL –  POR DR. FERNANDO KORKES

O vape, que é um tipo de cigarro eletrônico, também chamado de smok, jull ou “caneta”, também pode levar à eliminação de carcinógenos na urina, porém ainda na fase de estudos experimentais. O tabaco, entre outras substâncias, é o principal fator de risco para o aparecimento da doença

Todos os anos relembramos o “Maio Vermelho”, mês de conscientização do câncer de bexiga, para alertar a população em geral, os profissionais de saúde, agentes comunitários e até médicos para que tenhamos um melhor prognóstico. Isso tudo por uma razão preocupante. A cada ano são estimados mais de 11 mil novos casos. No mundo são cerca de 1,7 milhões com o diagnóstico da doença.

Nos últimos anos temos visto inúmeras novidades no tratamento do câncer de bexiga. Tivemos novas drogas aprovadas e outras que deverão chegar ao Brasil nestes próximos anos, como imunoterápicos, combinações de imunoterápicos com quimioterápicos, combinações de imunoterápicos com anticorpos conjugados a medicamentos. Além desses, novas medicações para instilação na bexiga, dispositivos que liberam medicamentos na bexiga, bem como a cirurgia robótica.

A incidência do câncer de bexiga é mais comum nos homens. Para cada três acometidos, uma mulher tem a doença, sendo mais comuns aparecer após os 50 anos. O câncer de bexiga é uma doença de crescimento bastante rápido e letal, caso não seja tratado. Muitas vezes, a dificuldade de se valorizar os sintomas ou a complexidade dos exames para o diagnóstico, acabam atrasando a detecção da doença.

As campanhas de alerta ao problema são extremamente importantes, porém é necessário explicar como algumas substâncias, dentre elas, a nicotina, pode desencadear este tipo de doença, além de diversos carcinógenos como nitrosaminas (compostos químicos), metais pesados, hidrocarbonetos. Essas e outras substâncias são filtradas pelos rins e ficam acumuladas na urina.

O vape, que é um tipo de cigarro eletrônico, também chamado de smok, jull ou “caneta”, também pode levar à eliminação de carcinógenos na urina, porém ainda na fase de estudos experimentais. Já a nicotina, especificamente, tem influência no desenvolvimento do câncer, embora outras substâncias também presentes no cigarro exerçam mais este papel.

Fatores ambientais são importantes também para o surgimento desta doença, além da prática do tabagismo, como explicado acima. Outro fator de risco é o contato com substâncias presentes em defensivos agrícolas, nas tinturas, em produtos da indústria têxtil, em alguns itens usados por profissionais cabeleireiros e também pela inalação da fumaça a diesel.

Sangue na urina nunca é normal

A presença de sangue na urina é o principal alerta, podendo ser visível, ocorrido uma vez e cessado espontaneamente, pode ainda persistir ou aparecer somente em exames de urina. Além disto, sintomas de infecção de urina com exames que não demonstram o problema, principalmente em mulheres idosas, deve ser visto como um sinal de alerta.

Quem já teve uma vez tem o risco aumentado e pode ter novamente a doença, e essa é uma forte característica do câncer de bexiga. Quando detectado no início, é altamente curável. No entanto, a chance de surgirem outros tumores é grande. Por isto é importante o acompanhamento e tratamentos preventivos, como a BCG e quimioterapia instiladas na bexiga em grande parte dos casos.

Para a primeira situação (não-músculo invasiva), o tratamento é a retirada endoscópica do tumor, seguido de medicamentos instilados na bexiga (quimioterapia, BCG). Na segunda situação (músculo-invasiva), fazemos a retirada da bexiga, eventualmente radioterapia e a associação de quimioterapia e imunoterapia endovenosas.

Já na terceira situação (metástases) o tratamento em geral é realizado com quimioterapia, imunoterapia e as chamadas terapias alvo. Importante dizer que, não são realizados exames de rotina para a bexiga. No entanto, qualquer pessoa que tenha notado ao menos um episódio de sangramento urinário, deve procurar atendimento médico com brevidade.


DR. FERNANDO KORKES

Dr. Fernando Korkes, membro da Diretoria de Tumor Urotelial da Sociedade Brasileira de Urologia de SP. Chefe da Divisão de Oncologia Urológica da Faculdade de Medicina do ABC e do Hospital Israelita Albert Einstein, Graduado em Medicina pela Santa Casa de São Paulo.