MARC CHAGAL: O MESTRE DOS VITRAIS – POR FELIPE DAIELLO

O primeiro encontro foi no norte das França, na Catedral de Reims, onde os reis franceses eram coroados, como Charles VII com o apoio de Joana D’Arc. Onde vitrais foram executados por Marc Chagall. Bem mais tarde em Londres uma retrospectiva sobre a arte no vidro de Chagall mostra as técnicas e as razões do mestre na execução das suas obras primas.

Nascido na atual Bielorrússia em 1887, em Lioz, tradicional comunidade rural hebraica, sofre as influências dos Talmudes que condicionam o seu trabalho artístico por toda a vida. Em 1910, sem saber francês vai para Paris centro mundial das artes no início do século XIX, onde conhece os trabalhos dos principais pintores e escultores da França. De retorno para a Rússia, casa com Bella Rosenfeld em 1915, sua esposa até morrer em 1944, fato que o deixará depressivo. Em 1923, devido a revolução bolchevista retorna a Paris , onde já tem certo nome, iniciando os trabalhos que o levam à fama e ao sucesso.

Explicando os seus trabalhos com a luz e os pequenos cristais coloridos. Ele afirma que não interessa se os seus vitrais são para uma sinagoga, para uma mesquita ou catedral. Os pequenos mosaicos em vidro colorido usam as luzes e as energias do infinito para trazer mensagens dos anjos ao lado do trono eterno, dados e palavras que segundo as regras do Torah ajudam todos crentes na busca do caminho adequado no destino dos entes humanos. A exposição mostra a técnica empregada no projeto, nos desenhos que formam o caleidoscópio e a montagem e fixação na estrutura metálica final do vitral.

Marc Chagall recupera a arte e técnica empregada na construção das janelas das catedrais góticas que conectavam as preces dos fiéis com o Altíssimo. Por isso são locais de boas energias que fortalecem o ânimo e a fé dos pecadores dessa terra.

Com a avanço do nazismo em 1940 , Marc Chagall busca abrigo nos Estados Unidos. Só retornando à França após o final da Segunda Guerra Mundial quando adquire uma residência em Saint Paul de Vence, na ensolarada Provence.

Em 1947 o Louvre apresenta uma retrospectiva das suas obras o que lhe concede meritosa projeção Mundial.

Em 1952 casa com Valentina Brodski, companheira até o final de sua vida que restabelece o animo de Marc Chagal, agora deixando sua mensagem em muitos locais do mundo como: A janela da Paz , vitral no prédio da ONU. No Lincoln Center os gigantescos vitrais na fechada do Metropolitan House

Na Sinagoga Hadassah no Medical Center de Jerusalém, onde os vitrais representam as doze tribos de Israel, local que durante a guerra dos seis dias, enquanto os soldados do exército de Israel detinham os tanques sírios que se encontravam perto , grupo de crianças colocavam sacos de areia para evitar danos por estilhaços ou impactos direto. Nenhum vitral sofreu avarias.

O tempo é um rio sem barcos

A imaginação e os pensamentos de Marc Chagall seguem os passos de Moisés, de Abrahão, de Raquel, de Isaias, personagens que marcam a sua alma , enquanto os cânticos e os salmos de David são conselheiros colando sensações que aparecem nas suas telas, cerâmicas e nos vidros. Os anjos , segundo os livros de Zohar na Kabalah, têm a missão de levar as palavras das nossas orações para o Divino Trono, algo destacado nos primeiros trabalhos.

Na Provence o encontro entre Marc Chagal e Picasso que tem residência em Vallauris, desde 1948 a 1955, resulta numa intensa e permanente amizade, inclusive com trabalhos em comum, principalmente na cerâmica, onde os dois artistas trocam ideias e sugestões e possivelmente experiências de vida, pois provem de vertentes tão distintas.

Que gênio! Exclama Picasso. Pena que não pinte. Arremata. o atrevido espanhol.

Em 7 de abril de 1973, data do nascimento de Chagall, em Nice a cidade encantada da Provence espremida entre o Mediterrâneo e os Pré-Alpes , Marc Chagal lança o projeto de uma fundação para preservar seu nome, seu acervo com material por ele doado e com apoio da comunidade artística da França.

As exposições de obras, com comentário de diversas autoridades convidadas em prédio moderno, com belo jardim, espaço par relaxar junto aos cafés com fontes, representam um paraíso na parte alta de Nice , agora com mais uma atração para o turismo literário.

Marc Chagall falece em na cidade medieval de Saint Paul de Vence em 1985.

Le chémin de la vie est éternel e court. Palavras de Marc Chagall

Nas comemorações do cinquentenário da Fundação Marc Chagall, em 2023, agora num museu, seguimos retrospectiva da vida do mestre dos cristais o que permite mesmo para um novato acompanhar desde o início como começou a epopeia e a luta para vencer preconceitos.

Desde jovem na Rússia dos pogroms, de ser bode expiatório para os campesinos incultos, ele trazia no cerne os conhecimentos e os ditos da Bíblia.

Seus desenhos no início dão visão ingênua dos fatos da vida.

Se eu criar com o coração quase tudo é possível.


FELIPE DAIELLO

FELIPE DAIELLO – Professor, empresário e escritor, é autor de inúmeros livros, dentre os quais “Palavras ao Vento” e ” A Viagem dos Bichos” – Editora AGE – Saiba mais.

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