RICARDO KALILI, O CHAZAN DE CHUPÁ – POR GLORINHA COHEN
Cantar é se emocionar e compartilhar esta emoção. Numa cerimônia de casamento já existe uma emoção muito grande sendo vivida pelos familiares e convidados. Contribuir um pouco com esta emoção é para mim uma grande motivação.
Nascido em São Paulo e formado em Engenharia Civil, foi por volta dos onze anos quando quis ter aula de violão que o cantor, compositor, versionista e chazan Ricardo Kalili começou a se interessar por música e mais intensamente aos 18 anos quando encontrou no estilo folk americano sua paixão. Hoje, Pop e MPB são os estilos que embalam suas composições.
Ele já tem três discos autorais gravados, é autor da obra “O livro do cantor: de amadores a profissionais” e sua música Money ganhou o prêmio de melhor canção de pop/rock de março de 2019 na Akademia Awards, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Gravou em 2020 um CD com 12 músicas intitulado “Tributo ao James Taylor” e em dezembro de 2024 lançou o CD “ Real lovers dont give up ” (Amantes de verdade não desistem). Pretende lançar, ainda neste ano, o livro “O Livro do Cantor volume 2” e fazer shows com o novo CD “Somos iguais”.
Nesta entrevista exclusiva, além de outras particularidades, Ricardo nos conta quais foram seus maiores desafios para seguir o caminho de músico, avalia a importância desta escolha na sua vida e na das pessoas em geral e como equilibra a paixão pela música com as exigências do dia a dia. Explica ainda como foi atraído à chazzanut (canto litúrgico), a importância da música na liturgia judaica, como se prepara vocal e espiritualmente para um serviço religioso e quais são os valores e princípios judaicos que ele procura transmitir através do seu trabalho.
GC – Quais foram os maiores desafios que você enfrentou no início da sua carreira e como você descreveria sua jornada musical até agora?
RK – O meu maior desafio foi “me ver como músico”, seguir este caminho, persistir num ambiente social e familiar onde isso não era e ainda não é valorizado, e muito menos considerada uma opção profissional. Me formei em Engenharia Civil. Outros desafios pontuais foram cantar profissionalmente com banda pela primeira vez aos 22 anos; foi um grande desafio mas cheio de entusiasmo. Um outro grande desafio foi quando passei a cantar músicas de minha autoria em teatros e casas de shows, pois experimentei dividir com o público reflexões de vida e o meu lado romântico. Minha jornada musical tem sido marcada escolhas baseadas no meu amor a música , que embasaram todos CDs que gravei bem como minhas performances no palco com emoção e entrega.
GC – Qual é o seu estilo musical e quais são suas principais influências?
RK – Pop e MPB são os estilos que eu componho hoje. Tive muitas influências da música americana e inglesa . Elton John , Jim Croce, James Taylor, etc e dos brasileiros Gil, Milton Nascimento, Djavan entre outros.
GC – Como funciona o seu processo de composição e quais são os temas que mais te inspiram?
RK – Primeiro a letra, depois a melodia e ritmo. Quando sinto potencial em uma reflexão, uma frase, ou mesmo uma palavra, passo a listar frases correlatas, e vão aparecendo frases que gosto ou não e algumas com boas rimas. Separo as frases e rimas que mais me tocam, vou substituindo palavras até que eu fique satisfeito com a letra. A melodia pra mim vem com mais facilidade. Através da métrica, das rimas e das palavras “sinto” uma única melodia e ritmo para aquela letra. Os temas que mais me inspiram são a busca pessoal para viver ao máximo o nosso potencial, nossos bloqueios , sonhos, e o amor também é um tema recorrente nas minhas canções . O humor também aparece em certas músicas.
GC – Você prefere compor sozinho ou em colaboração com outros?
RK – Prefiro compor sozinho. Tenho apenas duas músicas que compus com um parceiro.
GC – Como você equilibra sua paixão pela música com as exigências da sua vida profissional e familiar?
RK – Sou sócio de uma empresa de empreendimentos imobiliários e utilizo as Leis de Incentivo à Cultura para realizar meus projetos como gravar CD e escrever livros. Sendo divorciado e por minhas filhas morarem fora, não tenho uma demanda diária de presença física, do que sinto muita falta.
GC – Você já tem três discos autorais gravados, é autor de “O livro do cantor: de amadores a profissionais”, sua música Money ganhou o prêmio de melhor canção de pop/rock de março de 2019 na Akademia Awards, em Los Angeles, nos Estados Unidos e em dezembro de 2024 lançou seu novo CD “ Real lovers dont give up ” (Amantes de verdade não desistem). Além disto, você gravou em 2020 um CD com 12 músicas intitulado “Tributo ao James Taylor”, de quem é fã desde sua adolescência. O que você considera ser o seu maior sucesso como músico até agora?
RK – Sou fã desde adolescência de James Taylor , Jim Croce e os demais cantores do estilo folk como Cat Stevens , América , Bob Dylan, Paul Simon. Cantei músicas folk e country por vários anos na noite paulistana.
Um grande sucesso que tive foi meu vídeo cantando a música “Falando Sério” que gravei em 2011 chegar a dois milhões de visualizações no Facebook. Como compositor/versionista destaco minhas três versões em português aprovadas para músicas de Charles Aznavour (“She” , Old Fashioned Way” e Hier Encore”).
GC – Como você avalia a importância da música na sua vida e na das pessoas em geral?
RK – Eu e a minha geração fomos premiados com o surgimento de movimentos musicais de importantíssimos como a Tropicália, Beatles, os Festivais da Record, o Rock, as músicas contra a ditadura, contra a guerra, etc. Acredito que na vida das pessoas a música embala sentimentos diversos, marca épocas e fatos. Parafraseando Ferreira Gullar “a música existe por que a vida não basta”. Hoje em especial, temos muito a comemorar com a nova realidade que nos trouxe as plataformas digitais. São enormes benefícios aos músicos, cantores e ouvintes em geral, alterando radicalmente o modo como a música é distribuída e facilitando muito o acesso do público às músicas e aos artistas. Hoje, com um clique, as pessoas pesquisam músicas e artistas e acessam tudo relativo a eles, ouvem as músicas que desejam a qualquer hora e compartilham os trabalhos de seus artistas favoritos.
GC – Você também é chazan. O que te atraiu à chazzanut (canto litúrgico) e qual o significado para você?
RK – Tive a felicidade de estudar canto lírico o tenor e Maestro Carlos Siivskin (in memoriam) que me ensinou o que é ser uma Chazan de Chupá, e de quem recebi um diploma de Cantor Lírico. Cantar é se emocionar e compartilhar esta emoção. Numa cerimônia de casamento já existe uma emoção muito grande sendo vivida pelos familiares e convidados. Contribuir um pouco com esta emoção é para mim uma grande motivação.
GC – Como você integra a chazzanut com sua prática musical mais ampla?
RK – O que elas tem em comum pra mim é o lado festivo do ato de cantar, de estar podendo me dedicar ao que eu mais gosto de fazer que é cantar. Cantar com entrega, emoção e verdade estão tanto na chazzanut como no meu trabalho de cantor e compositor.
GC – Quais são os desafios específicos da performance da chazzanut e como você os enfrenta?
RK – Contribuir de forma profissional com toda a cerimônia estando atento a todos os detalhes. Entender quais são os desejos e expectativas dos noivos em relação a minha participação , cuidados com a parte técnica, etc. Muitos pensam que o mais difícil é entrar cantando sozinho. Não sinto inibição nenhuma. A inibição é substituída pela alegria de estar lá naquele momento e pelo foco e entrega à música.
GC – Como você se prepara vocal e espiritualmente para um serviço religioso?
Rk – Gosto de ficar sozinho aquecendo a voz enquanto mentalizo o lado sagrado da cerimônia de casamento e a responsabilidade da minha participação.
GC – Você poderia descrever a importância da música na liturgia judaica? Como você vê a relação entre a chazzanut e a música contemporânea?
RK – A música tem tido um papel central e vital na liturgia judaica para expressar a conexão espiritual com Deus, preservar a identidade e a memória do povo judeu e enriquecer as cerimônias de culto. Vejo uma grande diferença. Sinto a chazzanut vivendo a música de forma mais elevada e fazendo um grande papel no que tange a manutenção dos costumes e valores judaicos. A música contemporânea não cultiva o seu passado de tanta riqueza musical, perde sua identidade com o passar das décadas. Em termos de conteúdo as músicas atuais, não tem nenhum valor cultural. São apenas produtos que não ficarão para a história da música brasileira.
GC – Quais são os valores e princípios judaicos que você procura transmitir através da chazzanut?
RK – Procuro transmitir conexão espiritual, identidade e enriquecimento das orações.
GC – Você tem algum projeto musical futuro que gostaria de compartilhar?
RK – Sim, ainda neste ano lançarei meu novo livro “O Livro do Cantor volume 2” e farei shows do meu novo CD “Somos iguais”.
GC – Qual conselho você daria a jovens músicos que desejam seguir uma carreira semelhante à sua?
RK – A música é uma linguagem artística não valorizada no Brasil. Desenvolva também um lado empresarial de você mesmo. É normal ocorrerem muitas dúvidas quanto a seguir carreira ou não. Muito amor pela música e foco são importantes nesses momentos.