TRANSFORMANDO O DESERTO – DR. TALI LOEWENTHAL

 

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Há, sim, um íntimo refúgio espiritual. Mesmo assim, também há o grande deserto além. A consciência da pessoa está dividida. O quê é real?


Para chegar à Terra Prometida, você precisa viajar através do deserto. Isto está implícito na narrativa geral da Torá, a qual mostra o povo Judeu viajando durante anos através do deserto para chegar na Terra Santa.

Este ponto é enfatizado de forma especial na Parashá desta semana [1], que fala de um grande e terrível deserto onde existem cobras e escorpiões, uma região de sede, onde a água não pode ser encontrada [2].

A Torá transmite seus ensinamentos em diferentes níveis ao mesmo tempo. Ela está falando do passado remoto ao mesmo tempo em que fala do presente e do futuro; ela está descrevendo o povo Judeu como um todo, mas também a vida de cada indivíduo. O deserto significa exílio, tanto o longo e sofrido exílio de toda a nação, como o exílio pessoal de cada homem ou mulher.

O quê é exílio? É um estado de espírito. Imagine uma família sentada em sua mesa de Shabat, com as velas queimando, o vinho e as challot, com cordialidade, receptividade e intimidade. Isto, por si só, já tem a qualidade da Redenção: a redenção privativa, pessoal, que, de fato, pode ser criada em qualquer lugar. Para que se atinja este mundo pessoal de santidade, pode ter sido necessário viajar por muitos anos através de um árido deserto.

Além disso, o deserto poderia ainda estar lá. Imagine-se criando uma atmosfera de Shabat em sua própria casa ou em sua própria sala, como um oásis, cercado pelos vizinhos e amigos que nada entendem. Ou a sua situação pode ser ainda mais desafiadora: o ambiente pode ser verdadeiramente hostil e ameaçador.

Poderia-se dizer que o mundo “lá fora” é o grande e temeroso deserto da Parashá. Lá está o calor e a atmosfera íntima que foi criada dentro, e o amplo ambiente fazendo suas próprias coisas.

Esta divisão dá espaço às cobras e aos escorpiões – diferentes doenças espirituais. As cobras representam paixões (como a cobra no Jardim do Éden), enquanto os escorpiões significam frieza. Ambos, quando fora do contexto, podem ser um problema. Além disso, existe uma sede, uma nostalgia; mas não está claro como satisfazê-la.

Há, sim, um íntimo refúgio espiritual. Mesmo assim, também há o grande deserto além. A consciência da pessoa está dividida. O quê é real?

Entretanto, há uma outra maneira de pensar sobre isto. A mesa de Shabat não é apenas um pequeno oásis, protegendo do grande vazio externo: é um farol de luz espalhando santidade através do universo. Tudo é unidade em potencial.

As cobras e os escorpiões estão em seus justos lugares, onde não causam mal. Paixão no momento certo. Frieza quando é necessária. Também há sede, sim: nostalgia espiritual. Ainda assim, isto é dissipado pelas águas curativas da Torá, entendido como afetando todo o povo Judeu e, também, através do conceito das Sete Leis de Noach, a toda a humanidade. A água da Torá transforma o deserto e o faz florescer.

Nesta paisagem, nós descobrimos, aqui e agora, a Terra Prometida [3].


Referências:

1. Devarim 7:12-11:25.

2. Ver Devarim 8:15.

3. Adaptado livremente do Likkutei Sichot do Lubavitcher Rebbe, vo1.2 pp.371-75.


Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg

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