É MELHOR AGIR POR VONTADE OU POR DEVER? – RABINO RUBEN STERNSCHEIN

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O judaísmo promove geralmente a integração daquilo que fazemos porque concordamos e do que fazemos porque nos comprometemos. Realizar por vontade e realizar por dever ao mesmo tempo.


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É melhor agir por vontade ou por dever? Por que quero ou por que algo me manda fazê-lo?

A principio diríamos que preferimos fazer por vontade. Ela garante a liberdade e o bem-estar de quem faz. Entretanto, se o bem, o justo, o correto e a coisa certa dependerem de minha boa vontade, poderia não fazê-lo em um dia ruim, quando estou de má vontade ou movido por emoções negativas. Poderíamos não realizar o bem a quem não gostamos, ou quando não nos sentimos à vontade a respeito de como seremos reconhecidos, retribuídos ou interpretados. Por outro lado, a vontade pode ser educada e também manipulada de modo a permanecer insensível a quem precisa, a quem merece, ao bem, ao justo, ao certo.

Fazer porque devo, preciso, inibe o indivíduo e a liberdade, mas garante que a ação será realizada. Dilui a bondade, a emoção, a empatia em prol do peso da lei, da consciência, do temor às consequências da fiscalização.

A parashá da semana, como muitas outras fontes judaicas, mistura as categorias. Aparecem nela mitsvót, isto é, preceitos, que condizem com nossa razão e, provavelmente, com nossa noção e vontade diante do certo, e deveres que nos comprometem pela autoridade de sua fonte. Estes últimos, inclusive, recebem a ênfase da promessa de benefícios e da ameaça de punições. Entretanto, deixam claro que somos nós os que escolhemos realizá-los ou não.

O judaísmo promove geralmente a integração daquilo que fazemos porque concordamos e do que fazemos porque nos comprometemos. Realizar por vontade e realizar por dever ao mesmo tempo. A primeira treinará nossa razão, nossa integridade interna, nossa vontade livre. A segunda, nossa seriedade, nosso comprometimento, e garantirá a estabilidade do bem comum. Fazer apenas por dever atenta contra nossa individualidade, contra nossa espontaneidade, contra nossa emoção e nossa razão. Fazer só por vontade arrisca a continuidade e o altruísmo, pois precisa da centralidade de “mim” – meu gosto, meu prazer, meu conforto – para tudo.

Que possamos achar, desenvolver e entregar o melhor de nós por nós e por tudo e todos com quem convivemos.

Shalom.


RABINO RUBEN STERNSCHEIN – Rabino da Congregação Israelita Paulista desde janeiro de 2008, Ruben Sternschein é bacharel em Educação e mestre em Filosofia Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, onde completou os estudos de doutorado em Filosofia Judaica e está prestes a entregar sua tese final. Foi ordenado rabino no Hebrew Union College, onde também obteve seu mestrado em Ciências Judaicas. Dirigiu a “Mikra-Net”, uma rede inter-universitária de estudos judaicos da qual também foi docente. Dissertou em mais de dez universidades, dirigiu o programa de formação de liderança educativa juvenil, foi bolsista premiado de prestigiosas fundações acadêmicas e educativas e se graduou também no programa de direção e liderança superior do Mandel Institute. Fundou e dirigiu a comunidade judaica liberal de Barcelona, exerceu o rabinato em Jerusalém e foi selecionado como representante judaico para o grupo inter-religioso da UNESCO que elaborou o documento: Uma Ética Universal.

Fonte: www.cip.org.br

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