ISRAEL – SUCESSO GARANTIDO! – POR JAYME VITA ROSO

326_especial_3_1“O sucesso econômico de Israel não é um resultado de progresso temporário, mas vem da natureza de seu povo e sua habilidade de se adaptar à realidade do mundo”.


Sigo, acompanho e interesso-me pelo Estado de Israel, que completa 70 anos desde sua fundação. Isso ocorre porque, nele, enxergo a ocorrência de processos milenares que se consolidaram no habitat permanente do povo judeu.

Dispensável, até um breve comentário, sobre o que o povo eleito se viu obrigado a viver e a conviver, sobretudo com os eventos surrealistas que o século XX nos exibiram e nos constrangeram a resignarmos, a revoltar-nos, a darmos asas a um voo no questionamento de nosso existir? Tudo e nada ou nada – vazio – e tudo!

É por acreditar num destino superior que, convicto, acredito na História, em que narram os Livros!

Num breve relato do que me impressionou e me invadiu as entranhas fora este preâmbulo, antes do que penso sobre Israel contemporâneo.

Começo questionando, com os Salmos, se Israel aprendeu com os próprios erros. E, com os Salmos 39 (38) – “O que posso esperar”; 40 (39) – “Anunciar a justiça de Deus” e 41 (40) – “Deus cuida do abandonado”. Eles, os Salmos, “supõem o contexto maior de uma fé que nasce da história e constrói história”[1], dando sentido a expressão: “Sim, ó Senhor! De todos os modos engrandeceste e tornaste glorioso o teu povo. Nunca, em nenhum lugar, deixaste de olhar por ele e de socorrer” (Salmos 19,22).

E, com Nathalia Becquart, relembro e dou realce que é atravessando o Mar Vermelho que os hebreus fixaram a experiência constitutiva de sua identidade, de serem salvos e liberados por Deus, único capaz de abrir uma passagem nas águas e de acalmar o vento: “O Mar Vermelho se transformou em caminho livre e as ondas violentas se tornaram planície verdejante” (Sabedoria 19,7)[2], além de proteger o povo do exército do faraó.

E Ester, a corajosa, com amor, dando realce ao povo que quer viver, assim mostrou sua integridade: “O rei ficou perturbado e todos os artesãos procuraram reanimá-la. O rei lhe perguntou: ‘O que há, rainha Ester? Diga-me o que deseja e eu lhe darei, nem que seja a metade de meu reino’. A rainha respondeu: ‘Se o senhor quiser fazer-me um favor, e lhe parece bem, o meu pedido é que me concede a vida e um desejo é a vida de meu povo’” (Ester 7, 1-3).

A harmonia é solicitação do Senhor: dele com seu povo. E a conclusão do livro da Sabedoria é eloquente: “Sim, ó Senhor! De todos os modos engrandeceste e tornaste glorioso o teu povo. Nunca, em nenhum lugar, deixaste de olhar por ele e de o socorrer” (Sabedoria 22).

Mas sempre existiram as admoestações, como, por exemplo, a corrupção da classe dirigente (Sofonias 3, 1-5). E a insistência com o erro, levou à destruição do Templo de Jerusalém, porque aprendeu a lição (Idem 3, 6-8), mas Sofonias anunciou a esperança, após as severas reprimendas (Idem 9-20).

O povo de Israel, ainda maculado por sua pretensa e insensata autossuficiência ao acolher o mal (Gênesis 3), antes já o levara a afogar o mundo, salvando-se apenas uma pessoa (Gênesis 4-11).

Então, como explicar que, ao completar 70 anos, Israel tenha se tornado uma “ilha de sucesso”?[3]

II

Os autores Kainan e Reuter, ambos profissionais qualificados, executivos de êxito sem par, logo na Introdução não abdicam de dar um sentido bíblico à história desse país, Israel, que se originou com Jacó, “rei da nação”, depois de vencer todos os obstáculos na luta contra o anjo de Deus (Gênesis 32:22-32). Assim, está chancelado, pela Torá, que Israel proveio de um homem, Jacó, vencedor de inúmeras lutas, até a narrativa do livro da Sabedoria, quando se incorporou ao nome e foi gerada a nação.

Mas o “presente como história”, é considerado e avaliado pelos autores, após consulta a mais de uma centena de executivos, que avaliaram “os dados indicam que nós podemos ser racionalmente otimistas sobre o futuro. Israel permanece num estável nível e tem a força para superar todas as existentes e futuras dificuldades”[4].

Israel, apesar de viver em clima de permanente hostilidade, mesmo assim, com o esforço de seu povo, consegue inventar, inovar e obter sucesso. Mas, nunca se esqueceu, porque o presente desnuda os desafios, as dúvidas e os riscos que o Estado de Israel se põe adiante para, sem esgotar, cumprir o seu destino.

Kainan e Reuter focaram os desafios de Israel, em vários aspectos, como as desigualdades sociais, a pobreza e o autoritarismo que se converteu com o tempo em anti-israelismo, o alto custo de vida, os estratosféricos preços dos imóveis, o excesso de regulação (burocracia), dificuldades estruturais e, sobretudo, as exigências permanentes, ininterruptas e custosas demandas de segurança.

Apesar desses desafios incessantes os dados indicam que Israel é um sucesso econômico e social, com uma história merecedora de reflexão.

A economia de Israel repousa em quatro vantagens obtidas nos últimos anos, mesmo sabendo que a leitura do passado pode até esclarecer que as escolhas foram frutuosas, como seguem:

• A vantagem global: a vantagem global de Israel deriva de ser uma nação de imigrantes: a natureza global de gerações de judeus errantes, a existência de âncoras judaicas e israelenses em todo o mundo, a proficiência popular em vários idiomas e a educação voltada para o mundo abertura.

• A vantagem empreendedora: Devido à cultura israelense que encoraja os empresários, Israel se tornou a “nação iniciante”, com todas as vantagens econômicas impulsionadas por ela.

• A vantagem tecnocientífica: isso combina pesquisa acadêmica com aplicações de alta tecnologia, o que fez de Israel um centro global de R& D e um premiado centro em pesquisa de ponta em vários campos.

• A vantagem demográfica: Isso deriva de ser um país com uma população relativamente jovem e altas taxas de natalidade em comparação com o mundo ocidental, juntamente com o processo de integração de dois grandes setores – judeus e ortodoxos ultra-ortodoxos – nos mercados de educação e trabalho.”

As observações e conclusões dos autores que embasaram o desenho das vantagens, a meu sentir, não aparta a existência, no cerne de uma tensão entre os resultados (quiçá, produtos da ciência aplicada) e a metafisica. Isso se explica com a evolução das ideias filosóficas da construção do mundo, originárias de Sócrates, Platão e Aristóteles, para levar à metafísica, de um lado, à causa de todo sistema, para a construção do universo tecnológico contemporâneo.

Então, os autores, como se esperava, com propriedade, formulam as três principais revoluções que estão ocorrendo em Israel, esclarecendo “que estão em diferentes estágios de evolução”:

“• O triunfo sobre o deserto, que levou o país ressequido a capacidades integradoras de legislação, gestão e operações, e tecnologia de economia de água serve como exemplo e modelo estudado por outros países. Hoje, Israel pode trocar água e conhecimento neste campo, em um mundo que está ficando mais quente e sucumbindo ao processo de desertificação.

• A energia barata que emana das enormes reservas de gás foi descoberta nas águas territoriais de Israel, e tem um impacto sobre o comércio em desenvolvimento de energia, além de uma vantagem relativa para a indústria de energia.

• A infraestrutura de transporte em geral e o transporte público em particular, que por muitos anos foi um obstáculo ao crescimento de Israel, ganhou força na forma de investimentos e desenvolvimento nos últimos anos.” (p. xii)

III

Que pensar para o futuro de Israel?

Impressionou-me que: “O sucesso econômico de Israel não é um resultado de progresso temporário, mas vem da natureza de seu povo e sua habilidade de se adaptar à realidade do mundo.

Por sua própria natureza, os israelenses são um povo global que está alojado em uma pequena ilha e fazem parte de uma rede lotada de laços com o grande mundo lá fora. São pessoas que santificam a aprendizagem e a educação em um ambiente que recompensa o conhecimento. Acima de tudo, eles se rebelam contra as convenções, não estão preparados para aceitar a situação existente e desenvolvem soluções criativas para sobreviver sob condições difíceis. Eles são pessoas que convertem desafios difíceis em êxitos revolucionários.” (p. xiii)

Também, relevantes que: “Os desafios enfrentados pelo Estado de Israel ainda são muito reais e existenciais. Para alguns deles, apenas o tempo resolverá, enquanto os restantes exigirão mobilização em nível nacional para alcançar a mudança. Alguns são desafios internos e outros são ameaças geopolíticas.” (p. xiii)

IV

E agora, como se apresenta?

1) O fascínio da implantação de uma economia socializada, sobretudo com a produção de alimentos provinda dos Kibuty, desvanece.

2) O sionismo é uma realidade concreta: o aliah concretizou-se, porque, em 2018, 46% dos judeus vivem na mesma terra de seus antepassados, com esse índice indicando crescimento sustentável nos próximos anos.

3) A influência preponderante dos judeus ortodoxos no aumento dos índices de natalidade, sobretudo, é, a meu ver, a chave da desmitificação de que os árabes seriam a maioria da população de Israel no futuro próximo.

4) Israel é a concretização dos valores judaicos intrínsecos e extrínsecos, como ser um país de imigrantes, o Holocausto foi o motor que impulsionou a criação do Estado de Israel, os refugiados e os novos imigrantes judeus têm acolhimento (egípcios, algerianos, marroquinos, iraquianos) e: “A responsabilidade mútua é um antigo termo judaico determinado por Chazal como uma regra moral e da Halachá – todo o povo de Israel é um fiador do outro. Seu significado original é que todo judeu é responsável pela observância das mitsvot de seu amigo, mas nos tempos modernos, a expressão tem um significado diferente: todo judeu é responsável pela vida e pelo bem-estar de seus amigos. Os israelenses levaram esse valor a extremo, já que o valor de um soldado israelense em cativeiro ou a ajuda de um turista israelense em uma zona de desastre não tem limites” (p. 21). Isso tudo, levou a existir que “A sociedade israelense é, como notamos, uma rede muito densa caracterizada por fortes conexões entre os indivíduos como resultado de um senso de destino comum, já que o estado está constantemente sob ameaça existencial.” (p.22).

5) É resultado do espírito de sobrevivência mútua, acredito, mais do que outro motivo, que conduziu as companhias israelenses a adotar o que é conhecido como “consciência coletiva” e implementou a chamada responsabilidade social, sem necessidade de legislação coercitiva.

6) A vida é santificada como entendida no judaísmo, consolidando os princípios do Mishná. Por isso, o sistema de saúde se volta à pessoa, não ao cidadão: é o humanismo em cerne, como valor também básico (e sobretudo religioso, como penso).

Daí, desses princípios religiosos, que a vida é respeitada (poucos acidentes nas estradas) e avança a longos passos, o desenvolvimento tecnológico de prevenção da vida.

7) Israel é a terra das oportunidades, pois: “O sonho israelense de sucesso pessoal, econômico e social talvez se baseie no sonho americano, mas vai muito além disso. A sociedade israelense exige igualdade: entre asquenazim e sefaradim, entre os moradores do centro e da periferia, entre mulheres e homens, e entre seculares e religiosos. Esta é uma sociedade baseada em valores que permite a mobilidade, o que contribui para a sua coesão.” (p. 37)

8) Israel é consciente de que os valores sociais do povo repousam nas forças militares, para garantir a sua sobrevivência, com a prestação de serviços militares anuais, com a forte participação das mulheres nas forças armadas, para concretizar que a vida humana tem valor no serviço militar.

Entretanto, um sistema democrático complexo, pela sua essência, natureza e tipologia, com crises institucionais sempre alargados por fatores externos (o ódio) os cidadãos de Israel são, na maioria, felizes, porque, como foi dito “viver em Israel é uma escolha, não uma necessidade”.

E concluem os autores: “It is very good for a baby tobe born in Israel, Israel is a success story” (p. 274).


[1] Bíblia Sagrada. Editora Paulus. 2009. p. 636

[2] Nathalie Becquart. Naviguer avec Saint-Ignace. Vie Chrétienne: Paris. p. 57

[3] Noga Kainan, Adama Reuter. Israel: Island of Sucess. Carolina do Sul: Create Space Independent Publishing Platform. 2018.

[4] Luciano Canfora. Il presente come storia. Perché il passato cichiaris chele idee. Milão: Rizzoli, 2014, 265 p.


JAYME VITA ROSO – Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, é especialista em leis antitruste e consultor jurídico de fama internacional, ecologista reconhecido e premiado, “Professor Honorário” da Universidade Inca Garcilaso de La Vega de Lima, Peru e autor de vários livros jurídicos. Saiba mais.

vitaroso@vitaroso.com.br

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