RELATO DE UMA VIDA – POR ARNALDO NISKIER

355_especial_1_1Odilon Niskier era meu irmão mais velho. Morreu com 94 anos, vítima da pandemia, e considerava-se um sobrevivente do Holocausto. De fato, havia nascido na Polônia (como os meus dois outros irmãos). O povo judeu tem a tradição, em cada geração, de ter 36 homens justos. Odilon era um deles. Essa é a razão da sua sobrevivência.

O rabino Nilton Bonder, da Congregação Israelita do Brasil, afirma que “ser gentil é amar o mundo, sem a perspectiva de retribuição. É a descoberta de que, muito melhor do que ser amado, é amar.” Foi o estilo do meu irmão, em companhia da esposa Celina, dos filhos Paloma, Clarice e Joice, além dos netos Vítor e Davi. Assim conduziu a família.

Participou ativamente dos movimentos dos advogados, a partir da sua entrada (por concurso) no Banco do Brasil. Apesar disso, nunca quis pleitear cargos de direção partidária. Era um homem de esquerda e se orgulhava disso. Acompanhava com muito carinho a política do Estado de Israel, onde temos uma família numerosa. Aqui, sempre foi torcedor do América Futebol Clube.

Quando aposentou, no BB, dedicou-se ao magistério na Universidade Veiga de Almeida e na Feso de Teresópolis (Fundação Educacional Serra dos Órgãos, hoje UniFeso). Fez o maior sucesso, dialogando sempre com os seus alunos. Foi um homem extremamente dedicado. Quando fiz os meus dois mestrados na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (o segundo dos quais de cátedra), lá estava ele na primeira fila, prestigiando o seu irmão mais novo. Foi sempre a sua marcante característica.

Quando foi homenageado pelos amigos, ao completar 60 anos de idade, no seu histórico discurso registrou que nossa família sempre teve compromisso com a cultura. Assim, estimulou as três filhas. Ao completar 80 anos, teve vontade de elaborar a sua rica biografia. Sugeri o jornalista Renato Sérgio para essa tarefa e ele cumpriu a missão com brilho. Surgiu o livro “Relato de uma vida”, de Edições Consultor.

O seu ativismo político custou-lhe duas prisões. Mas isso não arrefeceu o seu ânimo. Dedicou-se à causa da mesma forma que protegeu a família, a partir do carinho devotado à nossa mãe. Pessoas como o Odilon Niskier não devem morrer nunca. Ele continuará para sempre iluminado.


ARNALDO NISKIER – Membro da Academia Brasileira de Letras, presidente do CIEE/RJ e formado em Matemática e Pedagogia. Saiba mais.

aniskier@openlink.com.br

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