JULGAMENTO DE NETANYAHU, DIA TRISTE À NAÇÃO – POR DAVID S. MORAN, DIRETO DE ISRAEL

 

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Netanyahu é sem dúvida Primeiro Ministro hábil e por isso governa o país o tempo mais longo de um outro na função. É popular no mundo e em Israel e sem dúvida terá que dar respostas à Justiça e convencer os juízes que “não houve nada”. O julgamento em si terá inicio só em 24 de julho e provavelmente durará longos meses. Se for julgado culpado, poderá recorrer à Suprema Corte.

 


O domingo (24/5), foi um dia triste na história moderna de Israel. Pela primeira vez, em 72 anos de independência, um primeiro ministro em exercício do cargo, foi obrigado a se apresentar ao tribunal da justiça, em Jerusalém, ouvir as acusações contra ele, de corrupção, fraude e favorecimento de companhia de comunicação. Depois da leitura das acusações, Netanyahu teve que dizer se as entendeu e respondeu afirmativamente.

Antes da abertura do julgamento, Netanyahu fez de tudo para não ser fotografado no tribunal. Até alegou gastos desnecessários com os seguranças. Isto para uma pessoa que criou um governo de 37 ministérios e gastos em cargos, enquanto cerca de 20% da população está desempregada.

Quando não teve jeito, chegou meia hora antes do inicio da leitura das acusações, para preparar sua fala no Tribunal (que é proibida), ladeado por ministros e deputados, antecipadamente convocados. O Likud também organizou uma caravana de 50 ônibus, com ativistas, para protestar contra o julgamento e clamar: “Netanyahu não caminhará sozinho”. Em seu discurso, Netanyahu disse, entre outras: “Elementos na Policia e na Procuradoria juntaram-se à esquerda, para tirar do poder premier forte da direita”. Netanyahu parece ter esquecido que governa o país há mais de 10 anos e que ele nomeou o Procurador Geral, General (ref.) Dr. Avihay Mandelblit, que antes nomeou para ser seu confidente e Secretário do Governo, filho de um membro do Etzel . Mandelblit é religioso e tem afinidade com a linha política de Netanyahu, mas é “reto como uma régua”. Shay Nitzan, que liderava os trabalhos, é outro que estudou em Yeshiva, religioso, observante de Shabat.

À chefia da Policia, Netanyahu buscou o vice-diretor da Sahabak (o FBI israelense), Roni Alsheikh, religioso que morava num assentamento. Seu defeito, pelo visto foi que não se intimidou e buscou a verdade. Depois de 4 anos, seu mandato não foi renovado e há um ano e meio, a Policia de Israel não tem Comissário.

Netanyahu: “As investigações foram costuradas e não é de se estranhar que as atas de acusação são infundadas e costuradas”. Mas foi o próprio Netanyahu que disse: “Não há nada, porque não houve nada” e apesar disso, em vez de enfrentar a justiça e provar sua inocência, fez todos os truques possíveis para fugir da justiça, durante cerca de 4 anos.

357_news_03.2O Primeiro Ministro Netanyahu alega : “Não há limites para me derrubar e não só a mim, ao Likud e ao bloco da direita. Isto é democracia”? Com esta frase Netanyahu quer envolver toda a direita e dividir o povo. Se for provado – tomara que saia inocente – que ele recebeu propinas, isto não significará que todo o Likud, ou a direita, é corrupta.

Infelizmente, Netanyahu está orquestrando ministros e deputados contra as instituições legais do país e ou para amedrontar os que nelas trabalham. Seu líder do governo, Dudi Amsalem, numa entrevista radiofônica chamou o Procurador Geral, Mandelblit de “deliquente, aparentemente”. O aparentemente foi adicionado para que não seja processado. O recém nomeado Ministro da Educação, Yoav Galant adicionou: “Mandelblit não tem autoridade moral para dirigir o julgamento”. Já o atual líder do governo, Miki Zohar, disse na TV: “Se o Primeiro Ministro for condenado, isto não é justiça”. Outro porta-voz não oficial, o filho do premier, Yair (que deixou dívida no hotel em que estava hospedado no Rio), ousou comparar o julgamento do pai ao do Capitão Alfred Dreyfus, na França. A bisneta do Dreyfus, Yael Pearl-Ruiz, disse à TV i24 estar chocada e que não há comparação entre os julgamentos.

Evidentemente, este triste episódio foi foco da mídia internacional também. A exceção à leitura das acusações foi a repórter da TV alemã, RTL, que perguntou: “Como é possível que o acusado em corrupção, fraude e favorecimento de empresas, ainda esteja no cargo de Primeiro Ministro”?

Netanyahu, que disse querer economizar à nação os gastos de trazer seus seguranças ao tribunal, por outro lado quer que o Estado pague as dezenas de advogados que já contratou e a maioria deixou o caso. Trata-se de milhões de shekalim. Ele já recebeu ajuda, inclusive do seu primo americano, no valor de 300 mil dólares, que a Justiça o obrigou a devolver. Este seu primo, Nathan Milikovski, grande produtor de aço, parece estar envolvido em 2 casos que não chegaram à Justiça. Num, não foi apurado como o Netanyahu ganhou 16 milhões em ações de aço. No outro, que o ex-Ministro da Defesa do Netanyahu e que também foi o Comandante chefe de Tsahal, Moshe (Bugui) Yaalon, insiste que seja apurado, porque Netanyahu aprovou sozinho, sem informar – como é de costume – que aprovou para a fabricante alemã de submarinos Thyssenkrupp vender submarinos ao Egito. O acordo com a Alemanha é pedir a Israel aprovação na venda de material militar que é vendido a Israel e que não seja igual ao vendido ao Estado de Israel.

Netanyahu é sem dúvida Primeiro Ministro hábil e por isso governa o país o tempo mais longo de um outro na função. É popular no mundo e em Israel e sem dúvida terá que dar respostas à Justiça e convencer os juízes que “não houve nada”. O julgamento em si terá inicio só em 24 de julho e provavelmente durará longos meses. Se for julgado culpado, poderá recorrer à Suprema Corte. Os custos de sua defesa estão estimados em cerca de 10 milhões de shekalim ( R$ 15 milhões). Há 333 testemunhas da acusação, mas não necessariamente todos serão convocados.


DAVID S. MORAN – Mora em Israel, é formado em Relações Internacionais pela Universidade Hebraica de Jerusalém e Major da reserva do exército israelense.

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