UM MOMENTO DE DEDICAÇÃO – DR. TALI LOEWENTHAL

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As pessoas não são perfeitas. Mas, através de um momento diário de dedicação, com a força de uma oferenda contínua, nos re-conectamos com nosso Criador.

O núcleo da vida do Povo Judeu é o Santuário. Na época de Moshe, ele foi construído no Monte Sinai e era transportado através do deserto. Quando o Povo judeu acampava, o Santuário era montado. Mais tarde, ele foi construído de uma forma mais sólida como o Templo de Jerusalém. Entretanto, o Primeiro Templo e, depois, o Segundo Templo foram ambos destruídos. Somente a Parede Oeste do Monte do Templo permanece, sendo visitada por Judeus de todo o mundo.

Nós aguardamos a reconstrução do Templo, o que ocorrerá com a vinda do Mashiach. Entretanto, nós também estamos cientes de que existe um outro Santuário que nós mesmos podemos construir. Este é o Santuário interior dentro da vida de cada indivíduo.

A Parashá desta semana [1] e a próxima descrevem alguns aspectos do serviço no Santuário construído por Moshe. O objetivo é incorporar o equivalente disto em nossas vidas pessoais. Com isto, assim como a Shechinah – a Presença Divina – habitou no Templo, também Ela habitará em nossos corações e nossos lares.

Uma das principais atividades do Templo era a entrega de oferendas. A mais importante destas era chamada “Oferenda Contínua”. Ela era trazida em duas partes: um cordeiro pela manhã, a primeira de todas as oferendas a serem trazidas a cada dia; e um cordeiro à tarde, concluindo o serviço do Templo. Com o cordeiro, também eram trazidos uma pequena quantidade de vinho, azeite de oliva, farinha e sal.

A Oferenda Contínua era trazida em nome de todo o Povo Judeu e era pago de forma coletiva por cada pessoa que doava metade de um shekel de prata por ano. Os Sábios nos dizem que esta oferenda diária também tinha o poder de expiação da nação: a oferenda matutina expiava pelas transgressões da noite, enquanto a oferenda do final da tarde expiava por aquelas do dia [2].

O quê nós aprendemos desta Oferenda Contínua? Que, para sermos dedicados a D’us e para termos a Presença Divina habitando em nossas vidas, nós não precisamos queimar tudo o que possuímos no Altar! Em termos de quantidade, D’us não é muito exigente: somente uma pequena parte de cada aspecto de nossas posses, expressa pelo cordeiro, o vinho, azeite de oliva, farinha e sal: animal, vegetal e mineral. O próprio custo disto era compartilhado por todo o Povo Judeu.

Entretanto, em termos de qualidade, demanda é grande: a oferenda devia ser trazida de todo coração, com vigor e alegria, e com fidelidade confiável. Então, nossa oferenda diária atrai a Presença Divina para nosso coração e para nosso lar.

Como podemos expressar esta Oferenda Contínua? Em um nível, através das rezas da manhã e da tarde, que correspondem às Oferendas Contínuas matutinas e vespertinas. Mas ainda existe um outro passo. Este é, de um jeito muito pessoal e particular, dedicando de forma regular a D’us nosso primeiro momento ao despertar. Nós fazemos isto pela recitação de uma pequena prece assim que acordamos: Modeh Ani – “Sou grato a Ti, ó Rei vivo e eterno, por ter restaurado dentro de mim minha alma…”. Ela pode ser encontrada em qualquer Sidur.

Este momento puro de dedicação logo no início do dia tem o efeito de atrair santidade em cada aspecto de nossas vidas. Como a Oferenda Contínua no Templo, ele também tem o poder de trazer expiação, corrigindo nossos vários erros espirituais. As pessoas não são perfeitas. Mas, através de um momento diário de dedicação, com a força de uma oferenda contínua, nós re-conectamos com nosso Criador. Nós resolvemos dedicar nossa energia e alegria para coisas que são puras e saudáveis. Em resposta à nossa oferenda, D’us nos dá bênçãos…

A bênção final será a reconstrução do Templo em Jerusalém, quando novamente nós traremos a Oferenda Contínua para D’us [3].

Referências:

1. Vayikra caps. 1-5.

2. Bamidbar Rabbah 21:19.

3. Baseado no Likkutei Sichot do Lubavitcher Rebbe vol. 3, pp. 939-942.


DR. TALI LOEWENTHAL– Diretor do Chabad Research Unit, Londres

Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg