IVAN PINHEIRO MACHADO E “O MUNDO COMO ELE NÃO É” – POR JACOB KLINTOWITZ

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No último dia 7 inauguramos a mostra de pinturas de Ivan Pinheiro Machado no Espaço Cultural Citi. Trata-se de um artista de largo percurso no universo da pintura e do mundo cultural. A sua obra é uma reflexão profunda sobre as imagens na cidade e a realidade da pintura.


 

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É tão forte o verismo das cenas urbanas de Ivan Pinheiro Machado que podemos não sentir que se trata de ficção. E, no entanto, a verdade da sua pintura está em que este verismo da convicção convencional não está ali. A sua pintura tem a particularidade de uma delicada luz que a percorre e é quase despercebida. É deste diálogo entre o desenho e o diáfano que ela é feita. Este jogo entre o opaco e a iluminação que se agrega a ele como uma pele é a sua face mais profunda.

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O assunto é o urbano, registra uma existência visível, e pode ser chamado de pop art ou de hiper-realismo. Mas isto em nada nos ajudará. Talvez possamos reconhecer algumas destas paisagens. Todos os elementos são nossos conhecidos, as ruas, os letreiros, os táxis, os altos prédios. Nós temos a memória desta visualidade ou, se não, podemos imaginá-la tal qual é, o que lhe confere uma vigorosa aparência de verdade. Mas podemos perceber que não conhecíamos essas sombras ocasionais. Ou este amarelo da palheta distinto da cor automotiva. Mas, antes de todos estes detalhes, o que nos parece único é a luz sutil que perpassa por todo percurso. É esta iluminação sobre o mundo ou a sua face oculta, a verdade que emana desta pintura.

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Que reflexos a pintura de Ivan Pinheiro Machado causará no existente? Eu me pergunto isto porque talvez a arte não seja uma consequência, mas um fator de acréscimo. É doce a expectativa de que exista certo tom de azul porque Vincent van Gogh o pensou. Eis, enfim, a anunciada glória do ser humano, pois capaz de somar ao universo ainda em construção.

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Ivan Pinheiro Machado é dotado deste subterrâneo poder do pintor, quanto mais a sua pintura parece registrar a realidade das coisas, a existência inegável do que está à nossa volta, mais a imagem é impregnada de sombras e luzes e é capaz de refletir o espírito de quem as contemplou e criou. Ivan Pinheiro Machado? Trata-se de um realista.

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As imagens parecem que são iguais às coisas, entretanto elas são idênticas ao olhar do artista. O que no primeiro momento lembra a fotografia documental de uma cena urbana tem a capacidade de nos capturar para uma nova intuição, o peso subjetivo, o olhar do artista e a poética desta construção inteiramente ficcional. O mundo não como nos parece, mas como Ivan Pinheiro Machado o concebe.


JACOB KLINTOWITZ (28.06.1941) – Crítico e editor de arte. Saiba mais.


 

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