PEQUENA “LONGA” HISTÓRIA – DAVID IASNOGRODSKI
Toda história é longa em função dos atos que se seguem. Toda história é longa porque atravessa gerações.
Tudo inicia em “SHPOLA”.
Dia lindo!
Ensolarado!
Frio.
Muito frio. Parecendo frio da Sibéria…
Frio de Shpola.
Cidade pequena.
Muito pequena.
Início do século XX.
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– Filhos é hora de nos reunirmos. Assunto muito importante. Acabo de receber carta do Brasil. Vamos sair daqui. Vamos para o Brasil.
– E o pai que está na guerra?
– É um problema! Vamos esperar mais um pouco. Vou ganhar o “nenê” aqui. E depois pegaremos o “vapor” e iremos para o Brasil. Aqui está muito difícil!
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– “Nenê” já nasceu. Esperamos um pouco mais. Ele vai fazer o segundo ano e o “pai” ainda não chegou da guerra. Maldita guerra! Não gostaria de ir sem “ele”.
– Eu também, disse o “filho” do meio.
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E o tempo passou e finalmente o “pai” chegou da guerra. Duas notícias o esperavam. A chegada do filho e a ida para o Brasil.
– Amanhã pegaremos o “vapor”.
– Já? Exclamou o pai.
– Sim, amanhã. Já estou com as passagens que “eles” mandaram do Brasil.
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Assim chegou a data. Tão aguardada.
Muitos problemas estavam acontecendo, mas a despedida de tudo também não é fácil…
Zarparam com destino ao Brasil.
Viagem longa.
Muito longa.
Mar revolto.
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– Como está sacudindo este “vapor”!
– Tens que agüentar. Estamos “pertinho” do mar. Só tivemos dinheiro para estes lugares. Pertinho do porão! Pertinho do mar… Vamos agüentar! “Lá” estava pior e estava piorando muito! Tudo é para o nosso bem…
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E o tempo “longo” passou!
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– Estamos chegando.
Chegando no Brasil. Chegando em Porto Alegre. Vai ser difícil, mas não tão difícil como estava lá! Já sabemos dizer um a expressão na nova língua que nos espera…
– Muito obrigado, diz o filho do meio.
– Isso mesmo. Devemos agradecer sempre! A tudo e a todos.
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Desceram no Porto de Porto Alegre.
Alguns cumprimentos.
Logo foram para a Rua Santo Antonio.
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Depois para a Rua Henrique Dias.
Abriram um armazém.
Vida difícil.
Muito difícil.
– Mas não tanto quanto lá, exclamava sempre a mãe!
Os filhos crescendo.
Trabalhando como mascates pelas ruas da “grande” Porto e sempre Alegre.
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Os filhos montaram família.
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Tiveram filhos.
Cresceram.
Trabalhando e estudando.
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Estes filhos tiveram “seus” filhos.
Também estudando e se formando.
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Século XXI.
A terceira geração dos provenientes de Shpola estão aí.
“Curtindo” a Porto Alegre.
“Curtindo” as redes sociais.
“Compartilhando” sua história.
Uma pequena “longa” história.
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Vamos pensar juntos: foi uma vida difícil. Foi uma decisão dolorosa daquela mãe e ainda esperando o “pai” que estava na guerra (primeira guerra mundial). Foram dias “tenebrosos” em função da grande decisão e dar à luz a mais um “nenê”… Imaginem a cena! Cena de cinema…
O imigrante tem sempre sua história.
E nós temos sempre que contá-la e lembrar das suas amarguras, desilusões, decisões e sorrisos.
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Toda história é longa.
Toda história é longa em função dos atos que se seguem.
Toda história é longa porque atravessa gerações.
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E essa é a pequena “longa” história.
Pequena no número de palavras e letras.
Longa pelas gerações que já se passaram e ainda virão.
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Tudo iniciou na Shpola (Pertinho de Kiev).
Cidade pequena e pacata.
Hoje é lembrada no outro lado do mundo. Na Porto Alegre – “sempre” alegre. Situada no Brasil. País “gigante” que esteve e está sempre aberto aos imigrantes.
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Pequena “longa” história, que talvez se aproxime de várias outras pequenas e “longas” histórias. De outros imigrantes. Que também tem sempre suas histórias: pequenas e “longas”.
É o mundo do imigrante…
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Parabéns aos imigrantes.
Parabéns ao país que acolhe tão bem estes imigrantes.
Parabéns à população que acolhe com todo o sorriso este “imigrante” que vem dolorido em sua alma mas com muitos agradecimentos a todos que o acolhem
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– Obrigado! (Disse a mãe e o pai àqueles filhos)
Um obrigado a todos.
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Meus pais foram imigrantes!
Meus pais vieram ao Brasil.
– Obrigado!
DAVID IASNOGRODSKI – escritor, engenheiro, administrador. Saiba mais.