“DEZ MITOS SOBRE OS JUDEUS”, O NOVO LIVRO DE TUCCI CARNEIRO

No livro “Os Dez Mitos sobre os Judeus”, Maria Luiza Tucci Carneiro, historiadora da USP, analisa dez entre os mitos mais arraigados sobre os judeus, que têm contribuído para a persistência do antissemitismo. Publicado pela Ateliê Editorial, com o apoio da CONIB, o livro é composto por textos breves, independentes, sem ordem obrigatória de leitura. Estes são os mitos abordados:

Mito 1: Os judeus mataram Cristo

Mito 2: Os judeus são uma entidade secreta

Mito 3: Os judeus dominam a economia mundial

Mito 4: Não existem judeus pobres

Mito 5: Os judeus são avarentos

Mito 6: Os judeus não têm pátria

Mito 7: Os judeus são racistas

Mito 8: Os judeus são parasitas

Mito 9: Os judeus controlam a mídia

Mito 10: Os judeus manipulam os Estados Unidos

O antropólogo Kabengele Munanga escreve no prefácio “São mitos construídos para reificar e atualizar os sentimentos de discriminação, hostilidade e ódio que remontam à noite dos tempos. Eles nos transportam ao coração da função política e ideológica dos mesmos”.

Estudiosa de diversas minorias sob o viés da intolerância e dos direitos humanos, a autora pretende escrever outras obras para análise dos mitos sobre grupos como ciganos, negros, indígenas, homossexuais.

Tucci Carneiro é diretora do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) e do Arquivo Virtual sobre o Holocausto e Antissemitismo (Arqshoah) da Universidade de São Paulo. Entre seus temas de estudo estão o racismo e o antissemitismo, a repressão às minorias, a censura no Brasil, os refugiados do nazi fascismo. Seu livro ”Cidadão do Mundo: O Brasil diante do Holocausto e dos Refugiados do Nazismo” foi recentemente lançado na Alemanha.

Crédito da foto: Boris Kossoy


SOBRE O LIVRO

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Dez mitos sobre os judeus destaca-se como a mais recente produção de Maria Luiza Tucci Carneiro, historiadora da Universidade de São Paulo, reconhecida por seus estudos sobre o antissemitismo na Era Vargas. Fundamentada em fontes históricas e inspirada na realidade racista que continua abalando o mundo contemporâneo, Tucci Carneiro faz uma análise contundente do antissemitismo enquanto uma das mais antigas versões de racismo. Revigorado pelos mitos políticos que o mantem vivo e favorecido pela explosão tecnológica que abre canais de acesso à informação, o antissemitismo persiste instigando o ódio.

Dez Mitos sobre os Judeus convida os leitores a uma
 viagem de exploração ao imaginário coletivo e à reflexão sobre a realidade do mundo contemporâneo que, nestas últimas décadas abriu espaço para as manifestações racistas. Em pleno século XXI, os judeus continuam a ser interpretados como fonte de malignidades, um povo a quem se atribui poderes sobrenaturais e uma onipresença avassaladora.

Reconstituindo narrativas seculares, textuais e iconográficas, a autora demonstra que o antissemitismo é uma “construção” que, de forma sedutora, faz os fatos parecerem verdadeiros. Alimentado pela cultura popular e erudita, o antissemitismo engana. Portanto, este é um livro provocativo por reconstituir dez grandes mentiras com as quais convivemos diariamente, muitas vezes, sem nada saber sobre suas origens e propósitos. São ideias que se organizam configurando uma dinâmica de imagens que, associadas entre si, formando uma rede complexa de associações sobre os judeus: uma rede sutil e poderosa que gera mentiras que serão usadas como verdade.

Ao (des)contruir esta rede de sutiliezas, Tucci Carneiro demonstra como o mito é elaborado, ou seja, modelado com o objetivo de “fazer crer”; construído para enganar um determinado grupo que acredita no que ouve ou pensa que vê. Enfatiza como o mito mente e consegue se manter através da repetição e da constante reelaboração da sua narrativa, sempre sedutora, exagerada nos detalhes. Para apresentar como os mitos regem o antissemitismo secular e sempre atual, a autora analisa dez narrativas que contam diferentes estórias sobre os judeus e que, no seu conjunto, dão corpo e substância ao mito que também é história. Analisa como os mitos colaboram para a composição de uma imagem deformada do povo judeu como um todo, delineado através de imagens antiestéticas, diabólicas, aterrorizantes e antissociais. Apresenta um conjunto de elementos simbólicos e míticos que são diariamente acionados pela mídia e pela tradição oral, mantendo viva a mentira que, cada vez mais, ganha projeção nos cenários do mundo globalizado.

Tendo em vista a dinâmica dos mitos políticos, Tucci Carneiro explicita sua gênese, transformação e proliferação, na maioria das vezes comandadas por vozes presentes no nosso cotidiano, difíceis de ser identificadas por ser esta uma das capacidades do mito: a de se metamorfosear como um camaleão e de se multiplicar como um vírus, sem diagnóstico previsível. Muitas vezes, os mitos circulam como uma cultura de periferia, sendo interpretados como ingênuos, sem intenção de matar. Mas, se reavaliados no seu conjunto, podem trazer graves consequências para o ser humano, como aconteceu durante a Era Nazista.

Considerando-se que o mito sustenta o antissemitismo histórico, a autora ressalta que a cada versão da mentira, o processo de construção do mito vai sendo reforçado, ao longo dos tempos, por um conjunto de outras narrativas, cuja dinâmica abrange o mito do herege, do judeu errante, da “raça” pura, do povo “bárbaro, falso e hipócrita”, do povo invasor, apenas para citar alguns exemplos. Dentre os mitos antissemitas, o livro analisa as versões de que: os judeus “dominam a economia mundial”, “funcionam como uma entidade secreta”, “mataram Jesus Cristo”, “não existem judeus pobres”, “eles controlam a mídia”, “são racistas”, “se consideram superiores”, “são avarentos”, “não querem se integrar nas sociedades onde vivem”, “são um povo sem terra e sem pátria” e “manipulam os EUA”.


SOBRE A AUTORA:

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Maria Luiza Tucci Carneiro, nasceu em Santa Adélia (SP) e graduou-se em História pela Universidade de São Paulo, onde atuou como Professora Livre Docente do Departamento de História. Atualmente é coordenadora do LEER- Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação junto ao qual desenvolve o projeto Arqshoah que resgata a história e a memoria dos judeus refugiados do nazifascismo. Autora de inúmeras obras sobre o tema da intolerância dentre os quais: O Anti-semitismo na Era Vargas (3ed. Perspectiva); Preconceito Racial em Portugal e Brasil Colônia: os cristaos-novos e o mito da pureza de sangue (3ed., Perspectiva); O Veneno da Serpente: reflexes sonbre o antissemitismo no Brasil (1ed., Perspectiva); Livros proibidos; ideias Malditas (Ateliê Editorial); Holocausto, crime contra a Humanidade (Ätica); Judeus e Judaismo na obra de Lasar Segall (Ateliê Editorial), em co-autoria com Celso Lafer; Brasil, Refúgio nos Trópicos, em co-autoria com Dieter Strauss (Estação Liberdade).

Recebeu o Prêmio Jabuti pelas obras O Olhar Europeu: o negro na fotografia brasileira do Século XIX; e A imprensa confiscada pelo Deops, 1924-1954, ambos em co-autoria com Boris Kossoy (Edusp), em 2004.

Recentemente lançou na Alemanha o livro Weltbürger (Lit Verlag), traduzido por Marlen Eckl, do original em português Cidadão do Mundo: O Brasil diante do Holocausto e dos Refugiados do Nazifascismo 1933-1948 (Perspectiva; Fapesp).

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