TÉDIO CONTEMPORÂNEO – MERALDO ZISMAN

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Não há o que dialogar quando do lado contrário militam os adoradores da morte. Discutir estes fatos é tedioso. O que sei é que o fanatismo de qualquer espécie: ideológico, político, religioso consiste em intensificar os nossos esforços ao ponto de cozinhar viva uma pessoa por ideias mortas.


 

(Chega de Intelectualização)

Tédio é a repetição de velhos acontecimentos que todo dia ocorrem — de novo — e que a maioria pensa ser ‘novidade’. Assim é com a maioria das publicações e notícias sobre o recente fato ocorrido no dia 7 de janeiro de 2015 em Paris contra o jornal hebdomadário Charlie Hebdo. Escreveu Nelson Rodrigues (1912-1980): “Pode-se perguntar por que o Terror não se cansa de ser o terror. O terror tem que existir, mesmo sem motivo. O Terror que busca razões, e se justifica, não sobrevive” (*).

Mas, tudo tem um limite. Há horas em que é inaceitável ser mal informado. E uma professora universitária especializada em Oriente Médio não é mal informada. Quando diz que exercer a liberdade de expressão, legalmente garantida, é algo que não se faz, é colocar-se do lado da barbárie. Outro professor universitário vai mais longe: os culpados são as vítimas. “Qual a graça de se fazer charges com Maomé? (…) Quem faz uma provocação dessas não poderia esperar coisa muito diferente”. É como quem acha que a vítima é culpada pelo estupro, por ser atraente. É muito triste quando leio professores universitários brasileiros afirmarem sua posição deturpada da verdade.  Mas as nossas intelectualidades acadêmicas e a maioria da nossa mídia não creem nessas coisas. Possuem um discurso padrão há mais de 12 anos: Israel é o culpado pelo terrorismo.

Tomo emprestado do sociólogo Demétrio Magnoli (não judeu, creio eu), na edição da Folha de São Paulo (11/1/2015) quando diz:  “É claro que não estou defendendo os ataques”, esclareceu de antemão uma dessas tristes figuras, antes de entregar-se à defesa, na forma previsível da condenação das vítimas “justiçadas”. “Não se deve fazer humor com o outro”, sentenciou pateticamente Arlene Clemesha, que ostenta o título de professora de História Árabe na USP, para concluir Com uma adesão irrestrita à lógica do terror jihadista. É preciso, disse, “tentar entender” o significado do ataque: “um atentado contra um jornal que publicou charges retratando o profeta Maomé, coisa que é considerada muito ofensiva para qualquer muçulmano”.

Não há o que dialogar quando do lado contrário militam os adoradores da morte. Discutir estes fatos é tedioso. O que sei é que o fanatismo de qualquer espécie: ideológico, político, religioso consiste em intensificar os nossos esforços ao ponto de cozinhar viva uma pessoa por ideias mortas. Isto leva ao castigo do Tédio Vital ou a Epidemia da Depressão. Quem conseguir matar o Tédio terá realizado o maior serviço à Humanidade e a Vida. Chega de intelectualização maldosa. Não falo das patológicas…

 (*) Flor de Obsessão: As 1000 melhores frases de Nelson Rodrigues (Seleção Organizada por Ruy Castro Ed. Companhia da Letras, 1997. pg. 165.)


MERALDO ZISMAN – Médico psicoterapeuta. Saiba mais.