PESSACH – LIBERDADE PARA A PESSOA INTEIRA – DR. TALI LOEWENTHAL
Sair do Egito foi um acontecimento crucial para o Povo Judeu, e que levou ao contato exclusivo com o Divino para toda a nação reunida no Monte Sinai. Cada homem, mulher e criança tomaram parte nisto juntos. Foi como se todo o Povo Judeu tivesse atingido o nível espiritual da profecia, a liberdade final.
A Torá nos conta que, para a maioria do Povo Judeu, isto foi muito difícil de suportar: a experiência plena da Divindade era muito intensa. Eles pediram a Moisés para que ele fosse aquele que chegaria perto de D’us e, depois, os ensinaria as leis Divinas. Ainda assim, Moisés queria que todos vivenciassem plenamente o Divino.
Qual é a diferença entre ser capaz de vivenciar a Divindade e de não ser capaz de fazê-lo? Isto tem a ver com a natureza interior da pessoa. Existe uma Alma Divina, ela própria uma centelha Divina, que anseia pela Santidade e pela Divindade. Também existe uma Alma Animal, que é geralmente opaca às profundezas da espiritualidade e, ao contrário, está focalizada em gratificar seus próprios desejos e emoções.
Às vezes, as emoções da Alma Animal tomam formas semelhantes à espiritualidade, tais como o prazer intelectual e estético, e seus níveis mais elevados são, portanto, chamados de Alma Intelectual. Entretanto, há uma grande diferença disto para a apreciação da Divindade infinita.
Estas diferentes dimensões da Alma residem dentro do corpo com o seu próprio conjunto de necessidades e desejos. As limitações do corpo e da Alma Animal restringem o relacionamento do indivíduo com a Santidade. Pode haver um intenso e poderoso vislumbre do Sagrado – tal como todo Judeu vivenciou no Sinai – mas, ainda assim, ele não pode ser absorvido. O ‘brilho’ etéreo não pode se tornar a nossa realidade consciente, pois o ‘recipiente’ do nosso ser é muito material. Não podemos suportar ou conter a liberdade, pois ela é muito intensa.
O Êxodo do Egito – a libertação da escravidão – foi, portanto, primariamente a libertação da Alma Divina. Para que a Alma Animal e o ser físico da pessoa pudessem alcançar a liberdade, precisou haver um processo de autotransformação em preparação para a revelação no Sinai. Isto é expresso em um assunto mencionado na Parashá [1]. A Torá descreve o ciclo de festas no calendário judaico. Entre Pessach e Shavuot, passam-se sete semanas da “Contagem do Ômer” [2]. Os ensinamentos chassídicos explicam que estas sete semanas representam as sete emoções dominantes da Alma Animal que nós tentamos refinar durante este período, em preparação para o encontro com o Divino no Sinai na festa de Shavuot. A recitação dos Dez Mandamentos na Torá (na quarta-feira 23 de maio deste ano) re-encena a revelação original do Divino.
Os sete atributos emocionais são; Bondade, Severidade, Misericórdia, Vitória, Humildade, Dedicação e Abundância. Cada um destes atributos inclui todos os outros; portanto, há a Bondade na Bondade, a Severidade na Bondade [3] e assim por diante. Estas constituem os 49 dias do Ômer. A cada dia, podemos considerar o que podemos ter perdido ou estragado naquele aspecto particular da vida e como nós podíamos ter melhorado. Depois deste processo, esperamos ser capazes de entrar da festa de Shavuot e ter contato com D’us como uma pessoa completa, com ambas a Alma Divina quanto a Alma Animal [4]. E até o corpo será alegrado ao comer deliciosos cheesecakes.
Lag B’Omer, o 33º dia do Ômer, começando na noite de sábado, tem uma qualidade especial. Sendo o 5º dia da 5ª semana, ele representa a Humildade da Humildade, o nosso mais profundo nível de abertura de nós mesmos a D’us. Este dia de iluminação – o Yortzeit do Rabbi Shimon bar Yochai, o autor do Zohar – abre portões espirituais para nos ajudar a abrirmos nossos corações e nossos próprios seres ao Divino. É um dia onde a Santidade sublime se manifesta de formas relaxadas e alegres, em passeios e desfiles de crianças.
Divirtam-se!
Referências:
1. Vayikra caps.21-24.
2. Começando na segunda noite da festa. Ver Vayikra 23:15-16, e os comentários de Rashi.
3. Um exemplo deste atributo é impedir de forma ‘severa’ a uma criança de brincar com uma perigosa faca por causa de nossa bondade e amor.
4. Ver Likkutei Sichot do Lubavitcher Rebbe vol. 1, págs. 266-272.
DR. TALI LOEWENTHAL– Conferencista em Espiritualidade Judaica na University College London, diretor do Chabad Research Unit, Londres, autor do livro “Communicating the Infinite: The Emergence of the Chabad School” e um frequente contribuidor da seção de leituras semanais de Torá do site Chabad.org.
Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg