A INSATISFAÇÃO DO COTIDIANO – POR DORLI KAMKHAGI
Uma olhada para dentro de cada um pode ser um novo trabalho, assim como a conversa entre mãe e filho, e porque não entre casais? Parece que não há nada mais frustrante que após o encontro sexual cada um volte à sua página da internet.
Cada vez mais percebo um certo tédio nas conversas ou melhor, uma falta de entusiasmo, uma falta de brilho no olhar e para ser mais exata, que conversas?
Estamos vivendo um tipo novo de encontros nos quais existe quase que uma ausência de proximidade afetiva. Cada um com seu objeto amoroso, celular na mão, garantindo uma potência máxima no qual parece que ninguém se sente só. Ou melhor, a ausência de estar com outras pessoas é subistituida o tempo todo por objetos que possam ser compráveis, manipuláveis e deletáveis.
Aliás, não costumo ser saudosista nem um pouco. Sou muito inserida no presente, mas ocorre uma pobreza nas trocas, nas falas, na sexualidade. Pois não está sendo mais desenvolvido este encontro entre as pessoas nos quais o olhar ainda é o lugar no qual se estabelecem os primeiros sinais da comunicação que seguirá ou não por toda uma vida.
Nada mais triste do que ver mães amamentando e falando ao celular. Quais sentimentos e emoções este bebê estará recebendo? E quando vamos a restaurantes e vemos famílias conectadas todas em outros mundos com códigos secretos?
Eu comecei este artigo falando das insatisfações do cotidiano, pois sendo uma psicanalista e trabalhando também com casais, percebo o quanto as pessoas têm colocado nas aquisições aquilo que pode nos dar um imediato prazer, fonte de todas as nossas gratificações.
Então vem a sensação de vazios maiores e dores que nunca são compreendidas, pois o outro é sempre causa de nossas insatisfações e tristezas.
Uma olhada para dentro de cada um pode ser um novo trabalho, assim como a conversa entre mãe e filho, e porque não entre casais? Parece que não há nada mais frustrante que após o encontro sexual cada um volte à sua página da internet.
Triste momento da nossa contemporaneidade.
Mas ainda podemos falar !!! Ainda sabemos chorar!!!
DORLI KAMKHAGI – Doutora em Psicologia Clinica – Coordenadora de Grupos e Pesquisas no IPq Da FMUPS SP – Terapeuta de Casais – Mestre em Gerontologia. Saiba mais.