TISHÁ BEÁV – O DIA MAIS TRISTE DO CALENDÁRIO JUDAICO

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O dia de Tishá BeÁv é observado para lamentarmos a perda dos dois Templos Sagrados de Jerusalém.


Qual o dia mais triste da vida de uma pessoa? Provavelmente é o dia do falecimento de um parente mais próximo (pai, mãe, irmão, irmã, filho, filha ou cônjuge). E se a pessoa não sente nenhuma tristeza pelo falecimento de seu parente próximo? Então certamente deveria se sentir triste por sua falta de apreço e por sua incapacidade de sentir a emoção apropriada.

Dia último dia 25 de julho, sábado à noite, iniciando-se com o nascer das estrelas, até o anoitecer de domingo, foi comemorado Tishá BeÁv, o 9o. dia do mês Judaico de Av. É o dia mais triste do calendário Judaico. O que a pessoa deve fazer se não tem nenhum sentimento em especial por Tishá BeÁv? Se for Judia e se se identifica com o Judaísmo, então lhe cabe descobrir o porquê de nós, como um Povo, estarmos de luto neste dia. O que perdemos nesta data? O que ela significa para nós? O que devemos fazer para recuperar o que perdemos? No mínimo deveríamos sentir muito pelo fato de não sentirmos nenhum pesar nesta data.

Em 1967, pára-quedistas israelenses capturaram a Cidade Velha de Jerusalém e abriram caminho até o Muro das Lamentações (Kotel HaMaaravi – www.aish.com/wallcam/). Muitos dos soldados religiosos estavam tomados de emoção e encostaram-se no Muro, orando e chorando. Um pouco afastado do Muro estava um soldado não-religioso que também estava chorando. Seus colegas perguntaram: “Por que você está chorando? O que o Muro representa para você?” O soldado respondeu: “Estou chorando por não saber por que deveria estar chorando!”

O dia de Tishá BeÁv é observado para lamentarmos a perda dos dois Templos Sagrados de Jerusalém.

Qual foi a grande perda resultante da destruição dos Templos? Foi a perda do sentimento da presença Divina entre nós. O Templo era um local de orações, espiritualidade, santidade e milagres a céu aberto. Era a parte mais importante do Povo Judeu, o ponto focal da identidade Judaica. Três vezes ao ano (Pessach, Shavuót e Sucót) todo Judeu ascendia ao Templo. Sua presença permeava todos os aspectos da vida Judaica: o planejamento do ano, o lado para onde a pessoa se voltava para rezar, onde recorria por justiça ou para estudar Torá, onde trazia certos dízimos, etc.

Neste mesmo dia, através da História, muitas tragédias aconteceram com o Povo Judeu, incluindo:

1. O incidente com os espiões difamando a Terra de Israel, com o conseqüente decreto para vagarem pelo deserto por 40 anos.

2. A destruição do Primeiro Templo, em Jerusalém, por Nevuchadnétzar, Rei da Babilônia.

3. A destruição do Segundo Templo, em Jerusalém, pelos romanos, no ano 70 E.C.

4. A queda da cidade de Betar e o fim da revolta de Bar Kochvá contra os romanos, 62 anos depois, no ano 132 E. C.

5. Os Judeus da Inglaterra são expulsos em 1290.

6. Iniciam-se as Primeiras Cruzadas. Dezenas de milhares de Judeus são mortos e muitas comunidades por toda a Europa, completamente destruídas.

7. Os Judeus da Espanha são expulsos em 1492, dando início à Inquisição Espanhola.

8. A Primeira Guerra Mundial irrompeu em Tishá BeÁv de 1914, quando a Rússia declarou guerra contra a Alemanha. O ressentimento alemão após ter sido derrotado criou o palco para o Holocausto.

9. Começa a deportação dos Judeus do Gueto de Varsóvia.

Tishá BeÁv é um dia de jejum (com a mesma duração que Yom Kipur: do anoitecer de um dia até o anoitecer do dia seguinte) que culmina e encerra as Três Semanas de luto do Povo Judeu. Neste dia somos proibidos de comer e beber, banhar-nos, usar cremes, loções ou óleos, calçar sapatos de couro ou manter relações conjugais. A idéia é minimizar o prazer e fazer o corpo sentir o desconforto que a alma deveria sentir em relação a tragédias como estas. Como em todos os dias de jejum, o objetivo deste dia é a introspecção, fazendo um balanço espiritual e corrigindo nossos caminhos – o que em Hebraico é chamado Teshuvá, o retorno para o caminho do bem e da honra. Os Tefilin são colocados somente na parte da tarde, após as 13:00 hs.

Teshuvá é um processo de quatro etapas:

1)Precisamos nos conscientizar das coisas erradas que fizemos e nos arrepender de tê-las feito.

2) Precisamos parar de fazer estas transgressões e corrigir quaisquer danos que possamos ter causado.

3) Devemos aceitar sobre nós não repetir o erro novamente.

4) Precisamos, verbalmente, pedir ao Todo-Poderoso que nos desculpe.

Na noite de Tishá BeÁv lemos na sinagoga a Meguilá Eihá (pronuncia-se Eirrá), o livro das Lamentações, escrito pelo profeta Yrmiáhu (Jeremias). Também recitamos as Kinót, poemas especiais recontando as tragédias que aconteceram com o Povo Judeu durante toda a História (Disponível em www.artscroll.com/Products/KPAP.html). Com o ambiente à meia luz, sentamo-nos em almofadas ou pequenas banquetas em sinal de luto.

O estudo da Torá é o coração, a alma e o sangue do Povo Judeu. É o segredo de nossa sobrevivência. Estudar leva ao entendimento e o entendimento leva à ação. Uma pessoa não consegue amar aquilo que não entende. Estudar Torá nos dá uma grande satisfação ao nos proporcionar a oportunidade de entendermos nossas vidas. Em Tishá BeÁv somos proibidos de estudar Torá, com exceção daquelas partes que tratam sobre as calamidades que o Povo Judeu tem sofrido. Precisamos parar, refletir, mudar a nós mesmos e, somente assim, estaremos aptos a fazer deste um mundo melhor.

Durante toda a nossa História passamos por Holocaustos, Pogroms, Cruzadas e outros massacres. Isto por si só já nos faria despertar a seguinte pergunta: “Por que nossos ancestrais tão persistentemente insistiram em se manter Judeus quando, com poucas palavras, poderiam ter se convertido – exceto durante o Holocausto – e salvado suas vidas e a de seus familiares? O que eles sabiam que não sabemos? O que precisamos então saber?” Para aprender mais, clique em www.aish.com/holidays (em inglês) ou www.aishlatino.com/h/9av/ (em espanhol).


Dvar Torá: baseado no livro Growth Through Torah , do rabino Zelig Pliskin

No começo de sua retrospectiva dos 40 anos passados no deserto, Moshe relembra que apontou juízes para ajudarem o povo com seus problemas. A Torá relata que Moshe perguntou a D’us: “Como posso resolver sozinho todas suas disputas, suas cargas e suas rixas? ”(Devarim, 1:12)

Ráshi, o grande comentarista da Torá (França 1040-1104), citando nossos Sábios, nos esclarece esta passagem: “Se Moshe saísse de sua tenda mais cedo, iriam dizer: ‘Por que Moshe saiu mais cedo? Talvez esteja tendo problemas familiares em casa’. Se Moshe saísse de sua tenda mais tarde, diriam: ‘Moshe se demorou mais hoje porque estava tramando planos malignos contra nós’ ”.

É espantoso como certos indivíduos têm a tendência de julgar negativamente as pessoas e sempre encontram formas de descobrir defeitos nos outros. Na realidade, para tudo que se faça ou se deixe de fazer, é sempre possível descobrir motivos ou interpretações negativas em cada atitude. Mas também existem sempre formas positivas de se interpretar o comportamento dos outros.

Por exemplo, se Moshe tivesse saído mais cedo, poderiam ter dito: “Olhem a presteza de Moshe ao realizar grandes sacrifícios pelo bem estar do povo. Está disposto até a diminuir seu tempo em casa, com a família, para dar mais de seu tempo para os outros”. Se Moshe estivesse atrasado, poderiam ter dito: “Ele quis se preparar adequadamente para ser o mais efetivo possível ao dar bons conselhos ao povo.”

A forma pela qual interpretamos um evento tem mais a ver com o nosso caráter do que com o que a outra pessoa está fazendo. Existe uma mitsvá na Torá de julgar as pessoas favoravelmente. É claro que devemos nos proteger e desconfiar quando alguém quer nos fazer algum mal, mas também não devemos desconfiar de tudo e de todos sem motivo.

Quanto mais coisas boas enxergarmos nos outros, melhor nos sentiremos. As pessoas reagem às nossas expectativas e também se espelham em nossas atitudes. Agindo desta forma, todo o nosso universo será mais doce e agradável !

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RABINO KALMAN PACKOUZ – Do Aish Hatorá, é o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.

NOTA:- Desejando contribuir para o Meor Hashabat acesse o www.aishdonate.com – Email – meor18@hotmail.com