POR QUE O BAAL SHEM TOV RIU? – RABINO RUBEN NAJMANOVICH

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      Certa noite de sexta-feira, o Baal Shem Tov subitamente riu. Riu uma vez. Riu uma segunda e uma terceira vez. Ninguém sabia o motivo.

      Entretanto, na cidade Koznitz, muito distante dali, algo maravilhoso aconteceu.

       Tudo começou na sexta-feira de manhã. Reb Shabtai, o encadernador, disse tristemente à sua esposa:

      – Não ganhei dinheiro esta semana. Não poderemos comprar nada para o Shabat. Nem mesmo as velas. Vou para a sinagoga dizer tehilím (Salmos) e estudar.

      Vestiu as suas roupas de Shabat e foi para a sinagoga. Era cedo. Mas o que ele poderia fazer em casa? Não havia dinheiro para as compras e nem comida em casa para cozinhar. E ele nunca pediria qualquer coisa a alguém. Reb Shabetái não tolerava pedir coisas às pessoas.

      A esposa do Reb Shabetái suspirou e olhou em volta:

      – Bem, pelo menos eu posso limpar a casa em honra do Shabat.

      Dizendo isso, começou a tirar o pó dos móveis e lustrá-los. Mudou as roupas das camas e varreu debaixo delas. Lavou e esfregou o chão. Atrás dos móveis, alguma coisa resplandecia. A mulher do Reb Shabtái ajoelhou-se e pegou os objetos que faiscavam e exclamou:

      – Que boa surpresa! Aqui estão as joias que perdi há tanto tempo. Vou vendê-las e comprar o que precisamos para o Shabat.

       A boa mulher apressou-se em ir ao mercado. Finalmente, acendeu as lâmpadas do Shabat. As velas luziam, a casa brilhava e a comida exalava um cheiro maravilhoso.

      Quando Rebe Shabtái voltou da sinagoga para casa não parecia feliz. De onde sua mulher obtivera tudo aquilo? Provavelmente, pediu emprestado aos vizinhos para pagar-lhes posteriormente. Ele desejava que isso não tivesse acontecido. Mas não ia discutir sobre isso no santo Shabat.

      Comeram guefilte fish (peixe recheado) em silêncio. Estava tão delicioso! Reb Shabtái não se conteve e disse para a sua esposa:

      – Como eu gostaria que você não tivesse pedido emprestado aos vizinhos!

    – Mas eu não pedi! – riu a mulher, divertida – Você se lembra daquelas jóias que perdi faz algum tempo? Enquanto limpava a casa para o Shabat, eu as encontrei. Obtive uma boa quantia de dinheiro por elas e foi assim que pude comprar tudo isso.

      Reb Shabtái quase não podia acreditar no que ouvia! Que felicidade! Como o Eterno foi bom com eles! E pensar que suspeitou ter a sua esposa pedido um empréstimo aos vizinhos para comprar comida! Saltou de sua cadeira e começou a dançar. Sua esposa não resistiu e também dançou. Juntos dançavam e cantavam alegremente.

       Nesse momento, muito longe dali, em Medhibozh, o Baal Shem Tóv riu.

    Em seguida, a mulher do Reb Shabtái serviu a sopa de galinha. Estava mais deliciosa do que de costume. Novamente, Reb Shabtái e sua mulher estavam plenos de felicidade. Tinham de dançar. E dançaram novamente.

        Essa foi a segunda vez em que o Baal Shem Tov riu.

        Quando a mulher do Reb Shabtái serviu o prato seguinte, eles foram tomados de alegria pela terceira vez. O que poderiam fazer senão dançar mais uma vez? Dançaram e dançaram até ficarem extenuados.

         Essa foi a terceira vez que o Baal Shem Tov riu.

        Um ano depois, o Eterno os abençoou com o primeiro filho. Cresceu, e tornou-se o tzadik Rebe Israel de Koznitz.


RUBEN NAJMANOVICH – Rabino, Professor da Ciência da Religião, Mestre em Ciências Sociais e humanidades menção educação. Saiba mais.

rubenaj@terra.com.br

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