TUDO POR AMOR – POR SHEILA MANN

248_especial_1_1Para chegar a alguma mudança significativa em direção ao entendimento entre os diferentes, deveríamos entender que todos nós somos seres humanos, que agem e reagem da mesma maneira, e que isso nos torna iguais.


Ao ouvir o comentário de uma amiga que faz parte do meu grupo as “Mulheres do Pot”, sobre os árabes, dizendo que “Eles são mais terroristas”, do que nós judeus, me dei conta o quanto estamos longe ainda do entendimento e do significado da convivência pacífica entre árabes e Judeus.

Respondi a ela, lembrando-a que quem matou o Primeiro Ministro Itzhak Rabin foi um fanático religioso judeu, e que recentemente judeus israelenses foram capazes de incendiar uma casa palestina enquanto os seus habitantes estavam dormindo, provocando assim a morte de um bebê e do seu pai, queimados vivos… Ela não soube me responder a isso, e concordou comigo sem muita convicção!

Respondi também à minha amiga, que enquanto continuarmos a fazer comparações, de quem é mais violento, ou mais terrorista do que o outro, de quem está mais injustiçado e quem tem mais direito, não vamos conseguir sair desse patamar do conflito. Para chegar a alguma mudança significativa em direção ao entendimento entre os diferentes, deveríamos entender que todos nós somos seres humanos, que agem e reagem da mesma maneira, e que isso nos torna iguais. Ninguém de nós, é melhor ou mais merecedor do que o outro: Aceitamos a diversidade nos reinos animal e vegetal, e não conseguimos aceitar a diversidade do ser humano!

Numa recente palestra proferida pela professora de filosofia Olgária Mattos, ela falou como Derrida, o filósofo francês, se definia; ele simplesmente dizia que é algeriano, árabe, judeu e francês. Ele é tudo isso ao mesmo tempo e não quer optar por ser uma coisa só. Somos todos tão múltiplos e multi- facetados, por que devemos ser uma coisa só? Somos tão ricos na nossa diversidade: temos histórias, tradições e gostos que constituem a nossa singularidade. Querer hegemonizar ou dar preferência à uma cultura em detrimento da outra, leva ao fascismo, à segregação e ao conflito.

Eu proponho uma abordagem diferente, que pratico no meu trabalho pela paz: na minha humilde opinião, TODOS, absolutamente todos, agem por Amor. COMO? Acredito que o que move a todos nós é o amor: seja amor à nossa família, à nossa pátria, às nossas raízes, às nossas tradições, ao nosso Deus… Por Amor, fazemos coisas incrivelmente lindas, ou incrivelmente horríveis.

Em nome de Deus que amamos e cultuamos, fazemos tantas coisas, movidos que somos pela nossa fé e acreditando que fazendo isso, teremos direito a um lugar privilegiado junto a Ele, que é isso que Ele espera de nós e que seremos recompensados! Podemos nos tornar agressivos, até assassinos por acreditar que estamos fazendo o certo e nem passa na nossa mente, que estamos sendo intolerantes: Isso vale tanto para os fanáticos judeus quanto para os fanáticos muçulmanos ou qualquer outro que pratica a violência em nome das suas crenças.

Onde está o amor nisso? Se conseguirmos entender que todos nós, com as nossas crenças, ações e imperfeições, somos necessários ao Universo, que todos nós temos um lugar e que estamos a serviço de algo maior que não entendemos, poderemos talvez ser mais tolerantes com o outro e com suas imperfeições.

Imagino que essa minha abordagem é do mundo das utopias… Mas não foi o Luther King que disse: ” O que seria da humanidade, sem a capacidade de sonhar?” Precisa ser um sonhador para acreditar na paz.

Finalizo desejando a todos e todas, um bom começo de ano novo judaico, e que lembremos de perdoar o outro, nosso semelhante, da mesma forma que nós pedimos o perdão de Deus em Yom Kipur, nas nossas preces.


SOBRE SHEILA MANN

Sheila Mann é judia, formada em artes plásticas, nascida no Líbano e crescida em Israel. Ela é conhecedora das culturas árabe e judaica com fluência em ambas as línguas, o que a torna ainda mais próxima das duas comunidades. A artista chegou ao Brasil, com 18 anos, casada e grávida de gêmeas. A dura fase de adaptação a nova cultura e aos filhos logo foi superada com a decisão de voltar a estudar. Inscreveu-se no curso de literatura da Aliança Francesa, para não perder a fluência no idioma adquirido em sua escola primária no Líbano, e também resolveu estudar artes plásticas.

Sheila Mann criou o POT – Peace On The Table, projeto que propõe unir os povos através da culinária, projeto que hoje se tornou a sua grande razão de viver,e com essa proposta, ela se tornou uma ativista pela paz principalmente entre árabes e judeus.

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Sheila lançou um livro de memórias e culinária, atualmente dá aulas de culinária libanesa na sua própria escola, em São Paulo, e palestras sobre o seu trabalho, tendo formado um grupo de mulheres judias e mulheres árabes que se reúnem para compartilhar experiências e fortalecer laços de amizade .

sheila@peaceonthetable.org

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