ARQUIDIOCESE DE SP E A COMUNIDADE JUDAICA CELEBRAM OS 50 ANOS DA “NOSTRA AETATE”

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A Arquidiocese de São Paulo e a comunidade judaica celebraram os 50 anos da publicação da Declaração Nostra Aetate, aprovada pelo Concílio Vaticano II e promulgada pelo papa Paulo VI em 28 de outubro de 1965, em Roma.

A comemoração aconteceu em São Paulo, no Teatro Tuca da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e foi prestigiada, dentre muitos, pelos rabinos Ruben Sternschein e Michel Schlesinger, por Mario Fleck, presidente da FISESP, Fernando Lottenberg, presidente da CONIB, Floriano Pesaro, Deputado Federal e Secretário de Desenvolvimento Social de São Paulo representando o Governador Geraldo Alckmin (vide discurso no final da página), e pelo cardeal suíço Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e da Comissão para as Relações Religiosas com os Judeus.

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“Israel, o povo de Deus, e a Igreja são inter-relacionados e interdependentes”, afirmou Koch, advertindo que não se entende Jesus sem Israel. A declaração Nostra Aetate, disse ainda o cardeal suíço, faz justiça aos judeus, depois de séculos de conflitos, perseguição e discriminação contra eles. Ele notou que o texto da declaração foi aprovado no Concílio Vaticano II por 2.221 votos contra 88, e que as práticas recomendadas foram confirmadas por todos os papas pós-Concílio. “A Nostra Aetate não perdeu a atualidade, ela continua servindo como bússola na reconciliação. Como declarou o papa Francisco, diante da atual onda de antissemitismo: ‘não se pode ser cristão e antissemita’”, disse ele.

Koch lembrou que a Nostra Aetate não começou no Concílio; ela começou a surgir e a se configurar em acontecimentos anteriores. Em agosto de 1947, 65 judeus e cristãos se reuniram na Suíça com o objetivo de erradicar o antissemitismo. Alguns dos pontos lá discutidos foram encampados pela declaração, na qual, “pela primeira vez na história, um Concílio se pronunciou de forma tão explícita sobre a relação com os judeus e o judaísmo”.

O presidente da Conib, Fernando Lottenberg, afirmou que a presença do cardeal Koch no Brasil é “um expressivo reconhecimento do trabalho de aproximação que judeus e católicos vêm desenvolvendo no país, ao longo das últimas décadas”, salientando a ação do cardeal d. Paulo Evaristo Arns e do rabino Henry Sobel no combate à ditadura militar, nos anos 1970. Foi esse também o tom do discurso do rabino Michel Schlesinger, sucessor de Sobel na presidência da Congregação Israelita Paulista (CIP).

O arcebispo de São Paulo, cardeal d. Odilo Scherer, um dos oradores da noite, disse que as comunidades católica e judaica mantêm um bom diálogo na sua arquidiocese e têm trabalhado juntas na defesa dos direitos humanos.

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Cardeal D. Odilo Scherer e Secretário Floriano Pesaro

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Fernando Lottenberg, Floriano Pesaro e rabino Michel Schlesinger

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Floriano Pesaro conversa com o cardeal D. Odilo Scherer

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Rabino Ruben Sternschein, da CIP, conversa com os cardeais Koch e Scherer. Foto: Eliana Assumpção

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Rabino Michel Schlesinger, cardeais Koch e Scherer e Fernando Lottenberg. Foto: Eliana Assumpção

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Alberto Milkewitz, Bruno Laskowsky, Angela Brandão, o ator Odilon Wagner, que fez a leitura de trecho da Nostra Aetate-, e Fernando Lottenberg. Foto: Eliana Assumpção.


Discurso proferido por Floriano Pesaro:

OS 50 ANOS DA DECLARAÇÃO NOSTRA AETATE

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“Muito boa noite. É um privilégio estar aqui em nome do Governador Geraldo Alckmin, comemorando os Cinquenta Anos da Declaração Nostra Aetate, A Declaração da Relação da Religião Cristã com Outras Religiões não Cristãs promulgada em Outubro de 1965, pelo Segundo Conselho Vaticano.

A importância deste documento é retratada em sua declaração da unidade de todos os povos, e pela constatação de que ela afirma que todos os povos voltam-se a Deus, fazendo com que todos tenham um só objetivo.

O documento fala do vínculo que existe entre o povo do Novo Pacto – os cristãos – e a descendência de Abraão – os judeus. De fato, em relação ao povo judeu, as implicações da Declaração foram realmente revolucionárias no mais positivo sentido do mundo. Nostra Aetate oficialmente retrata os judeus como povo amado por Deus.

Mais ainda, a Declaração condena toda e qualquer forma de antissemitismo de qualquer um em qualquer tempo.

A Declaração exibe as respostas que os praticantes de outras fés como o Budismo e Hinduismo apresentam para questões eternas e expressa a vontade da Igreja Católica em aceitar algumas verdades das outras religiões, pois elas refletem os ensinamentos cristãos.

A beleza desta obra de cinquenta anos reside no fato também de que ela declara o homem feito à imagem de Deus e despreza o ódio, as perseguições dirigidas aos judeus ou a qualquer homem baseada em raça, religião, condição de vida ou qualquer diferença.

Hoje, em que pedimos tanto para que o mundo tenha tolerância e refute qualquer fundamentalismo, a Nostra Aetate não poderia ser mais atual, pois aceita expressamente a diversidade do mundo.

Todos os credos deveriam explicitar esta tolerância para que o mundo possa ser um pouco menos violento.

Quero cumprimentar o Eminentíssimo Cardeal Kurt Koch aqui presente, e parabenizar os organizadores deste evento que reverencia uma obra que estimula a convivência e o respeito de todas as religiões”.