YOM KIPUR – COMO JULGAMOS? – POR BERNARDO SORJ

249_especial_2.1

Em Yom Kipur questionamos a forma em que julgamos. Porque através de nossos julgamentos infligimos sofrimento a nós mesmos e aos outros.

Por isso Yom Kipur é um dia reflexão sobre nossos pré/juízos:

Pois tendemos a justificar nossas atitudes incorretas como sendo produto das circunstâncias.

E as dos outros, como sendo inatas.

Esquecendo que todo ato é sempre uma mistura de circunstâncias e de caráter.

Somos compreensivos com os seres queridos e os que pensam como nós. E intolerantes com os estranhos ou os que pensam diferente.

Queremos que as pessoas levem em consideração nossa sensibilidade, e não levamos em consideração a sensibilidade dos outros.

Nos sentimos vítimas de situações que nos machucam, mas não nos perguntamos se contribuímos para que elas aconteçam.

Ou nos refugiamos na segurança cega do maniqueísmo, que supõe que só existe uma única forma de estar certo ou de estar errado.

Desconhecendo que em cada situação todos nós devemos conviver com valores, desejos e afetos contraditórios.

Viver exige julgar, mas devemos ser parcimoniosos quando o fazermos, pois quando julgamos deixamos de argumentar e de ouvir o outro.

Porque todos temos limitações e cada pessoa é diferente, o respeito sempre deve preceder nossos atos. Quem não respeita, não julga, só condena e ofende.

E julgamos quando praticamos quando fofocamos sobre o que outros fazem ou falam. A Cabala ensina que a fofoca é a forma mais destrutiva de agir, porque prejudica pessoas e relacionamentos. Quem fofoca não procura a verdade, procura se valorizar e desvalorizar o outro. Porque a “verdade” profunda da vida, como ensina o Talmude, é contribuir para “a paz do lar”.

Por isso em Yom Kipur lembramos que devemos julgar menos e compreender mais, sendo prudentes e não reativos.

Agindo de acordo com o rabino Hillel, que sintetizou a tradição judaica no princípio de “não faças aos outros o que não desejas que façam a ti”, e lembrando que o rabino Ben Zomá disse: “Quem é sábio? Aquele que aprende de toda pessoa”.

Porque Yom Kipur nos leva a questionar como julgamos, agradecemos:

Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuianu lazman haze.

Que vivemos, que existimos, que chegamos a este momento.


BERNARDO SORJ – Nascido no Uruguai e naturalizado brasileiro, é sociólogo graduado em história e sociologia pela Universidade de Haifa, Israel, onde também cursou o mestrado. É doutor pela Manchester University, Inglaterra, e pós-doutor pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, França.

20
20