NOVEMBRO AZUL E O CÂNCER DE PRÓSTATA – ENTREVISTA COM O DR. SIDNEY GLINA – POR GLORINHA COHEN

Novembro é o mês de conscientização do câncer de próstata. O movimento conhecido como Novembro Azul, que teve início na Austrália, em 2003, conta no Brasil com a coordenação do Instituto Lado a Lado e serve para alertar a população masculina sobre os riscos da terrível doença. A importância da campanha se agiganta ainda mais quando se sabe que, em nosso país, o câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais frequente em homens – atrás apenas do de pele –, com 70 mil novos casos por ano, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Assim, o momento é mais que propício para você saber o que é o câncer de próstata, como é o tratamento e quais os sintomas, a partir de que idade o exame da próstata deve ser feito e o que significa o exame PSA. Todas estas perguntas e outras comumente feitas em consultórios aqui são respondidas pelo Dr. Sidney Glina nesta entrevista dada exclusivamente para nosso portal. Professor Livre Docente da Faculdade de Medicina do ABC, Chefe da Clínica Urológica do Hospital Ipiranga e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (2006/7), dentre outros títulos, ele tem, de sobra, autoridade para falar sobre o assunto. Aproveite.


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P – O que é a próstata?

SG – A próstata é um órgão que produz boa parte do líquido seminal que acompanha s espermatozóides e constitui o esperma. Outra função da próstata é ajudar o mecanismo da continência da urina.

P – O que causa o câncer de próstata?

SG – Esta é uma boa pergunta para a qual ainda não tenho resposta. Existem alguns fatores de risco para a ocorrência do câncer de próstata, mas não sabemos a causa. O que se sabe é que homens cujo o pai, o irmão ou o avô paterno tiveram câncer de próstata têm uma maior chance de apresentar este tipo de tumor.

P – Quais são os sintomas do câncer de próstata?

SG – O câncer de próstata só dá sintomas quando ele já é avançado, podendo dificultar a micção ou dar dor óssea ou mesmo fraturas espontâneas, quando apresenta metástases ósseas.

P – Como é o tratamento?

SG – Quando o tumor está localizado apenas na próstata o tratamento vai depender da classificação histológica do tumor, da idade do paciente e da quantidade de tumor que existe. Tumores menos agressivos, em pacientes com mais de 65 anos e com uma quantidade limitada de tecido tumoral podem ser acompanhados, fazendo-se o que se chama de vigilância ativa, realizando-se exames periódicos, só se tratando mais agressivamente em caso de progressão do quadro. Em tumores mais agressivos e em pacientes mais jovens o tratamento é a prostatectomia radical ou a radioterapia. Quando o tumor já se espalhou com metástases o tratamento não é mais curativo; nestes casos o que se faz é bloquear a produção ou a ação da testosterona. Isto porque o tumor de próstata precisa da testosterona para se desenvolver e a supressão deste hormônio interrompe o seu crescimento por algum tempo. Atualmente estão surgindo novas drogas que tem uma ação bastante interessante neste tipo de tumor com aumento da sobrevida.

P – O câncer de próstata pode ser prevenido?

SG – Não se conhece uma forma efetiva de prevenir o câncer de próstata, o que fazemos é a detecção precoce da doença, buscando-se diagnosticá-la na forma mais inicial possível.

P – O câncer de próstata costuma ser um câncer muito agressivo?

SG – Pode ser agressivo, mas geralmente é um tumor de evolução lenta, que demora alguns anos para se espalhar.

P – Quais são as chances de cura?

SG – Quando o tumor está localizado na próstata a chance de cura é bastante alta.

P – Como é realizado o exame da próstata e a partir de qual idade?

SG – A detecção do câncer de próstata é feita com a dosagem do antígeno prostático específico, o PSA e o toque retal. Estes exames são começados aos 50 anos e em 45 anos em pacientes com antecedentes de câncer de próstata no pai, irmão ou avô paterno.

P – O que significa o exame PSA?

SG – O PSA é uma substância que a próstata produz e que fisiologicamente tem a ação de liquefazer o sêmen após a ejaculação. Descobriu-se há alguns anos que os níveis do PSA aumentam no sangue quando a próstata tem algumas doenças, como uma infecção, inflamação ou um tumor na próstata. Assim, ele vem sendo utilizado como um marcador para o diagnóstico para o câncer de próstata.

P – A partir de que valor o PSA indica câncer de próstata? E se o PSA for baixo, descarta o câncer?

SG – O problema com o PSA é que ele é um marcador pouco específico. O marcador ideal é aquele que aumenta apenas quando a doença está presente; já no caso do PSA quando este está aumentado, apenas 30% dos pacientes tem de fato um tumor prostático.Em pacientes até 60 anos espera-se que o PSA esteja abaixo de 2,5 ng/dl; já em homens mais velhos o PSA deve estar até 4,0 ng/dl. Existem tumores muito agressivos e que não produzem PSA e que se apresentam com valores muito baixos. Estes são a minoria dos tumores e são diagnosticados apenas pelo toque retal. Também é importante lembrar que o PSA não faz o diagnóstico de câncer; este diagnóstico é feito pela biópsia prostática. O PSA tria os pacientes que devem ser submetidos à biópsia. Atualmente, antes de fazer a biópsia que é um exame invasivo, pode-se fazer a ressonância magnética da próstata, que identifica nódulos suspeitos na glândula e facilita a biópsia posterior. Infelizmente este exame ainda é caro e não é coberto por muitos convênios, mas tem um grande potencial para evitar biópsias desnecessárias.

P – O Exame PSA sanguíneo e a ultrassonografia da próstata são suficientes para um diagnóstico ou é imprescindível, também, o toque retal?

SG – A ultrassonografia da próstata é um exame pouco específico para o câncer da próstata e não substitui o toque retal. Este diagnostica os tumores mais agressivos, onde o PSA é baixo e permite uma avaliação da extensão do tumor quando o PSA está elevado.

P – Homens jovens podem ter câncer de próstata?

SG – A grande maioria desenvolve câncer na próstata após os 50 anos, mas alguns homens apresenta este tumor em idades mais jovens. Na literatura o paciente mais jovem diagosticado tinha 36 anos.

P – O câncer de próstata pode se espalhar para outros órgãos?

SG – Sim, ele pode dar metástases para os gânglios linfático e para os ossos preferencialmente.

P – Em que caso é preciso retirar a próstata?

SG – A indicação da prostatectomia radical faz-se quando o tumor está localizado na próstata.

P – Quais são as complicações mais comuns da cirurgia para retirada da próstata?

SG – As complicações mais comuns são a incontinência urinária e a disfunção erétil. A próstata faz parte do mecanismo da continência urinária e a sua retirada dificulta, pelo menos por um tempo, a contenção da urina. Após a cirurgia a continência é feita pelo esfincter externo, que é voluntário e que pode ser treinado com fisioterapia. Assim, mais de 90% dos pacientes estão continentes após 3 meses. Os nervos que vão para o pênis e que são responsáveis pela ereção estão intimamente ligados à próstata e a retirada da próstata inevitavelmente danifica esta inervação, pelo menos temporariamente. Uma boa parte dos pacientes recupera a ereção com a ajuda dos medicamentos que estimulam a ereção. Além disto o homem perde a ejaculação, passando a ter orgasmo, sem ejaculação.

P – Quando se usa terapia hormonal e quais são os efeitos colaterais da hormonioterapia?

SG – Como já disse, a terapia hormonal é usado em tumores metastáticos e consiste na supressão da produção ou no bloqueio da ação da testosterona. Este hormônio é importante para várias funções e o paciente sem testosterona perde o desejo sexual, tem mais dificuldade para ter ereção, pode ficar mais irritadiço, tem “fogachos” (sensação de calor em ondas) e a longo prazo pode perder massa muscular e osteoporose.

P – O que é disfunção erétil após cirurgia do câncer de próstata e como pode ser tratada?

SG – É a dificuldade para ter ereção após a cirurgia. O tratamento se inicia com o uso dos inibidores da fosfodiesterase tipo 5, os comprimidos que facilitam a ereção. Quando estes não funcionam o paciente pode aplicar uma injeção de prostaglandina no pênis, que desenvolve a ereção na grande maioria dos pacientes. Esta injeção precisa ser aplicada 15 minutos antes da atividade sexual e embora possa parecer uma coisa muito ruim é utilizada por um grande número de paceintes. Quando o paciente quer uma atitude mais definitiva pode-se fazer o implante de prótese peniana, que restabelece a ereção de vez. A prótese permite a penetração e não atrapalha a sensibilidade e o orgasmo.

P – Quais são os novos tratamentos contra o câncer de próstata?

SG – Está havendo um grande desenvolvimento de novas drogas, hormonais e quimioterápicas, para tratar o câncer metastático, aumentando a sobrevida destes pacientes. Acredita-se que no futuro tenhamos drogas que façam com que este tipo de tumor torne-se uma doença crônica, como a AIDS hoje em dia e as pessoas não morram mais por esta doença. Por outro lado, existem pesquisas procurando formas de tratar o tumor nos seus estágios iniciais, buscando-se tratamentos menos invasivos e com menos efeitos colaterais.

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