RIVALIDADE ENTRE IRMÃOS – RABINO RUBEN STERNSCHEIN
A unicidade de cada um é o grande presente que temos para nós mesmos, para doar aos que estão à volta e para receber deles a partir dela. Que possamos reconhecê-la, valorizá-la, desenvolvê-la, e dá-la e recebê-la sempre da melhor forma.
A rivalidade entre irmãos não pula as fontes judaicas. Seria surpreendentemente errado que textos que pretendem falar da vida ignorassem um fenômeno tão comum e talvez tão essencial da condição humana e das dinâmicas dos relacionamentos.
Assim, aparecem em disputa: Yossef e seus irmãos, Shlomô e os seus, Itzhak e Ishmael, Rachel e Lea e, nesta parashá, a dupla mais conhecida pela rivalidade – Iaacov e Essav.
Entre os comentaristas, ouve-se com certa força a ideia de que as preferências dos pais teriam ampla responsabilidade na tensão entre os filhos. O fato de Itzhak preferir Essav, teria gerado em Iaacov o mesmo receio que a preferência de Rivca por ele gerara em Essav. Ou seja: por não serem capazes de amar ambos os filhos igualmente, os pais teriam exacerbado essas rivalidades entre eles.
Entretanto, uma opinião moderna diz o contrário: o antagonismo seria resultado não por falta de igualdade, mas sim por falta de unicidade. O erro de Itzhak não estava em não amar igualmente Essav e Iaacov, mas justamente em pretender amá-los como se fossem iguais. Ao buscar em Iaacov o que amava em Essav, Itzhak não conseguia ver as unicidades de Iaacov para poder amá-las. O mesmo aconteceria com Rivca no que diz respeito a Essav na tentativa errada de uniformizá-lo com o que amava em Iaacov.
Também os filhos teriam errado na hora de receber as bênçãos em um sentido parecido. Pois Iaacov fantasiou-se de Essav para receber a benção do irmão ao invés da própria. Essav, decepcionado com a benção que o pai lhe outorga depois, gostaria de receber a benção dada a Iaacov.
Apenas vinte anos mais tarde, quando cada um desenvolve sua própria benção, é que eles conseguem se reencontrar em um abraço verdadeiro.
A unicidade de cada um é o grande presente que temos para nós mesmos, para doar aos que estão à volta e para receber deles a partir dela. Que possamos reconhecê-la, valorizá-la, desenvolvê-la, e dá-la e recebê-la sempre da melhor forma.
Shalom.
RABINO RUBEN STERNSCHEIN – Rabino da Congregação Israelita Paulista desde janeiro de 2008, Ruben Sternschein é bacharel em Educação e mestre em Filosofia Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, onde completou os estudos de doutorado em Filosofia Judaica e está prestes a entregar sua tese final. Foi ordenado rabino no Hebrew Union College, onde também obteve seu mestrado em Ciências Judaicas. Dirigiu a “Mikra-Net”, uma rede inter-universitária de estudos judaicos da qual também foi docente. Dissertou em mais de dez universidades, dirigiu o programa de formação de liderança educativa juvenil, foi bolsista premiado de prestigiosas fundações acadêmicas e educativas e se graduou também no programa de direção e liderança superior do Mandel Institute. Fundou e dirigiu a comunidade judaica liberal de Barcelona, exerceu o rabinato em Jerusalém e foi selecionado como representante judaico para o grupo inter-religioso da UNESCO que elaborou o documento: Uma Ética Universal.
Fonte: www.cip.org.br