AMOR DE FASES : BASTIDORES DOS RELACIONAMENTOS – POR SILVIA MALAMUD
Pela ânsia do encontro com a parceria sonhada, deixam-se levar pelo desejo do encontro e cometem um grave erro, quando deixam de observar os sinais. Às vezes, no primeiro encontro, algumas conversas já podem nortear se o relacionamento será bom ou não e se você poderá lidar com determinados assuntos.
Quem já não se relacionou com alguém, ficou apaixonado, achou que havia encontrado o amor da sua vida e chegou até a pensar que um sentimento tão intenso dessa ordem certamente já teria ocorrido em outras vidas, como se fosse uma espécie de reencontro…?
Aposto que se você não vivenciou isso, pode ter passado muito perto desse sentimento. Talvez estejamos falando de amores idealizados , impossíveis de acontecerem, uma visão que vem do romantismo, mas talvez não. A busca da parceria afetiva, mesmo que em pleno século XXI, nessa era pós, não cessa e a evidencia desse fato é o grande numero de pessoas que continuam firmes em suas empreitadas.
Muitos nessas buscas, por mais maduros que se imaginem ser, ainda se surpreendem ao se depararem com revelações acerca do ser humano, que mais intensamente se evidenciam apenas nos bastidores de uma relação. Pela ânsia do encontro com a parceria sonhada, deixam-se levar pelo desejo do encontro e cometem um grave erro, quando deixam de observar os sinais.
Às vezes, no primeiro encontro, algumas conversas já podem nortear se o relacionamento será bom ou não e se você poderá lidar com determinados assuntos. Na dúvida, uma conversa franca logo de inicio, pode evitar muita confusão e dor no depois. Uma palavra na intimidade, pode revelar algo oculto e difícil de se lidar que com certeza irá detonar lá na frente.
É sempre entre quatro paredes que as projeções mais primitivas acontecem. Por mais que estejamos num relacionamento homem, mulher, as cenas primárias mal resolvidas de afetos que tivemos com os nossos pais, podem se sobrepor a tudo vindo de modo simbólico e atravessando o que poderia ser bom. Vou dar alguns exemplos de pacientes meus para que este assunto fique mais claro e para que você possa também, além de identificar situações, ficar mais atento ao que pode estar ocorrendo em sua vida. Esse conhecimento, somados ao olhar mais observador, tem a função de ser uma ferramenta/antídoto, para que você evite cair em ciladas afetivas que nada tem a ver com a sua historia pessoal e nem com o que deseja para si mesmo.
Jorge namorou Sandra desde jovem e logo de inicio, como se fosse algo lúdico, conseguiu convence-la de que o relacionamento sexual de ambos ficaria mais “apimentado” se chamassem um outro homem para uma relação a três. A trama ocorria no momento em que ela factualmente estaria se relacionando com um outro. Durante anos de suas vidas, nessas horas, ele entrava no meio da relação e, triunfante, executava o ato sexual com ela. Estranho? Nem tanto, seria ingênuo de nossa parte pensarmos que não existem historias secretas muito diferentes do politicamente correto que aprendemos. Soube deste fato quando a esposa, veio ao consultório com o marido, após longos anos de casamento e já com filhos crescidos, dizendo que havia se cansado da tal “brincadeira”. A partir dessa decisão, um problema conjugal se abriu na relação. A paciente, revela que claramente disse ao marido que havia se cansado de brincar de papai e mamãe transando e o filhinho entrando para interromper. Ele apesar de ter entendido e topado parar, nunca mais conseguiu ter uma relação sexual com ela. Enfim, vieram pedir ajuda pela via da terapia, conscientes de queriam se liberar do cenário simbólico. A principio parecia que ela havia se libertado da trama da cena triangular que também, por motivos emocionais seus, por um bom tempo, também fora seduzida.
Dependendo da parceria do momento, as interfaces podem ser modificadas e quanto mais inconsciente e mais prejudicada emocionalmente a pessoa estiver, mais difícil será a sua auto percepção.
Muitos porem, nem se dão conta de que estão cegos vivendo tais cenários dentro da intimidade sexual. Jonas, por exemplo, estava muito triste quando, após seu ultimo rompimento afetivo, veio a terapia. Comentou: vou levantar a cabeça e seguir em frente em busca de um novo amor, que com certeza deve existir em algum outro lugar! Ficou claro que nesse ultimo relacionamento, como em todos os anteriores, que arrumou algo para se isolar da proximidade que estava tendo com sua parceira. Um medo oculto, raivas primitivas mal resolvidas, medo de ser invadido…. A terapia apenas estava começando. No inicio, do relacionamento como sempre, ficou eufórico, mas no dia a dia, de acordo com os relatos sobre as parcerias que já teve, suas infindáveis criticas e suspeitas começaram a tomar posse do seu primeiro olhar. Nada estava bom o suficiente e aos poucos ele foi se retraindo a ponto de não mais conseguir fisicamente tocar na pessoa que a principio pensou ser o amor de sua vida. Novamente arrumou desculpas e destruiu a relação. Conta que logo de inicio, na intimidade, tentou dizer à ela que era diferente, mas ela não quis ouvir e por receio de perde-la desistiu de fazer a sua confissão sexual. Ele sabe que gosta de sexo violento e que sem isso literalmente perde o “tesão”, dessa vez não foi diferente, continuou, mas a relação deu no que deu, ele se afastou, inventou desculpas e fez o pior que poderia ter feito, culpou-a pelas suas próprias dificuldades de se relacionar, inclusive acusando-a de cobrar terem relacionamento sexual. Tinha uma vaga noção disso, mas ele próprio duvidava porque acreditava nas dificuldades que criava para se distanciar dela. Algumas noites inventava dores de cabeça, outras mal jeito em alguma parte do corpo, em outras dizia que não estava a fim e outras vezes nem se dava ao trabalho de falar algo, apenas virava de lado, dizia boa noite e dormia. Em seu mundo interior tecia historias e mais historias para se convencer de que ela não era boa o suficiente para ele. Ainda enlouquecendo a parceira, no dia seguinte a chamava de amor e nas palavras era afetivo. Não precisamos nos estender no que deu, demorou um pouco, mas a moça acabou indo embora da relação, ou entendeu que foi mandada embora.
Outro caso interessante foi de uma moça que veio ao consultório com a queixa de que a vida toda, ela e o marido, dois grandes executivos, saiam de qualquer local que estivessem trabalhando e iam para as suas aventuras de swing. O fato é que ele aparentemente do dia para a noite se cansou desse tipo de vida e como o casal relacionado no outro relato, resolveu mudar de vida, mas continuou liberando esposa para fazer o que sempre haviam feito em conjunto. De inicio ela até que tentou, mas entrou em depressão profunda porque tudo havia perdido o sentido sem a presença do marido. Tivemos que trabalhar intensamente para que ela conseguisse sair dos cenários simbólicos primitivos no qual estava atada até chegarmos num ponto em que ela pode encontrar completude sexual diferentemente da tela em que ambos anteriormente estavam acostumados.
Para finalizar, certa vez recebi uma paciente super jovem e ativa em meu consultório. Melissa veio com a queixa de que algo estava muito errado com ela, em sua intimidade. Embora fosse uma profissional super bem sucedida, com uma vida social bastante intensa, conta que apenas chegava ao orgasmo quando literalmente se estapeava com os seus parceiros. O problema é que o que mais a seduzia eram os tapas dados na cara. Quando começou a trabalhar com hematomas no rosto entendeu que precisava de ajuda, a violência estava aumentando e ela, perdendo o controle. Em seu histórico conta que inúmeras vezes presenciou cenas dos pais de digladiando, aos tapas. Outras vezes, o próprio pai desferiu alguns tapas em sua cara. Possivelmente o seu cérebro entendeu a representação de afetos por este caminho enviesado….
Depois da fase da sedução que já contém revelações, os medos, as carências, as agressividades mal resolvidas e questões emocionais de toda ordem encontram um palco fértil para que, como num sonho, estes sejam passados e repassados com a parceria afetiva. As situações surgem como repetição, fixação de temas ou tentativas de se reprocessar determinadas cenas traumáticas de infância.
São temas que ocorrem sem a total consciência dos protagonistas e mesmos aqueles mais despertos, tem penas consciência parcial dos fatos quando não conseguem por si só se libertarem de tais cenários.
Dependendo da parceria do momento, as interfaces podem ser modificadas e quanto mais inconsciente e mais prejudicada emocionalmente a pessoa estiver, mais difícil será a sua auto percepção.
Se estiver se trabalhando interiormente e perceber-se envolvido numa relação que lhe causa desconfortos, observe a distancia o que pode estar ocorrendo e retire dessa vivencia uma oportunidade para crescer interiormente.
Observação: Embora a fonte dos relatos tenha sido inspirada pelo exercício da minha pratica em consultório, declaro que as historias são totalmente redimensionadas e absolutamente nada tem a ver com a realidade concreta dos meus pacientes.
Quanto mais despertos, melhor!
Silvia Malamud – Psicóloga – CRP: 06-66624 – Psicodinâmica –EMDR/Brainspotting – EUA – Abordagem Direta a Memórias do Inconsciente. Saiba mais.
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