AVI GELBERG, PRESIDENTE – POR GLORINHA COHEN
Pegue uma boa dose de simpatia e humildade e coloque-a num rosto com um constante e bonito sorriso de menino. Junte à arte de bem tratar as pessoas o dom de ser bom ouvinte e, ainda por cima, com a paciência que só os líderes sabem ter; acrescente o entusiasmo de quem se dedica ao trabalho comunitário desde criança à uma preocupação enorme com o futuro dos jovens da comunidade judaica, e teremos à nossa frente Avi Gelberg, o israelense nascido em Haifa e que dia 16 de abril completará 53 anos.
Com passagens por diversas das nossas instituições, em janeiro do ano passado ele assumiu a presidência do maior clube judaico do mundo: a Hebraica de São Paulo. E é claro que comandar um clube deste porte tem lá as suas dificuldades, mas as alegrias que Avi encontra ao ver o clube do coração cada vez mais cheio de gente, compensa qualquer sacrifício. Haja vista o interesse cada vez mais crescente pela Hebraica que está tomando conta dos associados com as inovações que estão sendo feitas, ocasionando finais de semana efervescentes.
Desafios? Evidente que ele os tem e ainda os terá pela frente. Mas quem, como Avi, que sabe bem que é fundamental mesclar a modernidade com a experiência daqueles que o antecederam no cargo, certamente fará de sua gestão, que irá até o final de 2017, uma daquelas que ficarão na história. Mormente contando com o apoio de uma diretoria capaz, jovem e corajosa o bastante para jamais esmorecer em seus objetivos.
Na reportagem abaixo, dada com exclusividade para este portal, Avi nos conta um pouco de sua vida, da fusão das escolas Alef-Peretz, do projeto de fazer um espaço de alimentação digno dos sócios, das mudanças dolorosas, mas necessárias, que estão acontecendo na área de concessões, e da vontade tremenda de proteger a coletividade judaica, transformando a Hebraica em um verdadeiro centro comunitário.
GC – Desde quando está no Brasil?
AG – Após conhecer minha esposa Denise em Israel, migrei para o Brasil em 1989, onde nasceram meus 3 filhos.
GC – Conte um pouco sobre você.
AG – Sou engenheiro mecânico formado na Universidade Technion e servi o exército de Israel de 1981 a 1985, tendo participado da Guerra do Líbano. Sou proprietário da empresa Syl, fundada em 1997, a qual possui fábricas em Sorocaba, Boituva e Itatiba. Hoje tenho cerca de 530 funcionários e a Syl é líder de mercado na área de sistemas de freios, exportando para toda América Latina, EUA e alguns países da Europa.
GC – Qual lugar do mundo mais aprecia?
AG – Minha casa, que é Israel, como israelense que sou. Israel é o lugar mais maravilhoso do mundo, em todos os sentidos. Você vai a qualquer lugar de lá e sente algo diferente, a força que emana de tudo. E é claro, também acho o Brasil um país lindo, abençoado por D´us, apesar dos pesares.
GC- Quando começou no voluntariado e qual foi seu primeiro trabalho?
AG – Na verdade, comecei quando era criança, lá em Israel, ajudando pessoas idosas. Sempre procurei dar um pouco daquilo que recebia da vida. E, aqui no Brasil, sempre me ocupei de alguns serviços sociais. Tanto que, na minha empresa desenvolvo vários projetos como o Formare, que ajuda jovens em sua formação profissional, ou aquele que incentiva a recuperação de presidiários, ou ainda outros em vários lugares carentes. Sempre fui muito voltado aos problemas sociais, pois em minha mente prevaleceu este ensinamento da tradição judaica, que é: “ se você salva uma pessoa, salva o mundo inteiro”.
GC – Você está sempre com um sorriso no rosto, apesar dos enormes desafios que enfrenta. Como consegue isto?
AG – Acho que, em primeiro lugar, precisamos ser sempre agradecidos por aquilo que temos. Enfrentamos, sim, coisas difíceis e desafios no dia a dia. Então, se a gente encarar tudo com um sorriso no rosto, tudo fica mais fácil para nós e para quem está ao nosso redor. Porque, quando você valoriza o que tem e trabalha para conquistar novas metas, você tem satisfações. E a gente tem que buscar essa alegria e, quando acordarmos de manhã, agradecermos a D´us por mais um dia de vida. Então, vamos celebrar sorrindo cada dia que passa.
GC – Mas, deve haver algo que o tire do sério, não?
AG – Tirar-me do sério é algo bastante difícil, pois sou uma pessoa bastante calma. Mas, posso citar a falsidade, pessoas que não são sinceras. Talvez elas não cheguem a me tirar do sério, mas me incomodam. Prefiro pessoas mais duras, que criticam, mas que lhe falam na cara o que pensam. Fora isto, acho que temos que tirar o melhor de cada pessoa com quem se convive.
GC – Em 2015, você tomou posse do cargo de presidente da Hebraica de SP . O que isto está significando para você? Por outro lado, é notório que sua gestão tem se empenhado muito em fazer eventos para jovens.
AG – Eu sinto uma vontade tremenda de proteger a coletividade judaica. Somos dezenas de entidades, cada uma puxando para um lado, sem uma linha mestra para se orientarem. Acho que é por isto que invisto muito nos nossos jovens. A verdade é que eles vão mais para o lado da religião, ou estão saindo da comunidade judaica, ou ainda estão no meio. E estou pensando nisto por quê? Se você olhar para a religião, tem uma linha clara, regras claras e o jovem precisa disto. Precisa de uma essência e na religião ele acha. E isto é uma coisa que falta nessa linha do meio. Se você quer ser parte da coletividade judaica, laica, não tem uma linha clara, você está procurando o tempo todo e não tem aonde pertencer. E aí no mundo rápido, com a internet e tudo que há ao redor da gente, a tentação de sair e ter muitos amigos fora da coletividade, faculdade, etc., é muito grande e em algum momento o jovem fala: “Não quero saber disto, não tenho nada específico dentro da minha coletividade”. Então, estamos perdendo muito e isto me fez pensar que precisamos de um projeto para atrair esses jovens. Acho que está na hora de acordar, de reunir pessoas influentes – e temos muitas em nossa coletividade – e focarmos nesse problema.
GC – E já foi feito alguma coisa a este respeito?
AG – Já começamos a fazer isto no ano passado com a CONIB, FISESP e outras entidades. Nós temos que pensar na Hebraica como um centro comunitário, como o palco para fazer esses projetos. E isto mostramos claramente no ano que passou acolhendo todas as entidades que precisavam de um local para realizar seus eventos; fizemos ver que a Hebraica tem um papel fundamental, que é realmente um centro comunitário e todo mundo tem que entender a importância dela. Isto até porque, se traçarmos linhas definidas para os jovens, nós vamos conseguir atraí-los de volta. Caso contrário, grande parte deles vai se assimilar. E nós temos um número decrescente de judeus assustador!
GC – No que se baseia para dizer isto?
AG – Já tivemos 100 mil judeus dentro da coletividade de São Paulo. Hoje, não temos mais que 60 mil. E pode ter certeza que um número significativo destes 60 mil nem se consideram mais judeus. Então, temos que ter uma linha bem clara daquilo que queremos, ter projetos um pouco mais audaciosos que nos unam e não que cada um vá puxar para um lado, cada um para uma linha.
GC – Corre boato de que a culinária do clube será totalmente casher. Isto é verdade ou só boato?
AG – Não existe esse projeto. É apenas boato. A Hebraica é um clube judaico, mas é o mais aberto possível, pois há comida casher para os mais religiosos, e não casher para quem queira. A Hebraica é a porta aberta, é a última madeira do mar para alguém se apoiar antes de se afogar. Por isto, falo da importância do nosso clube para as pessoas que têm possibilidades financeiras e estão se afastando e lhes pergunto: vocês imaginam nossa coletividade sem a Hebraica? Imaginam onde irão se apoiar quando precisarem de alguma coisa? É aqui. Então, vamos cuidar desse patrimônio que é da coletividade judaica.
GC – A fusão das escolas Alef e Peretz, que começará a funcionar em 2017, já está causando muita polêmica entre os sócios. Qual a vantagem de se trazer mais uma escola para a Hebraica?
AG – Primeiro, o associado e a coletividade têm que entender que o nosso futuro é a educação. Nós temos que ter uma escola forte, no sentido de fazer frente à uma Bandeirantes, ou Santa Cruz, por exemplo; uma escola de excelência, como hoje é o Hospital Albert Einstein. E isto tem, sim, vantagem para o sócio, pois os filhos, os netos, vão ter aonde estudar e passar o dia. Hoje, temos no Alef alunos que chegam aqui de manhã e só voltam para a casa à noite já limpos, jantados, com a lição de casa feita e prontos para dormir. Estamos oferecendo tudo dentro do clube e isto é a importância da escola.
GC –Argumenta-se que mais 400 a 500 crianças circulando pelo clube iriam atrapalhar o convívio e trajetória dos sócios, além de áreas de lazer que eventualmente seriam perdidas.
AG – E vai ter o incômodo de mais 400 ou 500 crianças? Primeiro, acho que o projeto tem que ser muito bem elaborado. Daí o impacto para o sócio será menor. Garanto que vamos continuar sendo um clube com uma escola dentro, e não uma escola com um clube dentro, como dizem algumas pessoas. Este é nosso objetivo e estamos estudando com muito cuidado o projeto para deixar a área das escolas influir cada vez menos no convívio e na trajetória do sócio. E tem mais. No futuro, esses alunos e seus pais serão associados da Hebraica, irão participar das nossas atividades. A gente tem que ver que cada vez que entra um aluno novo, entra também mais um sócio no clube, pois estamos educando a criança de que aqui é a casa dela. Portanto, é preciso olhar para a frente e ter, às vezes, um olhar menos egoísta.
GC – Que projetos importantes foram implantados até agora?
AG – Posso citar na área administrativa, onde fizemos um orçamento para 2016 de uma maneira bem “pé no chão”. Estamos analisando e valorizando cada item desta e de todas as outras áreas do clube para ver a necessidade e o volume de investimento que precisamos fazer. E assim pretendemos conseguir um equilíbrio onde o sócio possa ter um clube vibrante, com muitas atividades, mas sendo sempre observado economicamente.
GC – E quanto à área de concessões, onde parece estar havendo mudanças substanciais?
AG – A área de concessões realmente é um trabalho muito longo e cansativo. Nós temos que tornar essa área mais atrativa, pois hoje ainda estamos devendo muito quanto a isto. Conheço muitos sócios que saem do clube para comer no shopping e isto é o que não queremos. Nosso objetivo é ter sócios que digam: “Hoje vou almoçar ou vou jantar no clube”. E isto será uma das motivações para trazer as pessoas para dentro do clube. Começamos a fazer isto o ano passado e é também um trabalho doloroso, pois temos aqui concessionários de muitos e muitos anos. E quem não se enquadrar vamos ter que, infelizmente, tomar atitudes com muita tristeza. Mas, acho que o objetivo final de dar ao sócio uma área de alimentação decente e fazer dela uma atração, nos obriga a tomar todas as medidas necessárias.
GC – Qual a mensagem que daria a quem quer ser voluntário?
AG – Paciência. Precisa ter muita paciência e olhar o futuro. Eu falo que, muitas vezes, o voluntariado começa com o trabalho que fazemos para os nossos filhos, mas acaba com o que a gente faz para os filhos dos outros. Então, acho que é isto que temos que entender: o que queremos para nossos filhos, temos que querer para os filhos dos outros. E é isto que move o voluntariado.